Panis et Circenses
Por: Anderson Du Valle
Existia um reino em que o Rei era contestado por sua incapacidade administrativa. Um Rei que apesar de ter contado com o apoio de seus súditos para assumir o poder, preferiu se alinhar aos poderosos, criando taxas e aumentando impostos, permitindo que o povo que o apoiou permanecesse subjugado a sua miséria, a mercê da própria sorte.
Mas o Rei, embora não gozasse de grande sabedoria, trazia consigo a índole lasciva dos grandes sedutores e conseguia manter-se ileso e forte ao promover farta distribuição de migalhas aos menos favorecidos. Contudo havia nos corredores do palácio, rumores de uma oposição atuante, que aparentemente defendia os interesses da plebe e se posicionava contra as medidas populistas do monarca. Porém, o Rei, dotado de carisma e alegria, lhes ofereceu uma grande festa, com artistas renomados de todo o mundo, com muito luxo e pompa, fazendo com que arrefecesse os rompantes de patriotismo que germinava em seus opositores, tanto que às vésperas da chegada do espetáculo circense, seus maiores verdugos chegavam a pedir para a população não se rebelar, não estragar sua festa, para que então a imagem do Reino, já tão maculada, não passasse a ser definitivamente exposta a todos os demais impérios. O mais interessante é que essa mesma oposição já tem seus camarotes vips garantidos, para então se revoltarem somente após os visitantes consumirem as reservas do reino e voltarem empanturrados para suas terras longínquas.
Ah! Mas nos resta a parte da população que prefere alimento e água, cuidados e locomoção, trabalho e vida digna, não são poucos, é verdade, porém, embora sejam taxados de anarquistas e vândalos nas canções entoadas e vendidas por todos os rincões, de alguma forma irão mostrar as suas caras e devem deixar claro o seu recado.