Guetogrado: 70 Anos Do Levante Do Gueto De Varsóvia
Trezentas mil das 380 mil pessoas entre julho e setembro de 1942 foram deportadas do Gueto de Varsóvia para o campo de concentração Treblinka onde foram sumariamente assassinadas. A população restante organizou-se para reagir ao comando, comunicação e controle dos oficiais da Wehrmacht.
Em 1943, dia 19 de abril, liderados por Mordechaj Anielewicz os judeus amotinados atacaram uma guarnição de soldados nazis e mataram doze deles. A Batalha da rua Niska encorajou os rebeldes judaicos, forçando as forças policiais do exército alemão a buscar proteção por detrás de restos de muros e agachados, arrastando-se no chão, pressionados os corpos nas paredes das construções em ruínas, em busca de se defenderem como pudessem.
As organizações de polícia a serviço dos nazis, os “zob” e os “zzw”, lutaram pela extinção dos judeus revoltosos. Muitos membros da “zob” pertenciam à comunidade judaica e tinham a ilusão de que, até o fim do II Conflito Mundial, escapariam à morte sob os chuveiros dos campos de concentração, que ao invés de liberar água das estreitas aberturas pelas quais esperavam alívio através do chuvisco d´água que refrescaria seus corpos, saía deles gás que os fariam morrer sob a agonia de dores, sufocos e vômitos atrozes.
Os judeus que ficaram e resistiram se esondiam nos canais dos esgotos porões e galerias dos bunkers. Nessa rede subterrânea deslocavam-se, por vezes em fuga, em direção ao lado ariano da cidade de Varsóvia. Os alemães começaram a bombardear e a incendiar os bunkers. Os combatentes judeus para não morrerem queimados e asfixiados, buscavam escape via esgotos do gueto.
Com o passar dos dias os bunkers ficaram inúteis, desde que neles faltava ar para respirar, pão, água, e qualquer tipo de alimento exceto insetos e ratos. O calor insuportável das paredes emanava odores pútridos que os faziam ficar a respirar ofegantes em busca de parcelas mínimas de ar, ainda que poluído. Restava-lhes, por vezes, alguma ração de pão torrado para ser roído e doses mínimas de água para ser ingerida.
Mal armados, sem treinamento de combate, os insurretos lutavam com bravura. Afinal, era melhor enfrentar o inimigo e morrer num combate desigual, do que cair sob os chuveiros de gás nos campos de morte.
De quando em vez os combatentes eram forçados a sair fora dos canais imundos cheios de cadáveres a boiar por entre os dejetos dos esgotos em busca da obtenção de um pouco de ar que não estivesse excessivamente apodrecido.
Os soldados da Wermacht passaram a disparar nas cabeças que buscavam, fora dos bueiros, algum espaço mínimo para praticar a respiração de sobrevivência. Enquanto os alemães buscavam a todo custo oprimir os judeus e alijá-los da condição humana de mínima decência, eles, alemães e seus colaboradores, se afirmavam nessa condição de desumanidade.
A monstruosidade dessa condição se afirma hoje nos livros, filmes e jogos ditos de entretenimento, quando supostas mutações genéticas se avolumam nas telas de cinema, TV e videogames, mostrando poderes físicos e mentais muito acima da condição física e mental propriamente humana.
A finalidade desse tipo de entretenimento é fazer os produtores desse modelo de ganhar dinheiro com a divulgação e a propaganda de seres ficcionais fascistoides, humanoides, personagens da ficção de heróis dos HQs, tipo Volverine, Homem Aranha, Super-homem, Mulher-gato, Batman, e tantos outros que transcendem a condição humana para divulgar uma ficção de heróis cheios de poderes tipo os que ambicionavam através da propaganda ariana, atingir.
Mas entre a condição humana e o fascismo de personagens da ficção que fazem a propaganda de seres com poderes e forças acima dessa condição, existe um mercado de consumidores ávidos por descartar a realidade humana em troca de uma alienação mental com tendência a provocar distorções psicológicas na percepção infantil e infantojuvenil, sugerindo a essa percepção pessoal e coletiva, uma saída para seus problemas cotidianos.
