Gaius Julius Caesar, o marido de todas as mulheres e a mulher de todos os maridos

No ano de 43 a.C nascia Gaius Julis Caesar patrício romano, oriundo de família das mais nobres e que além de tudo se arvorava de ter uma descendência divina por parte da deusa Vênus. Escritor refinado, político astuto, gênio militar, grande orador, que segundo Plutarco só foi mesmo suplantado por Marco Túlio Cícero, por ter preferido se dedicar às suas conquistas militares deixando esse talento em segundo plano.

Conta-se que em sua juventude levou uma vida de dissipações. Era um libertino. Um hedonista. É surpreendente que em sua maturidade tenha se conduzido (menos em relações às mulheres) de uma maneira relativamente frugal, a ponto de Catão, grande personagem senatorial dizer que César era um dos poucos personagens que tramavam contra a república em jejum.

Ainda assim, para aqueles mais sagazes, como por exemplo, Lucius Cornelius Silla havia um quê ambição em seus modos ainda jovem, seus atos, a maneira como se comportava em relação à plebe, sempre comprando seus favores através de espetáculos aduladores, mesmo que para isso se endividasse, tudo isso levou esse ditador a profetizar que em César havia muitos Marios, general de Roma, que junto com Sila tentou destruir a já combalida república romana com uma guerra civil das mais borbulhantes, e que banhou a cidade de sangue em uma luta fratricida entre partidos opostos.

Quando Sila morreu, a ditadura implantada por ele foi posta de lado. Os poderes do Senado foram restabelecidos, no entanto, ainda havia patrícios romanos à espreita ávidos pelo poder absoluto e entre eles Julio César, ainda pouco poderoso, mas que já acalentava estar acima dos demais.

A política romana durante esse período era um jogo pesado, para aqueles que efetivamente tinham estômago e meios. Havia compra de votos, havia linchamentos, assassinatos, alianças faziam-se e se desfaziam ao interesse do momento. Existia também um sórdida campanha difamatória contra adversários. Os senadores eram férteis em promover frases em que expunham seus antagonistas ao ridículo, eram mordazes, maliciosos. César mesmo foi alvo desse tipo de processo por ter, segundo seus inimigos, se prostituído ao rei Nicomedes da Bitínia em um período em que se hospedou na corte desse monarca. Chamavam-no de a prostituta da Bitínia, aquele que depois de amar um rei, amava agora a realeza. Cícero em uma sensacional tirada, conforme é relatado por Suetônio, um dia em que César advogava a causa de Nisa, filha de Nicomedes, e recordava todos os benefícios recebidos desse rei lhe disse malignamente:

"Deixa tudo isso, te suplico! Sabemos bem o que ele te deu e o que tu próprio lhe deste!"

Mas a despeito dessa nota de maledicência, o certo é que César amou muitas mulheres, refestelando-se no adultério e não tendo escrúpulo algum em dormir com as esposas de seus adversários políticos. Faceta sua essa tão conhecida que seus soldados entoavam gostosamente esse dístico por ocasião do triunfo das Gálias:

"Romanos, guardai vossas mulheres:

nós conduzimos o calvo adúltero.

O ouro que dissipaste em concubinas nas Gálias,

foi aqui que o tomaste de empréstimo".

César, ao que se sabe, fazia muito pouco caso desse falatório. Continuou em toda sua carreira urdindo meios de se tornar senhor de Roma. Teria, segundo plutarco, participada ativamente da conjuração de Catilina e por muito pouco não teve seu nome envolvido nessa conspiração. Depois conseguiu que os dois políticos mais poderosos de Roma, Crasso e Pompeu, que se odiavam, fizessem as pazes, unindo-se a ele no que foi chamado o Primeiro Triunvirato. Depois, graças à influência de ambos, conseguiu a indicação e um exército para governar as Gálias, onde ficou por mais ou menos dez anos aumentando as fronteiras de Roma e o seu poder político, monetário e militar.

Quando todos se deram conta ele já era forte demais para ser abatido politicamente. Atravessou o Rubicão com o seu Alea Jacta Est. Venceu Pompeu em Fársalia, subjugou ou foi subjugado por Cleópatra em Alexandria. Ganhou uma batalha de maneira tão rápida e contundente, que sem nada mais a dizer proferiu: Veni, Vidi, Vici. Liquidou os exércitos dos filhos de Pompeu na Espanha, que ainda lhe faziam oposição, bem como alguns outros nobres romanos, que juntos com o Rei Juba, na Africa, ainda esperavam derrotá-lo. Por ocasião dessa última batalha morre, suicidando-se um dos maiores opositores de César, Marco Pórcio Catão, trespassando-se com uma espada e selvagemente arrancando com as mãos os próprios intestinos para que ninguém pudesse salvá-lo.

Quando tudo isso acaba César volta para Roma. Perdoa muitos dos seus inimigos, dentre eles: Cássio, Bruto, Cícero. E em meio a todo esse turbilhão político mostra-se um estadista dos mais dotados, e por que não dizer genial, reorganizando o calendário, o sistema politico, a economia, justiça, saneando os pântanos montinos. Tinha ainda o projeto de fazer guerra ao Império Parta, que havia infligido uma derrota humilhante às legiões romanas sob o comando de Marcus Crasso, confiscando inclusive os estandartes romanos, o que para eles era a desonra suprema.

No entanto, surpreendentemente foi assassinado no esplendor do seu poderio, tombando, apunhalado em pleno Senado, por vinte e três estocadas, caindo inerte sob uma estátua de Pompeu, primeiramente seu aliado, sogro e depois inimigo, num lance lancinante digno de uma tragédia de Shakespeare, mas antes do seu último suspiro proferiu as célebres palavras:

Tu quoque, Brute, filii mei!