Crônicas que completaram quatro anos em março de 2014 (Parte 1)
Estas crônicas - uma espécie de exercício de conjuntura política - foram escritas no final de março de 2010 e contextualizam aquele momento eleitoral em que eram articuladas as candidaturas à sucessão de Lula.
São três crônicas que na época foram publicadas no meu blog sob o título de 'Primus inter pares?' e que agora estou reeditando no RL uma vez que pretendo dar sequência a elas com uma avaliação de conjuntura atualizada.
Aí vai a primeira.
27/03/2010
Primus inter pares?
(I)
Estamos em pleno ano eleitoral. Hora de todos fazerem proselitismo de si mesmos e de seus pares.
Considerando-se as mais recentes decisões da ‘Justiça Eleitoral’ é bom não falar muito alto, por causa de eventuais punições pecuniárias. Afinal, o Judiciário é um dos poderes da República – acho que os outros são o Executivo e o Legislativo – que tem poderes para exercitar em seu próprio benefício aquilo que a gente, entre quatro paredes, costuma chamar de furor arrecadatório.
Já vimos esse filme em mil e uma versões e sempre com a União, o Estado e os Municípios nos principais papeis de agentes da extorsão. Desde multas de trânsito, multas disso, multas daquilo, multas por atraso no pagamento das multas, até multas por não votar (que por votar já sabemos que o preço costuma ser mais alto!).
Bem, deixemos esse desagradável, esse lamentável assunto de lado.
Não, nada disso. Cada vez que deixo de lado alguma coisa, ela fica lá, bem no fundo, me incomodando como uma ferida interna que não cicatriza.
Alguém, e tem um monte de organizações ditas da sociedade civil que poderiam bancar isso, alguém deveria propor que o montante arrecadado com toda e qualquer multa não pudesse ser destinado a nada senão à correção da atitude, da falta ou do delito que motivou sua aplicação. Por exemplo: Multa de trânsito. Todo o tostão arrecadado teria de ser usado em programas de educação para o trânsito. Vai ser bem fácil medir os resultados: veremos que a cada ‘x’ reais investidos em educação para o trânsito haverá uma queda de três ‘x’ reais em multas.
Acorda rapaz! A quem é que pode interessar uma proposta que prevê queda na arrecadação? Você é louco, é?
Tudo bem, então valeu a intenção.
Já vi que vou ter que repartir este texto em algumas fatias.
Retomemos. Ano Eleitoral.
Acabo de me lembrar o porquê do título e preciso falar alguma coisa sobre isso. Houve um tempo – anterior à era FHC e, portanto, antes de termos adotado a terminologia tucana e de sabermos o politicamente correto e o politicamente errado – onde era corrente ouvir-se “judeus e turcos são primos e vivem às turras, um querendo o que é do outro; não há diferença entre eles, os dois vendem a mãe. Ou melhor, há sim uma diferença: o turco não entrega.”
Hoje essa anedota seria, mais do que de mau gosto e politicamente incorreta, considerada um anacronismo. Naquele tempo não era usual considerar os turcos ou os egípcios ou os palestinos como sendo árabes e, nesse contexto, todo mundo que não era judeu, era turco.
Após dois mandatos de FHC ficou-nos como herança política uma pátria restaurada, limpa de impurezas gramaticais e politicamente correta. Árabes e judeus, claro, são primos; já o eram e continuam. É a genética. E, nesse mesmíssimo sentido, PSDB e PT continuam tão primos como eram antes do Itamar fazer de FHC seu ministro da fazenda e, depois, seu candidato a presidente. É a genética política que estabelece entre esses dois partidos germinados na oposição essa convergência ideológica que os faz primos. É bem verdade que dois mandatos não bastaram para que o PSDB conseguisse erradicar seu primo PT da lavoura política. Feliz ou infelizmente (porque o feliz mente e o infeliz também).
(continua)