O PROBLEMA É NOSSO
Criticar é a atitude mais fácil, principalmente quando o assunto é política. O que muitos não param para pensar é a responsabilidade do eleitor em tudo isto.
Sou de uma cidade pequena do Sul de Minas.
Lá vi horrores acontecerem por causa de politicagem ( que muitos denominam “política”).
Hoje percebo que minha Terra Natal é o retrato do país. A política nunca é exercida, e sim a politicagem.
Já vi a cidade sendo literalmente dividida ao meio por uma corda.
Isto aconteceu nas eleições de 1988. A corda dividiu uma cidade ao meio, repito!
Não é brincadeira não, é sério...
Lembro-me que meus pais e eu voltávamos de um comício do candidato que meu pai apoiava, e para chegar a minha casa tivemos que dar uma “buta” volta.
Nesta mesma eleição vi um ônibus de eleitores chegando e muitos partidários simplesmente aplaudiram o ônibus quando este parou no meio da praça de uma cidade de dez mil habitantes.
A compra de voto estava escancarada e muitos simplesmente aplaudiram.
Eram votos de fora e nenhuma fiscalização foi feita para tal crime.
Não sei se foi nesta eleição, mas em uma eleição também se descobriu que foram colocados cédulas na urna “fachutamente”.
Vi também gente correndo atrás de possíveis compradores de votos, como se tivesse caçando um bicho.
Teve cartilhas entregues no dia da eleição difamando candidatos da forma mais chula e cruel.
Teve fila para doar dinheiro, gente pagando passagem para eleitores de outras cidades e muito puxa saco brigando na rua para atrapalhar o trabalho dos adversários.
Vi gente ganhando telhas, sacos de cimento, roupas, cestas básicas e até gente batendo na porta da casa de algum candidato pedindo um sapato branco numero 36 que só vendia na loja do Manoel (uma loja conhecida na cidade).
Nem sei como isto era normal para mim... Hoje eu denunciaria sem piscar os olhos.
Quando cheguei à adolescência me encantei com o PT.
Sinceramente achei que o Partido dos Trabalhadores fosse resolver o problema da corrupção no país.
Fui no Fora Collor escondido da minha mãe, dormi em acampamento do MST, participei de várias reuniões com meu primo ( que era parceiro da Ângela Guadagnim – São José dos Campos) e até em noite de autógrafo do José Dirceu fiz questão de comparecer.
Era um petista que pagava mensalidade e até brigava com amigos que fossem contra minhas ideias.
Logicamente cai na armadilha do fanatismo, mas isto não anula minha decepção com a política brasileira.
Quando estourou o escândalo do mensalão perdi até noite de sono.
Senti-me traído, usado e enganado por pessoas que eu considerava como se fosse da minha família.
Quando você quer muito uma coisa, os parceiros que pensam como você tornam-se íntimos demais. Foi isto que aconteceu. Minha turma era a turma do PT.
Depois de formado, estabilizado e entendendo um pouco mais de política, vejo que minha cidade Natal é um pequeno retrato do Brasil quando o assunto é política.
Nem no Brasil, nem em Conceição dos Ouros se fez política até hoje. O que existiu foi politicagem...Politicagem disfarçada de crime, ou crime disfarçado de campanha eleitoral.
E o resultado está ai: troca de favores, enriquecimento ilícito, nepotismo, coronelismo criminal, formação de quadrilha com dinheiro público e muitos, mas muito puxa saco ficando rico do dia para noite.
Quase com quarenta anos não vejo muita esperança na questão política do país.
O povo ama amar os políticos.
O povo adora idolatrar os políticos.
O povo adora esconder roubalheira de político em troca de pão e circo.
E o mais triste: o povo não vê sua responsabilidade em tudo isto.
Político é nosso empregado povo!
Político tem que seguir leis que devem ser fiscalizadas, inclusive por nós!
Político apenas é escolhido para administrar nosso dinheiro!
Somos nós os culpados...e logicamente, os mais atingidos.
- Ninguém casa com quem não conhece, mas vota-se em desconhecidos na maior tranquilidade.
- Ninguém coloca desconhecido em casa, mas coloca criminoso na prefeitura na tranquilidade maior ainda.
- Ninguém presta atenção no bem que um político honesto pode fazer.
Ele só está lá para distribuir dinheiro público. Para isto que ele é votado. Nada mais.
- Político não é votado para subir em palanque e falar bonito.
- Político não é votada para comparecer na festa de batizado da sua neta e você se felicitar por achar que está recebendo o Toni Ramos.
- Político não é artista, não deve ser confundido com amigo e nem pode prometer nada.
Político tem que administrar e ajudar a administrar o dinheiro público. Só isto, mais nada.
Somos nós que escolhemos mal quando dá uma merda.
Somos nós os culpados.
É a gente que não pesquisa se tal candidato tem nome sujo, se tal candidato já se enriqueceu misteriosamente ou se tal candidato tem ou não uma vida digna.
A responsabilidade é nossa...Eles, os políticos, só dançam a música que tocamos.
O PROBLEMA É NOSSO.
Glauco Viana.