COPA: A ameaça fora de campo
No ano do Mundial no Brasil, a internet se tornou uma arena da disputa entre governistas e manifestantes sobre a forma como o País organiza o torneio.
Desde junho do ano passado, as redes sociais no Brasil têm desempenhado um papel de grande importância como palco para a realização de protestos. O ativismo cibernético vem causando situações constrangedoras para muitos políticos. Em janeiro desse ano, aumentaram ainda mais as manifestações, envolvendo pessoas descontentes com os gastos da Copa do Mundo, os atrasos em obras e as controvérsias envolvendo o Mundial.
Para o professor e sociólogo Sergio Vinícius Grande, 36, essas manifestações estão se alastrando motivadas pela insatisfação da população e pelo país viver um momento delicado de sua história, com várias denúncias de corrupção e problemas na economia. Ele explica que a presença da tecnologia e o fácil acesso às informações são ingredientes que amplificam esses movimentos. “Os manifestos representam uma insatisfação política e também pessoal da população”, afirma. “Nós vivemos um momento muito delicado da história. Nunca houve tanta tecnologia e tanta facilidade de se comunicar”, complementa.
Vinícius acredita que os atuais manifestos via internet têm sucesso devido à facilidade de difusão, mantendo a mesma essência dos protestos organizados em décadas passadas. Porém com o advento da internet e das redes sociais, mobilizar um grupo teria ficado muito mais fácil. “Você tem na essência a mesma ideia, o grupo que se mobiliza para reivindicar ou contestar algum estado de coisa, que seja educação, corrupção, política ou coisa assim”, explica. Ele ainda comenta que em vez de ter que ligar para todo mundo, marcar uma reunião, para então agendar a manifestação, hoje faz-se tudo isso por e-mail ou Facebook. Grande ainda atribui o sucesso desses eventos à instantaneidade da rede, pois, quase todo mundo sempre está conectado e já fica sabendo na hora.
Renato Vital, 24, é integrante do Coletivo Fuligem de Comunicação e Arte, uma organização ribeirão pretana, horizontal e pautada na autogestão e na economia solidária. Ele acredita que tanto no mundo real como no virtual o que faz os movimentos sociais acontecerem é a conexão de pessoas e ideias. A partir daí, em sua opinião, a rede social se torna fundamental, pois é esse elo. “O que faz com que as coisas aconteçam não mudou: é a convergência de ideias”, explica. “As redes sociais são ferramentas maravilhosas para isso, conectar pessoas, trocar conhecimento de forma rápida e difundir informação”.
Uma das preocupações das pessoas descontentes com os rumos que tomaram os investimentos do mundial e que pensam em participar das manifestações, é com a ocorrência de violência, como o atropelamento ocorrido no ano passado em Ribeirão Preto - SP. Em 20 de junho, uma noite de quinta-feira, cerca de 20 mil pessoas caminhavam pelas principais ruas da cidade, reivindicando tarifa de ônibus mais barata, além de melhorias no transporte público, saúde e educação, quando um motorista arrancou em alta velocidade e matou o estudante Marcos Delefrate, de 18 anos, e o matou. “O que acabou marcando todo mundo, muito além mesmo de termos conseguido ou não o que a gente queria, foi o atropelamento de forma cruel, a morte do rapaz e o ferimento de outras 11 pessoas”, revela o estudante Luis Magalini, 23, sobre o que permaneceu em sua memória até hoje.
GOVERNO SE PREVINE
De qualquer forma, todo mundo sabe que o Governo Federal está de olho nas mobilizações que acontecem via redes sociais e se prepara para enfrentar uma Copa do Mundo com protestos. Como pretende colocar o time em campo para defender o Mundial, muitos temem até que ponto justificarão a intenção com abuso de violência. “Eu tenho medo, principalmente porque a polícia se mostrou despreparada em várias ocasiões semelhantes”, confessa a jornalista e professora Carmen Cagno.
De qualquer forma, os primeiros movimentos táticos já foram feitos neste começo de ano. O Diário Oficial da União publicou um decreto que remaneja dois funcionários para a Secretaria-Geral da Presidência da República, com o objetivo de "promoção do diálogo por ocasião da Copa do Mundo FIFA 2014".
Por outro lado, o governo formou uma tropa de choque de 10 mil homens que irá apoiar as polícias militares nas 12 cidades-sede dos jogos da Copa para conter protestos violentos durante o evento. Cada um dos estádios também terá um perímetro de segurança em que não serão permitidos protestos. Esse perímetro será protegido por barreiras policiais.
O governo do Estado de São Paulo, também abriu licitação para comprar 14 veículos blindados para o controle de manifestações, entre eles quatro caminhões equipados com canhões de água para dispersar multidões. Estima-se um gasto de cerca de 15 milhões de dólares com a frota, o equivalente a cerca de 35 milhões de reais.
Por seu lado, o chefe da Secretaria Extraordinária de Segurança para Grandes Eventos, Andrei Augusto Passos Rodrigues, afirmou que o governo não pretende interferir no direito dos cidadãos de organizar e participar de manifestações, mas que não vai tolerar atos de violência.
Resta saber quem vai definir o que é violência.