CARTA AO PRESIDENTE DO CONSELHO FEDERAL DE MEDICINA

Ilmo. Sr. Presidente do Conselho Federal de Medicina (CFM)

Dr. Roberto Luiz d'Ávila

Doutor Roberto, por favor, permita-me a apresentação: eu sou médico em Porto Alegre e estou formado há praticamente vinte anos. Não julgo ter obtido na prática profissional o sucesso e o reconhecimento de vários colegas brasileiros. Pouco ou nada realizei de importante no meio acadêmico e economicamente estou muito, mas muito longe mesmo, de ser um “vencedor.” Afirmo ao senhor, sem orgulho mas sem constrangimento algum, que pouco ou nada mais me resta do que poder dizer aos meus filhos – ainda pequenos – que sou médico, que estudei (e estudo até hoje) para “curar as pessoas e que trabalho num hospital”. A eventual vaidade, Dr. Roberto, que poderia eu ter ao escrever-lhe resume-se portanto somente nisso: um mínimo de dignidade com relação a maneira de ganhar o pão de cada dia. Para ser sincero, gostaria de lhe dizer que – ao invés da vaidade – é vergonha o sentimento que me domina nessa carta.

Ontem li, estarrecido, que o Governo Federal prepara nova Medida Provisória. Essa deve ser, senhor presidente, o golpe de misericórdia na nossa profissão pois há de acabar definitivamente com qualquer atribuição do Conselho Federal de Medicina. Médicos estrangeiros poderão aqui trabalhar sem fazer registro algum nos conselhos regionais! Tal fato decorreria da “indignação” da presidente Dilma com relação às ações judiciais que vem sendo impetradas tanto pelo CFM como pelas demais entidades que nos representam e surge depois das renúncias dos presidentes dos conselhos regionais de medicina do Paraná e de Minas Gerais – atos notáveis capazes de orgulhar todos os médicos de verdade dessa nação.

Nunca, em todo meu tempo como médico, achei que fosse escrever o que estou prestes a colocar no papel agora. Peço-lhe desculpas e espero um dia que meu sentimento verdadeiro seja de arrependimento, mas me obriga a consciência nesse momento a implorar-lhe..a desesperadamente pedir-lhe – em nome do resto de decência que ainda existe entre a esmagadora maioria dos colegas do Brasil: por favor, renuncie ao cargo de presidente do CFM! Não empreste a essa ditadura que nos governa o aspecto de legalidade, de obediência ao ordenamento jurídico e de consideração pela nossa profissão que o PT não tem...Por favor não sinta-se culpado, nem se imagine traindo aqueles que lhe consideram nosso legítimo representante ou tampouco preocupe-se em abrir as portas do CFM aos militantes desse Partido-Religião que agora governa o Brasil.

Doutor Roberto, a crise dos médicos brasileiros hoje nada mais tem a ver com baixos salários, condições de trabalho ou plano de carreira...não se relaciona à necessidade de revalidação de diplomas de médicos cubanos nem com a lei do Ato Médico...tudo isso já passou...nós chegamos ao “fundo do poço” e quem nos levou até lá foi um partido que infiltrou-se dentro das nossas associações, sindicatos e conselhos regionais impondo aos médicos o relativismo moral e a vergonha constante de reconhecerem a si próprios como classe profissional distinta de todas as demais que operam no campo da saúde. São esses, senhor presidente, os médicos que se submetem ao vil papel de trair tudo que juraram e de esquecer tudo que aprenderam para emprestar seu conhecimento ao governo federal na elaboração das medidas provisórias que estão acabando com a medicina brasileira.

Doutor Roberto, quando nada mais resta a um espírito bem formado na luta contra o mal, quando esgotaram-se por completo todas as possibilidades de diálogo, quando encerraram-se a força dos argumentos e se iniciaram os argumentos da força existe ainda uma suprema obrigação: afastar-se completamente dessas pessoas! Em nome de todos os médicos brasileiros que respeitam a nossa profissão, que admiram o senhor e o nosso Conselho eu lhe peço - não acreditando eu mesmo que estou escrevendo uma coisa dessas: renuncie ao cargo!

Dr.Milton Pires – CREMERS 20958 - cardiopires@gmail.com

Porto Alegre, 1ºde outubro de 2013.

cardiopires
Enviado por cardiopires em 03/10/2013
Reeditado em 03/10/2013
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