Tal como a população do gueto de Varsóvia, essa população urbana de pessoas parecidas com rebanhos de gado, se amontoa em espaços de transporte coletivo tipo metrô, trens e ônibus. Para suportar uma convivência coletiva altamente promíscua, são forçadas à aceitação de uma educação e de uma cultura para a prostituição, o tráfico e o consumo de drogas.
Drogas cinematográficas, TVvisivas, drogas de videogames que sugerem uma catarse coletiva baseada na premissa de que, como diria Adorno, “o comportamento humano se estabelece na imitação”.
Como não podem imitar esses heróis e suas garras de aço manuais, alugam suas mentes e a imaginação proveniente delas, para exercitar uma catarse através da qual promovem uma evacuação de seus ressentimentos e conflitos internos, via a ultraviolência liberada na luta dos heróis ficcionais dos quadrinhos contra os vilões que lhes fazem frente. A velha e conflituosa artimanha consumista do bem versus o mal.
Uma cultura que dissemina a violência e a ultraviolência, quer de heróis reais ou ficcionais, prepara essas pessoas, a população mundializada pela demência de uma imaginação a serviço do entretenimento consumista desvairado, para conflitos e guerras locais, regionais, continentais e mundiais: contemporâneos e futuros.
Enquanto isso esses conflitos se disseminam em realidades tipo crianças que matam seus familiares, atiradores que vitimam vizinhos, criminosos do colarinho branco que enriquecem às custas de uma política dedicada aos conchavos políticos dos esquemas em voga de corrupção protegidos por votações secretas.
Votações secretas que nivelam a Câmara em Brasília aos políticos criminosos nazis de Hitler com seus parlamentares que estariam melhor posicionados se estivessem gerindo a sociedade de dentro de presídios, cumprindo penas por sua política de apoio às barbaridades que se multiplicam nas ruas da cidade de carne:
Parlamentares que se escondem atrás de uma política de votações secretas que disseminam o roubo, sequestros, furtos, assassinatos, agressões com armas brancas e de fogo, barbaridades entre membros de torcidas desorganizadas. Uma educação que nivela a sociedade horizontalizando-a na condição deplorável de hominídeos das cavernas com suas políticas de sucateamento social. Fundamentalistas.
Parlamentares que estão a promover uma educação de faz de conta, cujos principais professores são os animadores de TV e a política nefasta de entretenimento que afasta a sociedade da avaliação de sua condição de vítima do Reichstag do Planalto Central.
Um Parlamento com uma saúde que vitima grande parte dos pacientes, um transporte público para bovinos se amontoarem dentro de vagões de trens e metrôs como se estivessem sendo conduzidos para campos de concentração.
Enquanto isso juízes de supremos tribunais se dedicam à chicana jurídica visando livrar a pele de criminosos que desejam se safar de seus delitos contra a Constituição e o código penal, via a manutenção de uma cultura política e jurídica “funcional”: de proteção à concentração de renda e privilégios e do sucateamento moral desses tribunais.
O que há é a vigência de democraciais nazistas do pós-guerra, que cercam seus insurgentes das formas as mais diversas de sufoco. O que há é a disposição policial de estar preparada para reprimir e atirar na cabeça daqueles insurgentes que buscam um pouco de ar menos poluído fora dos guetos e bunkers de metrôs, trens, ônibus e outros bens semoventes do transporte público...
O que há é uma sociedade que continua repetindo os mesmos paradigmas políticos, jurídicos, econômicos e sociais que deram origem aos conflitos mundiais anteriores: Iª e IIª Grandes Guerras.
Paradigmas políticos esses atualmente incrementados por uma imaginação fundamentalista doentia exaltada pelo procedimento de heróis cheios de recursos supostamente surgidos por mutação genética que os torna invencíveis lutadores do bem contra o mal quando não há nem bem contra mal nenhum por que lutar. A única coisa séria e honesta que há por que lutar é por uma condição humana inédita na história atual do Homo sapiens/demens:
Ou seja: a humanização da própria história sapiens/demens. Tornando-a menos demens e mais sapiens. A combatividade dos rebeldes judeus no guetogrado de Varsóvia se justificava plenamente. Isso porque eles estavam empenhados em tornar humanas suas vidas de cães de gueto sobreviventes à opressão e à tirania de uma facção de seres humanos entregues à patologia dos super-herois. Nazistas.
