Uma introdução ao Totalitarismo - Parte III

Para Arendt o totalitarismo é uma forma de governo cujo a sua essência é o terror. Arendt (1949 [2009]) aponta que os regimes totalitarismos jamais se contentam em exercer o seu poder por meios externos, eliminando a distância entre governantes e governados buscando subjugar e aterrorizar sua população internamente. “O terror é a realização da lei do movimento. O seu objetivo é tornar possível a força da natureza ou da histórica propagar-se livremente por toda humanidade sem estorvo de qualquer ação humana espontânea” (ARENDT, 1949 [2009], p.517). Desse modo, o movimento converte em realidade a lei natural ou da história ao selecionar os seus inimigos através do terror.

E o terror total exercido pelo totalitarismo contra a população não pode ser efetivado sem os campos de concentração.

Conforme a autora observou, “Os campos de concentração e de extermínio totalitários servem como laboratórios onde se demonstra a crença fundamental do totalitarismo de que tudo é possível” (ARENDT, 1949 [2009], p.488). Perto disso para Arendt (1949 [2009]), todos os horrores, tornam-se secundários. Como em uma espécie de pesadelo que foge a compreensão e experiência humana – conforme o relatos de sobreviventes - os campos de concentração servem para degradar e exterminar, transformando humanos em meras coisas.

Para a autora (1949 [2009]) não há paralelos históricos para se comparar a vida nos campos de concentração. ”Passa a existir um lugar onde os homens podem ser torturados e massacrados sem que nem os atormentadores nem os atormentados e muito menos os observadores de fora, saibam o que está acontecendo, é algo mais do que um jogo cruel ou um sonho absurdo”(ARENDT 1949 [2009], p.496). Esse inferno totalitário não podem ser inteiramente descritos, pois diante de um domínio total os sobreviventes vivenciam uma espécie de realidade extremamente maligna e quando retornam ao ‘mundo dos vivos’ começam a duvidar de suas experiências passadas nesses locais.

Segundo (1949 [2009]) Arendt para que o governo totalitarista possa governar através do terror e da lógica da ação ideológica, é necessário isolar todos os homens. Através do isolamento das pessoas, gera-se a impotência e a incapacidade de agir e de se organizar contra o poder vigente. ”Sabemos que o cinturão de ferro do terror total elimina o espaço para a vida privada e que a autocoerção da lógica totalitária destrói a capacidade humana de sentir e pensar tão seguramente como a capacidade de agir” (1949 [2009], p.527).

Por sua vez, o isolamento no terreno da política pode levar a solidão na esfera social. Para a autora solidão não é mesma coisa que o isolamento. Aqueles que vivem sozinhos sempre podem se tornar pessoas solitárias. ”O que prepara os homens para o domínio totalitário no mundo não-totalitário é o fato de que a solidão, que já foi uma experiência fronteiriça, sofrida geralmente em certas condições sociais marginais como a velhice, passou a ser em nosso século, a experiência das massas cada vez maiores” (ARENDT 1949 [2009] p.530). Isso resulta na perda da confiança nos outros e do próprio eu. Destruindo todo o espaço de solidariedade entre os homens, engendra-se não só sob a forma de impotência da própria condição humana como também uma solidão organizada submetida a vontade despótica de um só homem.

Em suma, a análise de Hannah Arendt sobre o fenômeno totalitário contribuiu para desvendar os elementos do governo totalitário, tornando-se uma leitura fundamental do pensamento político contemporâneo. Para a autora (1949 [2009]), o preço dos movimentos totalitários foram tão alto que logo após o processo de destotalitarização da Alemanha nazista e a Rússia stalinistas, ainda continuaram sofrendo terríveis consequências como a interrupção do crescimento populacional, a retração da arte, a expatriação causada pela guerra, as caóticas condições de produção de alimentos e o sofrimento de milhares de vítimas.

Por último, Arendt (1949 [2009]), constatou que mesmo com o término do totalitarismo, a crise desses tempos sombrios geraram uma forma inteiramente singular de governo e que a partir de então, corre-se o risco continuo de seus principais aspectos políticos e sociais permanecerem conosco assim como outras formas de governos (repúblicas, monarquias, ditaduras, despotismos e tiranias) de diferentes momentos históricos ainda se fazem presente.

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Referências

ARENDT, Hannah. Origens do totalitarismo. Tradução de Roberto Raposo. São Paulo: Companhia das Letras, 2009.

BOBBIO, Norberto; MATTEUCI, Nicolas; PASQUINO, Gianfranco. Dicionário de política. 12. ed. Brasília UNB, 2004.

Disponível em: <http://educacao.uol.com.br/biografias/hannah-arendt.jhtm> Acesso em 16 de fevereiro de 2014

Inã Cândido
Enviado por Inã Cândido em 23/02/2014
Reeditado em 23/02/2014
Código do texto: T4702686
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