Eduardo Campos e Marina: a sorte, quando chora ou ri.
Eduardo Campos e Marina Silva: a sorte, quando chora ou ri.
Eduardo Campos sentiu o cheiro do café e mandou ver, lançando sua candidatura à presidência da república, baseado na conjunção de, pelo menos, três fatores: o desgaste natural dos petistas, depois de mais de década à frente do governo federal, a consequente e, todavia, firme vontade de mudança expressa pelo povo nas manifestações de rua recentes e, bem assim, sua positiva biografia do governador do estado de Pernambuco, cuja administração é bastante elogiada.
Marina Silva, mostrava a tempo sinais consistentes quanto ao sonho de chegar à presidência da república e, de acordo com as pesquisas eleitorais recentes, era a virtual garantia de realização de segundo turno das eleições presidenciais, contra a presidente Dilma Rousseff. Mas, para sua desgraça, o TSE não teve "solidariedade" com o seu pedido de registro de seu partido político (que fora matreiramente batizado de "Rede", para parecer algo diferente do que, em verdade, seria - mais um partido político sem definição ideológica e propostas políticas precisas).
Depois de alguma alegria e desafogo pela virtual inviabilização da candidatura da ex-ministra do meio-ambiente, a presidente da república foi surpreendida por um fato inesperado no roteiro dos acontecimentos: Marina Silva não estava dividida entre a entrega aos muxoxos, renúncia ao jogo da política ou filiação num partido da base aliada do governo federal. Pelo contrário, depois de acusar o tiro certeiro da negação do registro de seu partido político, ela havia se levantado e, cacos juntados, reagido, caindo direto nas fileiras do PSB e no colo de outro oponente, Eduardo Campos.
Eduardo Campos é neto de Miguel Arraes. Poderia, por isto mesmo, ter arrastado a grife para seu nome de guerra, mas passou longe da obviedade, adotando o nome seu pai, o escritor Maximiano Accioly Campos. De qualquer forma, se alguém ainda não havia ouvido falar de seu nome, agora sabe, depois que apareceu nas fotos, ao lado de Marina Silva (ato em que tomou uma posição estratégica, aparecendo ao fundo das fotos, deixando que ela brilhe, num momento ainda remói a amargura da derrota no TSE), pelo que, fica, sim, lhe devendo um grande favor político, que antecipou e facilitou parte do trabalho de apresentar-se em grande estilo ao eleitorado brasileiro.
Em termos eleitorais, o governador do Pernambuco ganhou na loteria, e agora, pinta como o virtual candidato à presença no segundo turno das eleições presidenciais. Se fizer tudo certo e, enfim, conseguir corresponder à expectativa dos eleitores por um rosto que identifique algo de novo na política, terá chances reais de chegar à presidência da república (pois, além de boa parte dos votos de Marina, leva os votos de grande parte dos eleitores de Aécio Neves, de Goiás até o Rio Grande do Sul, mais definidos como oposição ao governo petista e que talvez já não esperem que ele passe do segundo turno, embora os seus votos sejam bem mais do que os que aparecem nos percentuais das pesquisas).
E as propostas e o futuro de Marina Silva dentro deste contexto? Um pouco de habilidade pode ajeitar tudo: se ela sair candidata a vice-presidente, poderá ter suas propostas politicamente corretas (e nem tanto esclarecidas, politicamente) facilmente absorvidas na campanha de Campos - quem é contra a defesa do meio ambiente e mais ética na política, pelo menos em tese? Do contrário, pode se candidatar à senatória com apoio massivo de Campos, onde terá uma vistosa vitrine pelos próximos anos, com a provável simpatia já dispensada pela mídia garantida no pacote, quando terá tempo e condições de viabilizar o registro de seu partido e, enfim, a sua futura candidatura à presidência da república.
