O Mago Saramago
Lembrando que ele foi ridicularizado pela Igreja Católica após a publicação do seu “O Evangelho Segundo Jesus Cristo”, pode ser que muitos não achem, mas é interessante aplaudirmos Saramago quando disse que “os EUA conseguem ter bases militares em quase todos os países do mundo, enquanto nenhum país do mundo tem uma base militar em território americano”.
Tem eleição amanhã na Colômbia. Mas o que isso interessa a nós, brasileiros, às voltas e reviravoltas com a Copa do Mundo?
Dos dois principais candidatos à presidência foram apoiados pelo ex-presidente Álvaro Uribe. Dentre eles, Juan Manuel Santos, atual presidente, “decidiu abandonar a política linha-dura de seu antecessor, e aplicada por ele quando à frente do Ministério de Defesa”, e partir para uma solução que priorize o diálogo.
Segundo uma fonte diplomática brasileira, “para o Brasil, a questão mais importante desse resultado eleitoral é a aposta na saída política para o conflito armado”. E por que?
Conhecida por nós, através da infalibilidade da propaganda midiática, como um organismo envolvido com o narcotráfico e tráfico de armas, talvez a razão principal do conflito estabelecido há meio século entre as FARC (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia) e o governo colombiano seja a política de reforma agrária. Política que se tentou implementar, ou pelo menos discutir, no Brasil, a partir de 1961, (presidente Jânio Quadros) e que até ainda hoje não se consolidou.
Segundo a BBC Brasil, “há 18 meses, Santos e as FARC negociam um acordo de paz, que entre outros aspectos discute a execução de uma política agrária – ponto central da guerra”. Ou do conflito armado colombiano.
Ora, todos sabemos que a Reforma Agrária, nos termos da Constituição de 1988, pressupõe a “desapropriação do latifúndio improdutivo para finalidade pública e de interesse social”. Permitindo a criação de reservas ecológicas, além do acesso de colonos e camponeses, com a sua mão-de-obra rural, a terras improdutivas. Um fator de desestímulo ao êxodo rural.
Acontece que essas abundantes extensões de terra improdutivas estão nas mãos de grandes proprietários, dentre os quais podemos eventualmente encontrar senadores e deputados, ou ex-presidentes da república, cujos nomes a mídia não nos permite esquecer. E que não nos deixam outra significação para “latifúndio” diferente de “um sistema de poder pela manutenção do controle da terra”.
Fica fácil então para os grandes proprietários de terra, em defesa de seus interesses latifundiários, que eles procurem ressaltar o envolvimento das FARC com o narcotráfico e com o tráfico de armas em detrimento da execução de uma política de reforma agrária.
A preocupação do governo brasileiro, mais do que justa, por sinal, é que a “internacionalização” do conflito armado colombiano possa gerar o aumento da presença militar norte-americana na Colômbia, com a ampliação do número de bases militares dos EUA na região.
O que nos remete ao grande Saramago.
Rio, 24/05/2014