A CONTRA-REVOLUÇÃO CULTURAL
Milton Pires
De todos os erros, arbitrariedades, prisões, desaparecimentos e torturas que possam ter sido cometidos pelo Regime Militar no Brasil, nenhum foi tão grave, por nenhum pagamos tanto até hoje, como àquele que diz respeito ao abandono da cultura no Brasil.
Entre 1964 e 1985 – tempo que durou o governo das Forças Armadas (FFAA) – a esquerda “pintou e bordou”com aquilo que pensavam os brasileiros à respeito da educação, segurança e saúde traduzindo sua hegemonia num discurso em que o adjetivo “social” somado a cada uma dessas palavras refletia a vitória do marxismo como cosmovisão..como forma de – muito mais do que governar – definir o que as pessoas deveriam pensar. Necessário é esclarecer como isso se fez lembrando que até muito recentemente não existiam no país nenhum dos chamados “movimentos sociais” que hoje tanto sucesso fazem em nome de praticamente qualquer causa. Reconhecer que o Partido dos Trabalhadores (PT) não nasce da união de movimento social algum mas que são exatamente esses movimentos e Organizações Não Governamentais (ONGS) que nascem do PT é, pois, fundamental para compreender corretamente o que se passou numa época em que as crianças guardavam o fogo simbólico nas escolas (durante a semana da Pátria) mas cantavam músicas de Chico Buarque nas aulas de Educação Moral e Cívica.
Não tenho, e espero que vocês também não, nenhuma dúvida sobre o valor e a importância daquilo que as FFAA fizeram em 1964. O Brasil foi salvo da implantação, pela força, de uma verdadeira Ditadura do Proletariado. Nenhuma mentira é, portanto, maior do que aquela que apresenta gente como José Dirceu, Dilma e Genoíno como defensores da democracia..como gente que foi presa e torturada tentando defender a “liberdade no Brasil”. Bem sabido já é, por aqueles que hoje se opõem ao PT no país, que tudo isso é mentira mas poucos percebem que essa gente só perdeu na disputa pelo poder enquanto que, no campo cultural, derrotou de forma vergonhosa tudo e todos que tentaram à ela se opor.
Cada vez que alguém tentar formar um novo partido político, movimento social ou marcha cujo fim seja derrubar o governo petista deverá ter sempre em mente, em primeiro lugar, o que descrevi nos parágrafos acima. O que sustenta esse regime de poder no Brasil já não é mais o dinheiro da cocaína das FARC ou escândalos de corrupção dentro das empresas públicas...Já não se precisa de fraudes em urnas eletrônicas nem programas de “bolsas” ou cotas para minorias. O PT tem hoje sua força e encontra seu maior apoio num sentimento de “vazio”...numa ausência total de esperança que impede todos nós de questionar se vivemos ou não no “melhor dos mundos possíveis”. Cada brasileiro de hoje assemelha-se àquele personagem de Voltaire que acreditava impossível ser evitar a repetição de desgraças que o destino lhe reservava. Imaginem, depois disso que escrevi, como deve ser olhado por seus pares, no que vai se transformar e que adjetivos há de receber, um candidato às eleições presidenciais de 2014 que ousar questionar a continuidade do SUS, do Programa Mais Médicos, do Bolsa Família e da infinidade de cotas e diretrizes de “assistência social” com os quais o partido envenenou a administração pública nacional. Compreendam pois, a gigantesca tarefa que tem pela frente todos que se propõem substituir essa gente e lembrem-se da urgência, da necessidade premente, de um renascimento cultural no Brasil...da construção de uma nova razão e de um pensamento críticos capazes de recuperar a liberdade de ideias e de livrar a nação da luta de classes em que foi mergulhada pelo Partido.
Em 1964, a intervenção militar foi um movimento contrarrevolucionário no sentido político; nunca no sentido completo que só lhe poderia dar um forte embasamento cultural. Toda esquerda brasileira passou mais de 20 anos se aproveitando desse erro e nos levou à desgraça que hoje vivemos. Mais do que nunca é chegada a hora da resposta...Resposta que nos exigirá tempo e paciência imensos, que não pode vir com a mudança de governo ou partido no poder, e que vencedora será fizermos surgir no país a Contra-revolução Cultural.
Dedicado ao trabalho pioneiro da Rádio Vox.
Porto Alegre, 21 de abril de 2014.