A NOSSA SANTA TENTAÇÃO AUTORITÁRIA
A América Latina é sempre complicada. Nunca resolve seus problemas sem recorrer a autoritarismos; sejam eles de direita ou de esquerda. A lista é enorme vai desde Fidel o periquito engalanado de Cuba, eternamente aferrado ao poder, ao falecido coronel falastrão Hugo Chávez da Venezuela, até as protoditaduras como as do Equador, Bolívia e Argentina. Para não falar da terrível ditadura de Pinochet no Chile e a ditadura militar da Argentina. Por aqui, mal saímos de uma ditadura e logo eles os "arautos" de um Brasil, "democrático" e "ético", querem enfiar na gente uma ditadurazinha invisível, uma ditadura a La Gramsci, sob o signo do aparelhamento sistemático e na "tunga" de todos nós, através da concepção autoritária de "hegemonia"; isto é uma coisa muito séria, pois por trás das “boas intenções”, da “nobreza de ideais” se esconde um esqueleto autoritário e antidemocrático que tem bases no leninismo e no stalinismo. Essa concepção de poder quer fazer do Brasil, infelizmente, uma Argentina, um Equador, e quem sabe uma Venezuela ou uma Cuba. Antes achava essa conversa "estapafúrdia" e “papo de direita”, mas o que se assiste é a fascistização do Brasil. Uma hibrido de caudilhismo com fascismo; onde a população caminha para a tutela do partido, sem que haja intermediação dos meios de comunicação “burgueses” e de “direita”, mas apenas do partido que quer torna-se o grande aparato a serviço de interesses nada democráticos. Isto é complicado porque a livre expressão fica tolhida, pois mesmo que tenhamos uma imprensa "tendenciosa", e toda ela é de alguma maneira, ficaríamos alijados do contradito, do debate, onde ao invés de uma mídia "mais ou menos livre", teremos uma imprensa submetida ao aparelho estatal. Essa gente ainda fala da ditadura, como se eles não gostassem de uma. A democracia que querem imprimir é uma democracia onde todo o processo é conduzido pelo partido e isto é uma coisa muito complicada. Os brasileiros muitas vezes incautos e pouco dados a uma discussão mais profunda estão sendo presas fáceis desse projeto hegemônico, autoritário e "invisível". Como milhares de pessoas nesse país eu também já fui petista, acreditei na Igreja Universal do Reino de Lula hoje tenho certo receio de dar meu “dizimo”, ou meu voto. Recentemente a camarada Cristina Kirchner criou tal de ministério da "consciência nacional" que objetiva passar pelo filtro do estado, a produção cultural do país, quem sabe se daqui a pouco não criam coisa parecida por aqui. Mas como iniciei esta conversa, temos uma tradição autoritária e nunca buscamos o consenso e o entendimento para de fato resolver nossos problemas que não são poucos. A República se iniciou com um golpe do marechal Deodoro em 1889, depois tivemos A República do Café com Leite (1897-1930) e seus governos oligárquicos, centralistas e autoritários, que viam a questão social como "caso de polícia”. Para variar, durante a década de 1930, assistimos a subida de Vargas e a montagem de uma ditadura populista, que foi de 1937 até 19945, depois tivemos um ínterim democrático que a duras penas chegou até 1964. A partir daí mergulhamos numa aventura antidemocrática de direita que vigorou até 1984. Agora depois de 30 anos do fim da ditadura, o PT passa a dar passos sutis e decisivos para imprimir a nação uma ditadura civil e antidemocrática em seus princípios e métodos. Além do que o aparelhamento de instituições que bem ou mal podem exercer um papel importante no fortalecimento de nossa democracia, como o Congresso Nacional, o STF e a própria Polícia Federal, tem se tornado uma constante. No STF, com exceção de dois ou três ministros, a grande maioria do atual colegiado foi indicada pelo PT. O partido acha que por isso ele lhes deve favores. De outro lado, os