O GIGANTE FRAGILIZADO
* Kleber Sobrinho
Texto produzido em 22/05/2014
Deitado eternamente em berço esplêndido. País imenso, colosso, de natureza exuberante, um generoso presente dado pelo Altíssimo. Nada mais do que grandioso. Esse é o nosso Brasil, poeticamente exaltado na letra do Hino Nacional, da autoria de Joaquim Osório Duque Estrada. De culturas e raças diversificadas, onde prevalece o espírito de um romântico orgulho patriótico.
Descoberto e cobiçado há quinhentos e catorze anos, vem atravessando, por décadas, várias crises quer seja institucional, social, econômica, política ou educacional.
A sua fragilidade se encontra em todos os setores. Não há mais o que ignorar. A mídia nacional apresenta cotidianamente fatos negativos, que têm como pano de fundo uma crise moral, o desrespeito pelos direitos mais sagrados do cidadão, que tem como nascedouro uma distorção social, política, educacional ou econômica.
Não mais existem dúvidas de que estamos caminhando para o caos irreversível, incontrolável, irremediável, se não houver medidas não paliativas, mas solucionáveis para os problemas. Nada mais assustador do que ficarmos impotentes e vulneráveis diante desses acontecimentos que nos empurram para o abismo sem volta. São fatos e mais fatos negativos que nos tiram o orgulho de sermos um povo ordeiro, pacífico e obediente à lei e à ordem. A violência, a corrupção, o desrespeito às leis, a violação dos direitos humanos, os desmandos na política, tudo isso somado à impunidade nos eleva para o patamar dos países mais corruptos e injustos do mundo.
O inferno dantesco instalou-se em nosso país. Os nossos valores morais estão se esvaindo, dando lugar à inversão do que é correto. Estamos vivendo a plena e clara inversão de valores, decorrente da política moderna de “educar”. A modernidade nos cobra isso. A mentalidade de ser muito correto é sinônimo de ser ingênuo. Ser “esperto” é ser “inteligente”. Que o digam os políticos desonestos, que se apropriam indevidamente do erário público com a certeza de que seus atos ímprobos ficarão impunes, simplesmente pela morosidade da justiça ou conivência de muitos (devemos nos lembrar da recente absolvição do ex-presidente Collor de Melo pelo STF por falta de provas e pela prescrição). E algumas vezes, nossas atitudes se assemelham a esses representantes populares. Queremos tirar vantagem em tudo. Não importa o detrimento do nosso semelhante. Acreditamos falsamente que o problema do outro está muito longe do nosso alcance, e não poderá nos atingir. Insistimos em ignorar os problemas alheios e continuamos a cuidar da nossa vida, como se não existisse um processo cíclico e ele não nos levasse, em algum momento, a sentir a consequência direta ou indireta de nossas ações e omissões em relação aos nossos semelhantes.
Agora, pergunta-se: Em que situação nos encontramos, afinal? Olhando os ângulos de modo geral, encontramo-nos em desespero, em virtude da fragilidade do nosso torrão pátrio, em virtude da falência das instituições públicas. Falência na saúde, educação, segurança e em outros setores essenciais à nossa sobrevivência. Sentimos a presença da instabilidade coletiva ou individual, que causa indignação geral, um verdadeiro tumulto social, redundando em protestos populares com resultados desastrosos e ações de facções criminosas, até mesmo com finais trágicos (vejamos os casos de vandalismo com ônibus incendiados, causando vítimas fatais, como a morte da menina Ana Clara, aqui em São Luís).
E não vemos, nesse pandemônio todo, que se instalou no Brasil, quaisquer medidas a curto ou médio prazo, já que o cerne da questão reside tão somente na negligência, na omissão ou na efetiva conivência dos que detêm o poder.
O que nos resta é a concepção de não perdermos a vontade de lutar, sempre lutar.
São Luís/MA, 22/05/2014
* José Kleber Neves Sobrinho é professor e advogado graduado pela UNIVERSIDADE FEDERAL DO MARANHÃO (UFMA).