Ainda Mais Bêbado
Quando a força vinha a galope, um General disse que preferia o cheiro de cavalo ao do povo. E agora, com a tecnologia que muda a cada dia, as malas voam de "Jatinho".
É revoltante que em determinadas ocasiões, uns gozam da força que o símbolo de Poder exerce sobre os indivíduos e grupos.
Antes o inimigo era um só, a opressão militar. Hoje, são milhares de inimigos: De políticos de todas as espécies, homens públicos de qualquer exercício de cargo, civis inseridos em quadrilhas bem aparelhadas e esquemas muito bem organizados que desviam recursos sociais, assaltantes, traficantes, a um simples marginal ladrão de galinha que começa a escalada do crime empunhando uma arma, para mim, são todos BANDIDOS.
Bandidos reunidos nas esquinas das roças e nos alqueires urbanos, como: nos sinais de trânsito; nos arrastões das praias e nas portas das escolas; infiltrados em partidos político, no congresso, no senado, nos sindicatos, bancos, igrejas, nas togas, nas fardas, na mídia, nos movimentos...
O ato de escrever, até pouco tempo, formava opiniões e incomodava governos. Hoje, a liberdade de expressão serve apenas para o enchimento de letras em jornais ou linhas em roteiros de piadas exibidos em shows humorísticos.
A liberdade de expressão, nesses governos chamados democráticos, cada vez mais vem se envolvendo nas encenações estratègicamente elaboradas nos meios dos desvios de atenções e convivemos aceitando o sistema: formações de falsos ídolos, idéias; conceitos dos mais diversos inseridos no varejo de frases feitas; e por fim, manipulações de ideais em peças de poder.
Infelizmente, a opinião não se cansa de consumir espinafres e abobrinhas dessa lucrativa quitanda. O que sempre se espera são aqueles dossiês estratègicamente guardados para serem atirados no ventilador na hora oportuna. E aí, sai mais uma de mussarela na também lucrativa cantina ao lado da quitanda.
Nesse campo, sempre haverá platéias para protagonistas formando encenações que levam para um mesmo redundante continuísmo da pratica velhaca do oportunismo cada vez mais medíocre, mais redundante e com menor gama de informações em conseqüência de uma intencionalidade de tornar o nível crítico menos complexo para atingir cada cada vez mais pessoas.
As exigências culturais são paupérrima e isso acaba gerando o gostar de tolices em virtude de só se conhecer tolices.
Governos continuam ainda mais bêbados nessa chamada democracia engatinhando.
Mortes e torturas não estão mais nos porões, estão nas ruas, nas esquinas, nos campos, nos sinais das avenidas, nas filas dos hospitais e da previdência.
Saúde, educação, trabalho, sistema previdenciário, segurança, enfim, formas assistenciais falidas. A população brasileira continua se equilibrando na corda banda esperando um futuro melhor.
As lutas pela restauração da verdadeira democracia participativa, pela valorização da solidariedade e dos direitos humanos em uma sociedade injusta valeram alguma coisa para o povo? A tortura e a morte de tanta gente que sonhou por um Brasil foram em vão? De que vale a Democracia? De que vale a Liberdade?
Recuperamos a cidadania a custa de tanta violência para apenas agora assistirmos atos e condutas que negam a Cidadania?
É lamentável, triste e decepcionante perceber que perdemos o espírito revolucionário (ou será que um dia, de fato, nós o tivemos?).
Para que a presença de todos seja respeitada e seja realmente representada, devemos achar um MEIO de plantio de AÇÕES que efetivamente possa nos dar a "FORÇA" para um planejamento e construção do nosso tão desejado bem-estar.
Só vamos conquistar alguma coisa quando deixarmos de aceitar e acatar qualquer forma de manipulação, quando organizados, soubermos criar e utilizar os mecanismos necessários para enfrentar esse poder oportunista do sempre continuísmo.
Necessitamos de uma REVOLUÇÃO. Não em pegar em armas, mas uma revolução de mudança do ambiente social, político e cultural. Uma revolução que resgate valores e instituições, que desperte a consciência que há muito temos nos distanciados.
Se procurarmos novamente um meio de plantio de ações, levando às massas o sentido justo do que é de nosso direito, talvez, comecemos alguma coisa no meio desse tudo.
Falta ao povo acreditar que tudo pode começar a mudar através do estimulo ao Plantio de Ações ( preparar, apontar, atirar ) sem mais permitir colheitas de falhas dos falsos ídolos e ideais.
Mas, o fato é que a letargia do cotidiano, a imposição de nossas necessidades e a ideologia intrínseca em nós, podam, cerceiam e desestimulam nossas idéias revolucionárias.
Agora, seria a hora de colocarmos nossa formação crítica tentando despertar em nós novas formas de pensar e agir, que gerassem idéias revolucionárias.
Nós, cidadãos ordeiros pagadores de impostos, acomodados e manipulados eleitores, seremos verdadeiramente representados e respeitados quando o Poder começar a sentir nossas ações.
