A Lição da Faixa de Gaza
Um enorme sentimento de impotência se apodera da gente quando tomamos conhecimento do que acontece em certos lugares do mundo. Como, por exemplo, na Faixa de Gaza, “a área de maior densidade populacional do planeta”, onde cerca de um milhão e meio de pessoas são constantemente humilhadas e sujeitas a “ferozes e arbitrárias punições”. Entre outras coisas porque:
estão 24 horas por dia sob a vigilância de “um dos mais avançados sistemas militares do mundo” sob o comando dos EUA e Israel;
estão sujeitas a um bloqueio ininterrupto que lhes impede o acesso a remédios e serviços de saúde. E também proíbe a reconstrução de sistemas de esgoto e energia, destruídos por bombas e mísseis americanos e israelenses, o que torna impossível a pesca em águas não poluídas; e
pelas restrições ao seu direito de “ir e vir”, o que lhes deixam muitas vezes sem condições de estudar em centros mais avançados ou serem atendidos em hospitais melhor equipados, vindo a falecer em decorrência dessas proibições.
Observa-se então que “Gaza permanece sob apertado sítio marítimo e aéreo e fechada para qualquer capital cultural, econômico ou acadêmico que venha do resto dos territórios palestinos”. Tudo porque, na reivindicação do seu direito básico de existência, sua população resolve, por exemplo, votar “no lado errado”, elegendo o Hamas como a sua representação. O que aconteceu em janeiro de 2006 e fez com que o governo norte-americano imediatamente recorresse ao “procedimento operacional padrão para momentos em que populações desobedientes elegem o governo errado: preparam um golpe militar para restabelecer a ordem”.
Isso já temos presenciado por aqui, com países integrantes do chamado Cone Sul, dentre os quais o Brasil. Quase todos eles vítimas de golpes, perpetrados em geral por suas próprias forças armadas, sob a orientação, supervisão e apoio estadunidense. À exceção talvez de Cuba, que continua desobedecendo aos ditames de Washington. E sofre por isso, há mais de quarenta anos, um bloqueio econômico injusto e infame.
Dois doutores noruegueses, Mads Gilbert e Erik Fosse, à época trabalhando no principal hospital de Gaza, autores do livro Eyes in Gaza, nos dão conta do que foi a Operação Chumbo Fundido, “um dos mais covardes e perversos exercícios de poder militar” levados a efeito na região com o apoio das armas e da diplomacia estadunidense. Ação responsável por um verdadeiro morticínio – ou infanticídio – na Faixa de Gaza.
Como inferimos do que relatou recentemente o jornalista Rolando Segura, da TeleSur*, o que aconteceu ou acontece em Gaza, o que testemunhamos pela televisão na Síria, o que ocorreu na Líbia e no Iraque, etc., interessa a nós brasileiros. Pois se acharmos que devemos nos manter independentes em relação a poderosas forças externas, não devemos subestimar a possibilidade de nos depararmos com uma reação com chances de estar acompanhada de alguma ou pesada atividade bélica.
O povo de Gaza parece ter sido escolhido para punições especialmente cruéis. Em seu livro A Terceira Via, escrito há trinta anos, Raja Shehadeh “relata seu trabalho como advogado empenhado na tarefa de tentar proteger direitos elementares num sistema legal feito para ser insuficiente”, além da sofrida experiência de ver sua casa transformada em prisão, por violentos ocupantes, sem que nada pudesse fazer.
Dessa forma, é importante que estejamos informados. Que todos possam ter acesso a livros como os referidos, a publicações que nos ofereçam informações confiáveis e imparciais sobre os vários conflitos no Oriente Médio e em todo o mundo e, enfim, ao que dizem aqueles que se posicionam mais ao lado dos agredidos. Já que pelos agressores se manifestam normalmente os periódicos que mais conhecemos, ou talvez mais fáceis de se adquirir e acessar, e a mídia televisiva que à toda hora adentra nossos lares.
Rio, 26/12/2012
Aluizio Rezende
* A TeleSur (Televisión del Sur), canal sem fins comerciais ou de lucro, é uma alternativa comunicacional para toda a América Latina e Caribe, em resposta à hegemonia das grandes corporações americanas, como a CNN e outras. Acesse www.telesurtv.net.