O GOLPE DE 1964

Li alguns artigos aqui sobre o golpe de 64 e no geral achei-os de uma pobreza intelectual assombrosa (os que escrevem ou os que simplesmente opinam parecem assumir duas posturas básicas: têm a certeza absoluta de tudo ou vão ao famoso “não vivi naquela época...”. Você não precisa ter certeza de nada, basta opinar com base nos fatos e no que leu a respeito). Maniqueístas em sua maioria, parecem refletir o clima de Guerra Fria de então. Quase sempre partem da premissa de que havia um caos, os militares “salvadores” “aparecem” e evitam uma “revolução ou contrarrevolução comunista” e hoje o PT quer levar o país ao caos novamente.

Há como negar que houve um golpe em 64? Não! A menos que se queira estuprar a história. Havia risco de uma Revolução Socialista à época? Pelo que li até hoje, não creio. Goulart não era nenhum revolucionário. Em meio à crise que se instalou tentou aliar-se a setores que desagradavam aos norte-americanos, à elite e aos conservadores da classe média nacional.

Um congresso majoritariamente de direita, após a fracassada tentativa de parlamentarismo pelo alto, contando com o apoio norte-americano tratou de aliar-se aos setores civis e aos generais descontentes para derrubar seu governo.

A partir daí o que ocorreu foi mais e mais a ditadura se aprofundar até o famigerado AI 5 que resultou no período mais negro do regime com tortura, mortes, prisões arbitrárias e desaparecimentos de opositores, mesmo os que não pegaram em armas. Ou seja, implantou-se o terror como política de estado.

Reagindo a isso houve os que pegaram em armas (guerrilha urbana e a do Araguaia são dois exemplos) e os que reagiram com passeatas, sequestros e até atentados contra alvos específicos. No saldo de mortos os militares possuem uma conta infinitamente maior a pagar. E como detinham o poder naquele instante, quem era capturado ou foi julgado pelos tribunais de exceção, ou foi morto ou desapareceu em circunstâncias como as relatadas pelo coronel reformado Paulo Malhães em depoimento recente à Comissão Nacional da Verdade.

Pessoalmente gostaria de ver julgados os torturadores de então que foram colocados no pacote que resultou na Lei da Anistia (aliás, sugerida pelos militares e que os beneficiou) e que hoje estão aí com suas aposentadorias sendo pagas por nós. Por que não seguimos o exemplo argentino levando-os aos tribunais?

Cleo Ferreira
Enviado por Cleo Ferreira em 01/04/2014
Reeditado em 03/04/2014
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