Saudades de uma falsa felicidade!
“Aí, meu Deus, que saudade da Amélia. Aquilo sim que era mulher.” Essa letra escrita na década de 70 por Ataulfo Alves e Mário Lago a época retratava a mulher vassala, súdita, subordinada e dedicada aos afazeres domésticos. E nesse período, durante a Era Vargas, não era bem vista. Para o sistema a proposta de enaltecer o “malandro” e não ao trabalhador, o pai de família ou a própria dona do lar era algo fora de questão. Essa polêmica a tônica da própria letra para os próprios autores de nada valia, pois o verdadeiro propósito era homenagear Dona Amélia dos Santos, lavadeira de Aracy de Almeida.
Passado a explicação sobre esse trecho dessa letra histórica e tão cantada por grandes intérpretes, fez-me lembrar de outro dito popular que ouvimos diversas vezes: “eu era feliz e não sabia”. Quando iniciei o texto falando sobre a Amélia, não foi atoa foi proposital, hoje essa Amélia diferente daquela época, retrata a sociedade cansada, sem esperança, revoltada com essa política encaminhando para um populismo, cujo poder está cada dia concentrado em um único, ou melhor, em um conjunto de pessoas.
Visto, por todos há pouco tempo, caras pintadas, auxiliados e conduzidos pela oposição, conclamando o processo de cassação, do então, Presidente Collor de Melo, numa “só voz” gritando pelas ruas, uma palavra inglesa “Impeachment”, nome diferente e pouco conhecido para uma coisa tão simples, impugnação do mandato daquele que não atendeu os anseios do povo. As mesmas “caras pintadas” que, a época, opuseram-se as polêmicas desse presidente, da famosa Casa da Dinda por práticas de “magias negras” (por sua esposa Rosane e uma ex-Mãe de Santo Cecília), fatos que só quem esteve realmente presente poderia evidenciar a verdade, nada foi comprovado. Hoje, são aqueles que estão no sistema e que usaram as verdadeiras caras pintadas para eleger-se e vir com uma proposta melhor, algo que poucos estão realmente vendo. Apesar de que, Collor elegeu-se pautado numa atuação menor do Estado sobre a economia, em contrapartida do que rezava o outro partido por uma atuação mais forte do Estado sobre a economia entre outras coisas que estão sendo evidenciadas na atualidade.
Hoje, por ironia do destino, não aqueles caras pintadas estão às ruas, pois muitos nem viveram aquele período histórico, hoje são novos jovens revoltados com o sistema, indignados com as polêmicas, escândalos, incoerências e destinações das verbas públicas. As caras pintadas foram substituídas por mascarados, os denominados “Black Blocks” que ironicamente na linguagem técnica da informática há um termo semelhante “Bad Blocks” que são os setores defeituosos, mascarados e enganados. Inversamente no que acontece na informática em que esses setores têm papel de dificultar seu funcionamento, aqui na sociedade tem a função de desmascarar o mascarado, para que o povo enganado veja o que foi escondido. Que fique claro que o posicionamento de alguns mais exaltados não devem ser colocados como certos, pois, baderna, depredação, selvageria e vandalismo nada acrescentam a luta por direitos e garantias.
Sem querer fugir da “saudade” já mencionada de que a sociedade “era feliz e não sabia” nada mais é de que a cada dia que passa aquele que vem mostrando-se melhor e deixa saudade do que já vivemos. Esse sentimento que paira a saudade do passado, nada mais é a prova de mudanças inevitáveis do presente para um futuro, não descrito como perfeito, mais classificado como melhor. A sociedade a-politizada que não admira discussões de caráter político necessitam mudar essa visão e aprofundar nas veredas dessa discussão, pois o não querer participar da política é abdicar dos seus direitos e deixar na responsabilidade de outros, esse direito. A sociedade precisa parar de ficar com saudades do passado, querer e buscar uma nova felicidade, só que a verdadeira e que mereça sua saudade não por ser o “melhor” do que já passou e sim por representar a você realmente.