Não se pode humanizar a história Homo sapiens/demens se não se humaniza os paradigmas sociais que a fazem acontecer. Uma sociedade que faz a propaganda de entretenimentos dedicados a fazer valer uma cultura de super-herois, com poderes extraordinários, que nada têm de humanos, não pode mudar.
A violência raramente se justifica. A violência dos insurgentes do guetogrado de Varsóvia se constitui numa rara exceção. Lutar contra a tirania dos supostos descendentes da mitologia nórdica de uma raça pretensamente superior dentro das demais “etnias” da espécie Homo sapiens/demens, é um ato de rebeldia contra a patologia de opressores políticos demenciais.
Mesmo próximos a um estado de total colapso físico e mental os insurgentes judeus continuaram a lutar em defesa de sua condição humana. A combatividade deles simboliza o empenho de pessoas que se recusavam a aceitar a tirania e a opressão de soldados que desejavam acreditar fossem os representantes de uma raça ariana primitiva de super-herois. Que simbolizavam super-força e superpoderes.
O levante do guetogrado de Varsóvia é, ainda hoje, um exemplo de grito primal em busca da afirmação do que há de humano em seres humanos ameaçados de perder essa condição para os supostos descendentes de postiços super-herois e de seus superpoderes pessoais de ficção em quadrinhos.
O Congresso nacional está cheio dessa ficção. Esses políticos são eleitos para trabalhar em defesa dos direitos de cidadania de um povo, e, uma vez eleitos, se posicionam de super-herois em busca do enriquecimento ilícito a qualquer custo.
Uma vez membros da Câmara e do Senado, ei-los cheios de empáfia, e da força suposta de seus mandatos parlamentares para, através de conchavos e cambalachos, exercerem seus mandatos legislando e tramando em causa própria. Enquanto seus eleitores agonizam.
O atual presidente do Senado comprou uma mansão de milhões de reais, em Brasília, enquanto os sem-teto e os moradores de rua dormem em caixas de papelão respirando o ar poluído dos vãos sob os viadutos. Enquanto a educação do país é uma caca institucional irreversível e a saúde mata mais do que beneficia os usuários do SUS e de outros sistemas de preservação orgânica e ambiental da população nacional.
Nesse contexto, as manifestações tipo passeatas de rua cobram a humanização da sociedade e se equivalem às comemorações pelas sete décadas do levante do guetogrado de Varsóvia.
A combatividade das pessoas em prol de seus direitos nas ruas do Brasil. Pessoas entrevistadas pelos jornais nacionais, cujos parentes foram vitimados pelo péssimo ou nenhum atendimento em hospitais municipais e estaduais que as fizeram chorar os crimes dessas instituições que os privaram de um atendimento hospitalar elementar. Essas pessoas sabem que são os verdadeiros assassinos anônimos e institucionais de seus entes queridos são os políticos. Os que representam apenas e exclusivamente seus próprios interesses.
Guetogrado é um termo que designa a associação com outro evento da IIª Grande Guerra: o prolongado certo de Stalingrado. Em ambos os eventos o exército alemão recrudesceu a repressão e a violência. Nas manifestações de rua, como nunca se viu antes nesse país, a violência e a repressão policiais também recrudescem. E a tendência é combater os direitos daqueles que os defendem em prol da condição social de mínima morália e cidadania.
Nessas manifestações populares não faltam balas de borracha e bombas de efeito moral. E o que é pior: posteriormente, sobram os discursos e atos falhos dos membros políticos nas casas governamentais que supostamente defendem os direitos dos que vão às ruas em busca de uma mínima moral elementar que fosse proveniente da conduta parlamentar de seus supostos representantes.
É impossível não sentir admiração e simpatia pela movimentação social dessas pessoas nas ruas do país. Elas clamam em entrevistas a jornais, rádios, em frente às câmeras de TV e em cartazes à mostra nas manifestações de rua, que dinheiro para a construção de estádios existe, mas para investimentos em educação, saúde, habitação, transporte e segurança, esses investimentos são mínimos. Insossos.
Investimentos governamentais em entretenimentos que visam à construção de templos para os trogloditas das chuteiras beijoqueiras não faltam, mas, investir em educação, saúde e em outros pilares da construção da dignidade e cidadania nacionais, esses investimentos são simplesmente mínimos e estão longe do padrão FIFA de qualidade.