O brasileiro é criativo apenas quando se cria "piadas" (note como são criativas as piadas rolando na Net. O brasileiro faz piada com qualquer assunto, a política então, fornece um vasto material para os piadistas).
Ah!!! como falta criatividade na criação de movimentos. Não digo movimentos como que parecido com o MST ou, como as intermináveis listas tipo, as de luto ou as de vergonha nacional rodando na Net, mas, falta criatividade na criação de movimentos que gerassem alguma ação que efetivamente objetivasse a mexer com os tentáculos da eterna manobra corrupta dos e daqueles que foram, dos que são, daqueles que não deixaram de ser e daqueles que sempre FORMAM o Poder.
Há 14 meses das Eleições, deveríamos sim, nós, o povo, estarmos envolvidos na elaboração de campanhas através de órgãos de impressa, internet, associações, entidades, igrejas, etc. para um chamamento ao povo para a conscientização desse processo político e, sairmos as ruas conscientes na preparação de ações as quais pudessem resultar em alguma coisa nesse processo falido. Devíamos sim estarmos envolvidos em ações que deveria ser plantada na consciência da massa. Assim, dessas ações, poderia germinar outras ações que nos levassem a crescer nas atitudes do exercício de nossa cidadania, conquistando assim, o respeito que merecemos.
Nós, Eleitores somos sabedores das conseqüências do Voto pois, o ato de votar, nessa tal democracia que foi muito mal planejada e está ainda pior na forma pela qual está sendo conduzida, continuará valendo nada vezes nada para o povo, valerá apenas para mantermos viva essa piada chamada de nossa representação. O Voto é uma "arma" pela qual alvejamos apenas em nossas testas. Porém, mesmo sabendo o efeito dessa "arma", surgirão sempre uma "nova" esquerda tentando convencer ser a "melhorista", com os mesmos velhos discursos, vendendo "esperanças" na humanização da política e do trato social nesse estado de coisa que não tem mais conserto.
A esperança pode tornar menos difícil suportar o momento presente e aí sempre aparecerão aqueles vendendo oportunisticamente essas esperanças que faz eleitores a se oferecerem a uma sempre e certa "servidão voluntária".
Ainda Mais Bêbado
Plínio Sgarbi
parece ainda tão perto
aquele ontem situação
era só o samba que descia o morro
coragem em peito aberto
no disfarce medida na avenida
desfilava seu enredo protesto
abrindo alas à liberdade de expressão
eu tinha um fusca e um violão
na marmita do aflito peão
tinha ovo frito, arroz e feijão
o Caetano acenava sem lenço na mão
para a Tereza, nega do Jorge e amiga do Gil
e todos sentados na grama do atêrro sob o céu anil
observavam o Chico em sua construção
dos parágrafos do AI-5
tanta gente no rol
nos abrigos, telhado de zinco
rolava sexo, droga e rock and roll
outros fugiram do batente
da mesada do pai
seguiram na viagem
opção estudar, protestar
um político vertente
nas passeatas paisagens
profissão vadiar
nas barganhas de vantagens
outros sistemas hoje cravados na tez
outras marias e clarices choram
por tanta gente que partiu
aqueles em que ser livres fingem
nas mãos o tremor, AR-15
tingem o caminhar de tantos pés
já não sigo a mesma canção
ainda mais bêbado no alto do viaduto
procuro aqueles que trajavam luto
para referenciarmos juntos a nação
a morte do irmão doentio
que sonhou por um Brasil
A música "O Bêbado e o Equilibrista" lançada em maio de 1979 se tornou a canção mais escutada nos protestos e passeatas pelo Brasil. De autoria de Aldir Blanc e João Bosco, ela marcou um importante momento na história do Brasil. Era o ano da Lei da Anistia. A população esperava do governo Figueiredo a "abertura lenta e gradual" prometida pelo governo Geisel. O país esperava recomeçar...
"O Bêbado e o Equilibrista" é uma metáfora do momento. O bêbado é a representação do regime autoritário: trajando luto, abalado com as repercussões das mortes e torturas nos porões da ditadura, na completa ausência de cor e vida, saudando a noite do Brasil. O equilibrista é a população brasileira, que "dança na corda bamba". Aqueles que não tinham o presente nas mãos, mas se equilibravam esperando um futuro melhor. Os autores mostram a resistência de quem lutava contra o regime, como as Marias e Clarices, imagens da resistência à ditadura. Maria, a mãe de Henfil, que estava na lista negra da censura, e de Herbert de Souza, o Betinho, exilado na China comunista. E Clarice, viúva de Vladimir Herzog, que lutou para conseguir, através dos tribunais, culpar os responsáveis pela morte de seu marido: a União.
No texto acima, o título "Ainda Mais Bêbado" e os versos "ainda mais bêbado no alto do viaduto / procuro aqueles que trajavam luto /", intercalados por um passeio pelas músicas da época, tentei colocar a minha visão aos tempos atuais, sugerindo uma pausa para a reflexão.