Hipótese do Cabo de Guerra
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Na política atual – e nem tão atual assim – convencionou-se classificar políticos e políticas dentro de um eixo esquerda-direita. Todas as ações governamentais e de grupos de pressão precisam ser ou esquerdistas, ou direitistas. Progressistas ou reacionárias. Em prol do vagabundo, ou em prol do cidadão de bem. A favor dos pobres, ou a favor dos ricos. No entanto, não é preciso de muito esforço para mostrar que essa luta entre dois opostos não consegue compreender todas as ideologias e pensamentos existentes no Brasil, e muito menos no mundo. Isso porque o nacionalismo, o eugenismo, a censura e tantas outras tendências podem ser vistas dentro de governos que fazem parte de todo esse “espectro político”.
Logo, observando-se com mais atenção à política, facilmente se pensa que a melhor classificação para ela seja algo como um Diagrama de Nolan melhorado, uma vez que o diagrama mostra conceitos objetivos para a tirada de conclusões, com seus eixos liberdade econômica x liberdade individual, mas ao mesmo tempo em que apresenta uma melhora em relação à análise convencional, direita contra esquerda, há algo que falta.
Assim, por exemplo, dizer que há liberdade econômica e individual não precisa de complemento, entretanto, a falta dessas, precisa. Isso porque a falta de liberdade individual pode tanto ser usada na criação de um modelo que promova a negação aos instintos quanto ao culto desses. Enquanto isso, a falta de liberdade econômica pode tanto representar um absolutismo quanto um socialismo, sendo em que um, teoricamente, uma “elite do sangue” – no sentido em que se dá por genética, hereditariedade – se aproveita, enquanto no outro, respectivamente, todos seriam iguais – pelo menos essa é a tentativa, embora saibamos que na prática, há o fortalecimento do poder e da riqueza de burocratas.
Contudo, não obstante poder se considerar a ideia de dois eixos melhor que a velha disputa direita e esquerda, existe lógica nessa concepção popular de dois extremos beligerantes. Isso porque, quase sempre que se analisa a batalha política, pode ser percebida a existência dessa polarização, dois lados se confrontando. Que fique claro que isso não é o que se consideraria ideal, mas o que se observa.
Essa formação de dois grupos que possuem, geralmente, ideias conflitantes é algo que parece ser, até mesmo, inerente à espécie humana. Além disso, esses grupos organizam-se ao redor do centro, que, nessa concepção, não é formado por conceitos objetivos, como liberdade econômica e individual, mas sim por questões de consciência coletiva, ou seja, o que é comum (o existente, aquilo que se vê todo dia) torna-se o centro, sendo que ambos os lados conflitantes tentam puxar o centro um pouco mais para os lados dos eixos, como em um cabo de guerra que se organiza no Diagrama de Nolan.
Isso explicaria a sensação de muitos brasileiros que não existiria direita e esquerda nos Estados Unidos, mas sim apenas uma direita – o partido republicano – e uma direita moderada – o partido democrata. Através dessa hipótese, no entanto, nota-se que há uma batalha entre polos – que podem ser chamados de esquerda e direita -, porém, o que ocorre é que, como os EUA são diferentes do Brasil – são mais “direitistas” –, e como o povo desse país pensa diferentemente dos brasileiros, há essa sensação. Levando em conta o Diagrama, poderíamos dizer ambos os polos se localizam mais ao nordeste do Diagrama de Nolan – ou seja, há mais liberdade econômica e, provavelmente, individual, são mais liberais. Assim, não é que não exista conflito, mas sim que “a corda” da batalha política está em lugares diferentes nos dois países.
Além disso, deve ficar claro que, caso o Partido Democrata sucessivamente vença as eleições e as disputas, isso fará com que a corda seja puxada para a esquerda. Isso pode fazer com que se chegue a um momento no qual aos olhos do brasileiro, ou seja, de nosso “centro” político, os Estados Unidos serão esquerdistas.
Isso porque, como dito anteriormente, dentro das mais diferentes sociedades, há diferentes consensos – embora quase nunca esses sejam absolutos -, os quais compõem o “centro” do debate político. Assim, o nacionalismo (com tendências imperialistas), que é algo de centro em um país como a Rússia, seria algo até mesmo extremista em um país como o Canadá. A saúde pública, um consenso quase absoluto no Brasil, é uma pauta polêmica nos Estados Unidos. Em todos esses casos, percebe-se que esquerda, centro e direita não são termos absolutos, mas sim perspectivas criadas a partir de um confronto entre a visão da realidade – ou seja, aquela com a qual nos deparamos cotidianamente – e, possivelmente, alguma aspiração pessoal de mundo perfeito ou ideal - que por sua vez é inspirado na realidade.
Assim, conforme o tempo passa, e as convicções dos diferentes indivíduos que compõem a sociedade também mudam, fazendo assim com que a própria percepção social de centro seja alterada. Isso porque o centro é uma concepção formada a partir das inúmeras “opiniões públicas” existentes, é o consenso - ou o mais perto disso - entre quase todas elas. Ele é mudado conforme a batalha política, o cabo de guerra político, prossegue. Se antes a inexistência de um rei no Brasil seria opinião extremista e absurda, hoje seria a sua existência que causaria espanto.
Portanto, embora o número de propostas de modelos de governança sejam quase infinitos, nota-se que é uma tendência de regimes democráticos o estabelecimento dessas polarização, dessa “corda” que passa pelo centro, com dois inimigos brigando para levar o Estado e a população mais para seu lado. Nesse cenário, é totalmente compreensível a noção de um eixo esquerda-direita em que se dá a batalha política, e fica explicado porque a direita de alguns países possa nos parecer esquerda, enquanto a esquerda de outros nos parece direita.
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