Os apartidários (ou os que dizem que detestam política)

Escrito em julho passado,na efervescência dos protestos,mas acho que ainda é pertinente para o bom debate político.

Em ano de eleição, sempre priorizo meus textos sobre política,sem abrir mão do lenitivo que a poesia me oferece.Creio que consigo transitar com leveza entre dois temas pelos quais sou apaixonada:poesia e política.Muitos podem achar incompatíveis essas minhas paixões,no entanto sei que elas coexistem dentro de mim como gêmeas idênticas,sem nenhuma rusga.Como falar de amor,de natureza,de saudade,compaixão,sem se preocupar com o bem-estar de TODOS? Sem se inquietar com os rumos do país? Impossível para mim.


Sempre me incomodei com o fato de algumas pessoas dizerem que detestam política.Ou quando,mesmo em época de efervescência,de campanha eleitoral,alguns se diziam apartidários e faziam de conta que nada acontecia no país,que não tinham nenhuma responsabilidade com os rumos da nação.Confesso que esse comportamento de indiferença sempre me incomodou.Muito mais até do que aqueles que se posicionam do outro lado,bem à direita de minhas convicções políticas.A divergência sempre me foi simpática,a neutralidade, a indiferença,não.

Os protestos que se multiplicaram pelo país nos últimos dias,entre outras tantas coisas,me revelaram a força desse contingente que nunca tomou posição às claras,que sempre ficou em cima do muro ou literalmente nunca participou da vida democrática do país.Nesse contingente podemos incluir várias categorias de pessoas: os muito jovens, ainda estudantes e que infelizmente nunca tiveram nas escolas e em casa uma orientação sobre política;os adultos jovens,que jamais tiveram interesse pelos verdadeiros problemas do Brasil;os de meia-idade,que descobriram recentemente a internet e estão ainda deslumbrados com as informações instantâneas que os situam no mundo globalizado e os fazem,de uma maneira ou de outra se inteirarem do que acontece no Brasil e no mundo,mesmo que de forma vertiginosa.

Agora imaginem todo esse pessoal aos milhares,que acordaram agora,que nunca acompanharam a política local,muito menos a internacional,que sempre desprezaram qualquer contexto político-ideológico.Imaginem toda essa turma antes apolítica se tornando do Brasil militante de uma hora para outra.


Pois é.A multidão tomou conta das ruas.De repente todos os recém-acordados se tornaram “experts” em brasilidades.Como num passe de mágica,milhares de pessoas passaram a citar parágrafos e incisos da Constituição, a desenterrar projetos de Lei e defender com unhas e dentes alguns deles,como a PEC 37 que,neste caso , a batalha foi para a rejeição do projeto,êxito conseguido.

Mas o que quero realmente destacar, é que todos esses milhares de brasileiros que passaram a se interessar por política agora ( o que é muito bom), fazem parte de um partido recém-criado e que já nasceu fortíssimo.Chegou com tanta força que já deve despertar temor (ou inveja) em todas as demais agremiações partidárias.Esse partido conseguiu o inusitado de arrebanhar toda a força reacionária do país (imensa) e todos os jovens que até há pouco tempo só pensavam em baladas,festivais de Axé e futebol.E essa turma despertou tão forte do sono profundo que não só criou um partido político com milhões de “filiados” ( e que se multiplica quase que instantaneamente),como já lançou seu candidato à presidência do Brasil.E eles saíram na frente,pois a campanha oficial nem começou.Salvo a candidatura de Dilma à reeleição,os outros nomes ainda não foram definidos.Mas o nome que contempla os anseios da turma filiada a esse novo e poderoso partido já existe.Alguém tem dúvida de quem seja? É ele mesmo.Joaquim Barbosa.Este é o Cara.

E se o nosso mais recente super-herói já surgiu no cenário político alçado a candidato a Presidente da República,aqueles que defendem o seu nome,os que fazem parte do PFB (partido do Facebook do Brasil) daqui a pouco já terão toda a plataforma política,todo o programa de governo já definidos e divulgados na net.

Com tudo que mencionei neste texto,quero somente ressaltar a minha preocupação com as premissas que podem surgir desse novo partido.Quando a gente desperta de um sono profundo,é bom que a gente caminhe um pouco mais devagar.É bom que a gente coordene os pensamentos recém-despertados.Que a gente estimule mais a visão que estava coberta pelo véu da desinformação.É melhor ainda que a gente se acostume com a troca de idéias,com o debate saudável,com a divergência bem fundamentada,com o exercício da boa argumentação,uma vez que a falta de prática na articulação do pensamento nos torna “xiitas”, dogmáticos demais,prepotentes demais e isso não é bom.

Para terminar,quero dizer que o meu desejo é que todos os que se diziam apolíticos e apartidários e que agora fazem parte do poderoso PFB,passem a ver o Brasil com outros olhos,com olhos mais amorosos,mais benevolentes com a sua gente.Que lutem realmente por um Brasil para TODOS.Que defendam políticas públicas inclusivas,que lutem pela igualdade de direitos,que exijam as reformas política,trabalhista,previdenciária.Que aprendam a amar este país com todas as suas idiossincrasias.Que combatam com todas as forças o complexo de vira-latas.Só assim assumiremos o papel de protagonistas no mundo,papel esse que a turma de minha geração sempre almejou e sempre acreditou ser a verdadeira vocação do Brasil.

Sejam bem-vindos à luta política,militantes do PFB. 
amarilia
Enviado por amarilia em 18/02/2014
Reeditado em 18/02/2014
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