Lula no Incêndio de Roma
Luciana Carrero*
Venho bater num assunto delicado e que é polêmico dentro do Partido dos Trabalhadores, que está atiçando a oposição a fazer mais baderna do que já faz, para precaver-se, porém considero que Lula é hoje o ás que deve ser usado agora, e não o eventual coringa de última hora. Esta não é ideia minha, mas que aprovo. Deixar o governo atual desgastar-se e entrar em queda livre até à eleição, é assumir a temerária posição de avestruz que enfia a cabeça no buraco e oferece a retaguarda para ser atacada. Então já será tarde.
O mandato atual do PT poderia só estar como figurante na eleição, por enquanto, mas parece não assimilar isso. Lula terá de voltar agora. Acho que já deve começar a cultivar a barba. Politicamente falando, os atuais quatro anos que vivemos, entrou para ser de transição, e ainda pode-se suportá-lo na perspectiva de esperar a volta de Lula.
A atual presidência está sendo atacada por todos os lados, e enfraquecendo, dia a dia, cada vez perdendo mais terreno, pela frouxidão que não toma posições fortes para atender, naquilo que o povo clama, e tende a auto-destruir-se, colocando tudo a perder.
A presidência está abrindo espaço para os candidatos de direita e esquerdas outras unidos num partidão, o PCD (Partido contra Dilma) que chegam com uma política semi-fascista e de flagrante retrocesso, que agrada ao povo sedento por reformas, que não vêm! porque falta atitude.
Este cenário gera o reinado do justicialismo, tanto no populismo interesseiro e politiqueiro de um próprio do judiciário que busca uma liderança híbrida e incompativel com a dignidade do seu status, quanto na justiça à força do povo. Campanhas de ódio e desunião dos brasileiros proliferam na atmosfera virótica que a tudo corrói.
O governo anuncia sucessos e obras, e mais, arrota riquezas do Brasil, mas o eleitor não está vendo retorno disso para a sociedade. Este estado humilha o povo, que, em contrapartida, move-se rápido na Internet. E pode preconizar o fim do sonho de Lula, em menos de 24 horas, através das Redes Sociais.
E Lula vai ficar adejando em conferências pelo mundo, ou teorizando no Instituto Lula, como Nero tocando lira no incêndio de Roma, quando o país arde? Não é o que se espera dele.
O que se pode almejar é que largue a sua lira num canto e venha para o campo da realidade assumir a sua responsabilidade diante do povo que lhe deu o aval destes doze anos e que se proponha, pelo menos a um exemplo tosco de Juscelino Kubitschek, tentar realizar cinquenta anos em quatro, para recuperar o tempo perdido.
Não adianta mais o governo estar acenando com situações de efeito de última hora, depois que, pela inércia em cumprir as promessas políticas, obrigou os trabalhadores a acintosas greves em busca de direitos que deveriam ser automáticos, na filosofia do PT. Ainda acovardou-se permitindo badernas, incapaz de rechaçá-las para restabelecer a ordem. Todas estas atitudes demonstram despreparo e posição populista. Simplesmente deixou os badernistas governarem por um bom tempo. E estes só prejudicam a democracia e maculam o país, por dentro, e ante o cenário internacional.
A Bolsa Família que, embora necessidade emergencial, não sustenta nem o leite de um gatinho; salário mínimo de fome, quando o país se diz tão rico, os preços subindo avassaladoramente e o governo, com a mesma hipocrisia de todos os governos anteriores, tentando mascarar a inflação, é uma incoerência inadmissível. E só se fala em bilhões e trilhões de roubos e de nefasta corrupção. Não há povo que aguente.
Lula, quando em campanha, em alguma ocasião prometera, a boca pequena, pelo menos nas entrelinhas que contemplam nossas expectativas, um salário bem superior a este que está aí, e mais contenção dos gastos públicos, justiça social, controle da inflação, juros controlados, segurança e moralização política. A solução desta equação é difícil de ser resolvida, porém não foi nem sequer arranhada de longe. Tudo ficou em passos rasos, em doze anos de Partido dos Trabalhadores. Mas trocar para os nazi-fascistas não é prudente.
Todo mundo enrolando... A nação está percebendo que os anos passam e as propostas do partido estão andando ao passo de tartaruga. São doze anos sem vermos um mínimo aceitável, em termos de ganhos, do resultado que se esperava deste governo, que ainda não efetivou nem x por cento.
Este mandato do PT, efetivamente, só está mostrando a que veio, isto é ser um parêntese, ao passo que Lula ficou devendo muito, deixou uma lacuna e precisa de uma oportunidade para completar a obra, pois só ele pode acelerar esta questão conjuntural falida politicamente. Mas precisa voltar corajoso e sem esta cautela do presente mandato “tampão”, que nos instou a aceitar, em nome da confiança que o eleitorado lhe concedeu.
Lula terá de transformar em verdade a utopia dele e não do PT, sob pena de um temível retrocesso nas acanhadas conquistas que através da já não tão esquerda que é o seu partido, semeou. Para isto, tem que puxar o avestruz pelo rabo e assumir seu dever. Retomar o fio da meada, procurar o elo perdido. Ainda confio nele.
* Filósofa independente, escritora