ataques sistemáticos a única figura que resolveu ter coragem de peitar e de fazer valer a lei, o Ministro Joaquim Barbosa foi achincalhado por alguns militantes petista, ao chama-lo de "capitão do mato" e de outras alcunhas nada honrosas, e de ainda ter sido alvo de ameaças de morte, realizadas por alguns militantes exaltados. Tudo isto porque uma vez julgado o processo do Mensalão, depois de todos os trâmites legais, provas e contraprovas, e de ter sido amplamente debatido, o Ministro fez o que qualquer juiz sério faria que é aplicar a lei. Diante da materialidade das provas, dar o veredito. Mas como alguns petistas se veem acima da lei, pois o processo “revolucionário” os isenta de qualquer "culpa" ou remorso, então que se mande ao "paredón" o Ministro, defenestre-o, atinja-o em sua honra e decência, e assim como manda a velha cartilha autoritária se fez. Parece até que foi o ministro fez algo de errado, por ter, diante de provas incontestes, aplicado a lei. Mas na cabeça de alguns militantes , ousar colocar na cadeia os seus "heróis”, Zé Dirceu e seus comparsas e com ele, o projeto político hegemônico da cúpula do PT, seria demais. Enfim, o Brasil está ficando um país perigoso e também muito estranho. As teorias "conspiratórias" mistificam a verdade. É muito comum em certos seguimentos religiosos ouvir-se falar numa tal de conspiração a respeito de tudo. Tudo tem por trás o diabo manifesto. Entre alguns petistas é a mesma coisa: adoram uma teoria conspiratória toda vez que uma verdade vem à tona. Nunca se voltam para si e fazem uma autorreflexão sobre métodos e práticas políticas. Enquanto isto seus “pastores” andam de jatinhos pra cima e para baixo, comem do bom e do melhor, fumam charutos cubanos e os desvios éticos se tornam um padrão e advogados bem pagos colocam o dedo em riste contra um ministro do STF e fazem ameaças veladas. É preciso muita sensatez e olho clínico para compreender e se posicionar diante desta realidade tão nebulosa que estamos assistindo, mas acredito que tudo isto é um teste para nossa frágil democracia e ainda tenho esperanças de que um dia nos lembraremos destes tempos como tempo passado. Fico triste de ver jovens sem leituras adequadas, sem fazer uma reflexão histórica séria e responsável à defender o que o marxismo tem de pior: o autoritarismo. O marxismo passou por uma revisão séria depois das críticas ao stalinismo feitas por Kruchev, e as realizadas por intelectuais como Habermas, Camus, dentre outros, aos métodos e práticas stalinistas. Parece que essas críticas não tem eco na cúpula do PT e em parte das esquerdas tupi. O que prevalece é certo ranço autoritário que serve, apenas, a interesses que reforçam o que temos de pior: a nossa tendência a ditaduras e autoritarismos. Passamos por experiências traumáticas antidemocráticas de direita, agora quem sabe adentraremos num período de experiências autoritárias de esquerda. De que adianta dá o pão se se atenta contra a liberdade e a legalidade duramente reconquistada? Sabemos que a política no Brasil tem sido coisa de homens baixos e vis, infelizmente tornou-se um grande negócio; talvez tudo isto sirva de lição para que no futuro tenhamos acima de qualquer coloração partidária ou verve ideológica, a ética e a decência e a valorização da democracia como primado da política, essa arte nobre que em sua essência, liga-se ao interesse comum e não aos interesses de grupos. Por mais que os xingamentos de baixo calão proferidos a presidente Dilma na abertura da copa, sejam deploráveis, mas é sabido que em estádios se fala mal até a mãe do juiz; mais deploráveis são os ataques sistemáticos à ordem democrática implementada por setores do PT e de aliados; ordem democrática, aliás, que o partido teve papel fundamental na restituição ao povo brasileiro.