A Copa e o Patriotismo
“Minha pátria é a Língua Portuguesa”, disse Fernando Pessoa. De fato, esse me parece o conceito de pátria mais interessante e apetecível, justamente por distanciar-se daquele conceito tradicional de patriotismo, que enfatiza sobremaneira a questão política – o pertencimento a um Estado Soberano – em detrimento da questão cultural – o pertencimento a uma nação, a um grupo de indivíduos unidos em função de uma origem, uma história, um idioma em comum.
Infelizmente, eventos como a Copa do Mundo suscitam o tipo mais tosco e imbecilizante de patriotismo – aquele que se pauta, como dito, por questões meramente político-territoriais. Esse é, também, o tipo de patriotismo que, como exemplifica a História, costuma se transformar em ufanismo exacerbado, muitas vezes através da influência de um Governo mal-intencionado.
Nesse sentido, talvez seja interessante lembrar que, em 1970, no auge da Ditadura Militar, a conquista do tri-campeonato mundial de futebol pela seleção brasileira foi usada, pelo Governo, a fim de suscitar no povo um sentimento patriótico intenso e grandioso. Naquela época, militantes da esquerda, opositores do regime, criticaram duramente tais ações de “manipulação das massas”.
Engraçado é perceber que hoje, passados quase 50 anos, alguns daqueles militantes de outrora, tendo chegado ao Poder, se valem do mesmo tipo de ardil manipulador a fim de desviar a atenção do povo das mazelas que afligem o país. Curioso, não?