Algo que provavelmente ela vai evitar, dada a dor de cotovelo (e a impressão certa de que ouve algum movimento do Palácio do Planalto e do Partido dos Trabalhadores na negação do registro do "Rede") e a manutenção de suas aspirações políticas, é cair no conto de sereia que já começa a aparecer na imprensa e na mídia - a ideia de que ela deve se manter fora do jogo das próximas eleições presidenciais, pelo simples fato de que estas eleições pode ser um divisor de águas e quem não perpassar o processo pode ficar para trás, além da possibilidade certa de que tal atitude venha a ser tomada como sintomas de apoplexia, diante do rude golpe sofrido no TSE, de parte do eleitor...
Mas, e Aécio Neves, candidato daquele que foi o partido que sempre digladiou nas últimas eleições com o PT, o PSDB? Aécio, provavelmente vai começar por conhecer o preço da cristianização de uma candidatura à presidência da república - na última vez, a de José Serra à presidência da república, destinada a honrar um arranjo mineiro com o petismo das alterosas.
Não que ele seja o único a ter feito isto. Em Goiás, por exemplo, os tucanos cristianizaram pelo menos duas e sucessivas candidaturas do partido à presidência da república, por motivos que chegam a ser fúteis (respeito e admiração do candidato a governador ao candidato e à onda popular petista, em 2002 e, depois, um negócio mal explicado de antipatia pela candidatura de um tucano paulista à presidência da república, em 2006 - "deixa quieto", se dizia sobre o assunto, nos comitês tucanos, em tais oportunidades).
Na política, como na vida, dependendo do momento, uns riem, outros choram e uns quantos sapateiam. Nesta altura, Campos se mostra um político pé quente, e a sorte lhe sorri faceiramente. Por isto, vai capitalizando os acontecimentos que vem convergindo para si, tocando o barco da candidatura que, diziam em Brasília, não iria acontecer, dependendo de uma simples viagem de uma raposa petista a Recife.
Mas, é isto: tino, oportunismo e coragem é parte das qualidades exigidas do político que pensa grande.
Aécio diz que quer conversar com os eleitores. Porém, se as coisas não mudarem muito (porque seu partido, por sucessivos erros e omissões, acabou perdendo a vaza do bom posicionamento incial, nas eleições que se aproximam), pode conhecer o Silas.
Mas, quando chegar mesmo as eleições, para nos provar que as coisas não mudaram demais, virá o Eymael, nos recordar sua marchinha de eterna candidatura de mentirinha: "Ê-ê-Eymael!/ o democrata cristão..."
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Em 10.10.2013 - Ronaldo Caiado, depois de convite e conversa de pé de ouvido, assumiu a candidatura de Eduardo Campos para a Presidência da República, como "terceira via", isto é, fora da polarização PT - PSDB.
Ontem, 09.10.2013, Marina Silva, já à bordo do PSB, deu a enteder, em entrevista, que poderia vir a ser a candidata a presidente da república do partido. E aproveitou para atacar gratuitamente o ruralista Ronaldo Caiado, taxando o líder ruralista de "inimigo político".
O PSB veio a público formalmente, para negar a possibilidade do afastamento da candidatura de Campos em favor de Marina. Mas, silenciou contra o ataque dela contra Ronaldo Caiado.
E Caiado, que não é de levar deforo para casa, depois de explicar bem sua adesão e os precedentes da negociação (deixando bem clara, a inação de Campos diante da situação) em torno da candidatura do PSB, declarou que o voto dele do setor rural foi dispensado por Marina.
Marina trouxe benefícios para a candidatura de Campos, mas pelo jeito, o preço da conta vai ser bem salgado...
O setor agropecuário é aquele que, sabem os economistas brasileiros, é o mais moderno da nossa economia, responde pela alimentação barata dos brasileiros, que sustenta o crescimento de nossa economia e gera superávit comercial, ao contrário de todos os outros.
Marina Silva, pertence àquilo que se chama "vanguarda do atraso". Tem uma visão particular de progresso. E não consegue assimilar o progresso acontecendo no setor rural, à sua revelia (e suposta importância)...
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Em 15.10.2013 - Este artigo foi publicado no Diário da Manhã, de Goiânia-GO, na edicação de ontem, 14.10, no caderno Opinião Pública.