PENSAR ANTES DE AGIR
Milton Pires
Quando terminou a redação de “A Condição Humana” Hannah Arendt fez questão de deixar claro o quão perigoso era o fato dos pensadores de uma sociedade acreditarem na liberdade de ideias como algo intocável. Salientou que, na vigência de um regime totalitário, muitas vezes o agir pode ser perigosamente mais fácil do que o pensar.
Essa semana, uma pesquisa do IBOPE mostrou algo que, até onde sei, não tem precedentes na história política brasileira: a queda nas pesquisas de um determinado candidato oficial do governo (Dilma) favorecendo a subida de um candidato não oficial (Lula) do mesmo governo na mesma eleição. É tão grande a desgraça da política brasileira...é tão miserável e anêmica a capacidade de se fazer oposição ao PT que os institutos de pesquisas não tem sequer pudor de apresentar dois candidatos do mesmo partido como alternativa aos entrevistados! O PT é algo tão grande...tão forte são seus valores (ou a falta deles) na vida política do Brasil que ele tornou-se governo e oposição ao mesmo tempo. Em certo sentido é como se pudéssemos dizer dessa gente aquilo que se dizia da Igreja na Idade Média e mudar a frase para “Fora do PT não há salvação”
Apesar daquilo que escrevi acima, gostaria de deixar aqui um aviso para aqueles que pensam que é exatamente o “mesmo PT” que volta com um eventual retorno de Lula ou com a permanência de Dilma no poder. Nada no PT poder ser ou permanecer o mesmo..Acreditar nisso seria incorrer no grave erro de entender que trata-se de um partido como outro qualquer e isso não é, de modo algum, verdadeiro.
A capacidade do PT de convencer um segmento importantíssimo do empresariado nacional, de conter as eventuais críticas de uma imprensa medíocre e de doutrinar a universidade brasileira já não é mais a mesma. O panorama geopolítico do mundo após a invasão da Criméia e o afastamento da Rússia do restante da Europa ocorrem exatamente numa época em que acaba um recente ciclo econômico do qual os dois governos de Lula foram beneficiários e do qual o governo Dilma assiste o fim. Permanecendo no governo em 2015 o partido há de enfrentar condições econômicas que, através da inflação e da recessão, hão de ter consequências políticas extremamente severas para quem quer continuar, depois de onze anos, mentindo para população brasileira. Não é possível negar, nesse contexto, que um endurecimento político, que um apelo populista maior ainda do que o produzido por médicos cubanos, pela euforia da Copa do Mundo, ou das Olimpíadas será necessário para que um governo totalitário como o petista atravesse mais quatro anos até 2018. O aparelhamento total do Supremo Tribunal Federal, novas tentativas de comprar o Congresso e um endurecimento da censura serão necessários na nova ordem petista de 2015.
Em maio próximo há de ocorrer aquele que vem sendo considerado como fato político o ano: a viagem do presidente Vladimir Putin à China. Da rodada de conversações que serão realizadas pouca dúvida resta a respeito do estreitamento das relações e de um fortalecimento maior ainda daquilo que vem sendo chamado de bloco russo-chinês em termos de visão globalista de poder. Não será possível ao Brasil, país que depois do século XXI tornou-se uma espécie de líder da “turma do deixa disso” nos conflitos internacionais, permanecer neutro nesse contexto e ignorar a pressão do Estados Unidos.
De tudo que escrevi aqui ficam, no meu entendimento, as seguintes conclusões: 1. as eleições que se aproximam nada mais são do que uma eleição “dentro do PT” 2. é patético acreditar que o PT, no seu delírio revolucionário, é um partido como outro qualquer e que, com Lula ou Dilma em 2015, o Brasil será o mesmo. 3. O mundo 2015 há de ser, do ponto de vista econômico e geopolítico, bastante diferente desse em que vivemos.
Sei que o Partido-Religião conhece essas minhas conclusões, que está tomando suas providências e que aproximam-se tempos sombrios..Mais do que nunca é hora de pensar antes de agir.
Porto Alegre, 7 de abril de 2014.