O TIGRE E O COELHO
Milton Pires
Causado pela indignação com os descalabros do governo petista, intenso debate estabeleceu-se na internet (principalmente nas redes sociais) dentro de um determinado segmento da sociedade brasileira. Formado na sua maioria por profissionais de nível superior como médicos, advogados, engenheiros e outros, o pensamento de oposição ao movimento revolucionário começa a tomar forma no país.
Isso dito, cabe observar o nascimento de uma discussão – pequena mas acalorada – sobre qual melhor forma de agir: crítica e formação de uma contra revolução cultural (como eu a chamei em artigo anterior) ou engajamento político-partidário?
Mais de uma vez mencionei a diferença entre governo e poder. Procurei deixar claro que no Brasil não há oposição ao PT pelo fato de não haver partido algum que disponha de plano de poder alternativo ao movimento revolucionário. Nesse sentido, é necessário compreender que o domínio da máquina administrativa bem como acesso à verbas de nada vale pois longe do governo o Partido dos Trabalhadores há, ainda assim, de manter-se no poder. Por “manter-se no poder” entendo eu a permanência de petistas ou simpatizantes dentro das redações dos jornais, das universidades e de todos os cargos de baixo escalão da máquina pública além do controle absoluto de todos os valores morais da sociedade brasileira.
O que está acontecendo no Brasil, ao meu ver, é uma espécie “insight coletivo”...De uma maneira dolorosa, ainda que progressiva e inevitável, as pessoas começam a entender a gravidade do erro ao afirmar que “políticos são todos iguais”. É dessa necessidade absurda de generalizar...dessa visão imediata e superficial, dessa pouca vontade de estudar e estabelecer diferenças que resulta a perplexidade de determinados segmentos – por exemplo o dos médicos – com o Partido dos Trabalhadores. Pouca dúvida deveria restar, para quem quer trabalhar contra essa gente, quanto ao melhor caminho a seguir uma vez entendido que décadas foram necessárias para que o movimento revolucionário chegasse ao poder no Brasil e que o mesmo período de tempo há de ser gasto na sua saída. Mais importante do que isso é gravar de forma definitiva que, mesmo fora do governo, pode esse tipo de gente continuar exercendo um poder esmagador sobre o país.
Uma das regras mais simples numa guerra é o conhecimento mais rigoroso possível da natureza e das capacidades do inimigo. Afirmo que o PT é inimigo de toda sociedade brasileira mas insisto que não há, por parte dela, absolutamente a menor noção do tipo de força que está enfrentando. As pessoas continuam pensando que trata-se apenas de mais um partido como todos os outros e mesmo a gigantesca maioria da “oposição” pensa de maneira semelhante.
Não há, digo eu, nesse momento a mínima chance de se fazer uma oposição séria ao PT no Brasil. Sustento que só pode alguém opor-se de forma eficaz à alguma coisa uma vez que tenha um mínimo de domínio conceitual sobre aquilo que enfrenta. Nada mais justo, portanto, do que afirmar que – longe de se estabelecer no campo moral – é no aspecto cognitivo que reside a fraqueza da gigantesca maioria das pessoas que pensa retirar o petismo do poder. Chance alguma de vitória pode ter aquele que parte de uma visão completamente distorcida do inimigo. Vejam que aqui trata-se de puro pensamento estratégico a estabelecer a prioridade da contra revolução cultural sobre a ação política. Até que as expressões “Foro de São Paulo”, “movimento revolucionário” e “comunismo” ganhem algum sentido no imaginário popular, nada há que se fazer pois todas elas até aqui nada mais passam do que apologias à “teorias da conspiração”.
Sem liberdade de entendimento, sem a clareza de percepção que só pode surgir com anos de trabalho cultural metódico, opor-se ao PT há de continuar sendo tarefa ingrata e que na sua frustração só levará ao ridículo fortalecendo, através do deboche intelectual, as chances dessa gente permanecer eternamente no poder...situação essa que lembra um doente mental que, colocado dentro de uma jaula com um tigre, insiste em enxergar pela frente nada mais do que um coelho..
Porto Alegre, 23 de outubro de 2013.