SOCIEDADE DE RISCO
O escritor Ulrich Beck publicou, em 1986, na Alemanha, seu livro “Risikogesellschaft: auf dem Weg in eine andere Moderne”. Este livro foi traduzido para o português e publicado pela Editora 34, São Paulo, 2010, com o título: “Sociedade de Risco: rumo a uma outra modernidade”.
Para o Autor, a terra está sendo envenenada com poluentes de toda ordem: herbicidas, pesticidas, inseticidas, fertilizantes, fosfatos, conservantes, formol, água sanitária, hormônios, anabolizantes, produtos químicos, como chumbo, mercúrio, substâncias radioativas...Com isto, caem chuvas ácidas, aumentam os buracos na camada de ozônio, espalham-se gases tóxicos, as águas potáveis se poluem.
Beck não quer ser qualificado como um escritor apocalíptico, nem catastrófico. Mas afirma que o paradigma da modernidade, predominante em nossa época, está levando a terra ao limite do envenenamento. As aspirações de progresso, e a busca desenfreada de enriquecimento das empresas e dos países, já não respeita o princípio ético fundamental, que diz: “não nos envenenar mutuamente”.
Os defensores do paradigma atual de modernidade se defendem argumentando que, apesar de tantos poluentes, a humanidade de hoje vive muito mais, e muito melhor, do que em épocas passadas. Beck concorda com isto, mas se pergunta: estas conquistas exigem, necessariamente, os contingentes de envenenamento a que a terra está exposta atualmente?
Se aplicarmos ao Brasil as advertências de Ulrich Beck, parece-me que somos modelo de “sociedade de risco”, conforme a análise deste pesquisador. Basta conhecer um pouco a realidade brasileira para ficarmos estarrecidos com a falta de fiscalização no uso de inseticidas e herbicidas, muitas vezes proibidos e contrabandeados, em nossas lavouras; o descarte de poluentes químicos, lançados na natureza pelas indústrias, praticamente, está fora de controle.
Com tantos venenos em alimentos, com tanta falta de saneamento e com tantos poluentes na natureza, o SUS, mesmo com milhares de médicos estrangeiros, nunca dará conta de atender dignamente os cidadãos doentes e envenenados.
Mas os riscos para nossa sociedade não se restringem a produtos químicos. A sociedade brasileira também corre graves riscos com a pregação de uma religião alienante, com políticas corruptas, com uma justiça ineficiente e injusta, com a falta de segurança, com a semiescravidão de milhões de trabalhadores, sem salários dignos, com a falta de saúde e de educação do povo...
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Inácio Strieder é professor de filosofia- Recife