Manifestações de rua massivas no Rio de Janeiro e em São Paulo no dia 17 de junho e Greve Geral no Rio Grande do Sul e no Espírito Santo no dia 11 de julho

sábado, 13 de julho de 2013

Manifestações de rua massivas no Rio de Janeiro e em São Paulo no dia 17 de junho e Greve Geral no Rio Grande do Sul e no Espírito Santo no dia 11 de julho

No marxismo, as coisas não são como nós as nomeamos e os homens não são o que pensam ser. Na verdade, as coisas são o que são, de forma objetiva, e os homens são aquilo que efetivamente fazem. A lógica da burocracia não consegue alcançar essa dimensão da concepção marxista da História por enxergar o mundo de acordo com a sua vontade e por má-fé, por tentar iludir as massas ou contornar as contradições da realidade, tentando sempre apresentar falsos resultados positivos ou situações perfeitas ou quase perfeitas decorrentes de suas políticas para se legitimar no poder. Além da burocracia, o centrismo também se recusa a chamar as coisas pelo seu nome e a ter uma atitude radical em relação à realidade, pautando-se em elementos puramente subjetivos e nas opiniões e acordos políticos com as direções. A organização nacional dos nossos partidos e centrais sindicais que, sem dúvida, é uma enorme vantagem, quando combinada com um distanciamento das direções das bases e com um pensamento esquemático, que sempre tem como referência situações passadas ou situações ideais, obscurece as especificidades, as particularidades, e trata, quase sempre, as desigualdades como um limite da realidade e não como uma expressão do próprio caráter contraditório da realidade humana e social. O materialismo dialético não existe para os burocratas, os centristas, os reformistas e os esquerdistas.

O dia 11 de julho foi uma greve geral. Isto não significa que houve uma paralisação geral em todos os estados e em todas as categorias da mesma maneira. Se por um lado é impossível dizer que houve uma greve geral no Rio de Janeiro e em São Paulo, mesmo com a forte paralisação em várias categorias e atos de milhares de trabalhadores e jovens, o que dizer do Rio Grande do Sul e do Espírito Santo? Houve ou não houve uma verdadeira greve geral nesses dois estados brasileiros. Vamos então aos números e às informações disponíveis. Segundo o SINDPPD-RS, a cidade de Porto Alegre parou com a greve nacional. Na capital gaúcha, "as garagens foram fechadas e nenhum ônibus circulou pela cidade". A CUT também informou que os ônibus não circularam em Porto Alegre e que o transporte coletivo parou na região metropolitana. Segundo a CUT, em Pelotas, "parou o transporte municipal e intermunicipal". Em Caxias do Sul, houve paralisação dos rodoviários, comerciários e bancários. O comércio e os bancos praticamente não abriram pela manhã. Na cidade de Rio Grande, "todo o Porto e o pólo naval foi paralisado". Além disso, o transporte coletivo não circulou e o comércio fechou. No site da Folha Vitória, é possível ler o seguinte: "Aproximadamente um milhão de trabalhadores não foram ao trabalho durante a Greve Geral que parou a Grande Vitória nesta quinta-feira (11)". No site é possível ler ainda a seguinte manchete de outra notícia: "Sem ônibus, lojas e supermercados fecham as portas na Grande Vitória". Ainda sobre a greve geral no Espírito Santo, o site informa: "A paralisação de 100% da frota de ônibus fez com que mais de 500 mil pessoas deixassem de ser transportadas". No chamado Dia Nacional de Lutas, pelo menos 57 rodovias foram interditadas ao longo do dia. O fato de estados como São Paulo e Rio de Janeiro não terem sido a vanguarda no dia 11 de julho não deve causar surpresa. Afinal, no dia 17 de junho, o dia em que a situação política do país virou definitivamente diante de uma das maiores mobilizações da história do país, foram justamente Rio e São Paulo os estados em que mais pessoas foram às ruas. No dia 17 de junho de 2013, dos cerca de 250 mil manifestantes nas ruas em todo o país, 100 mil estavam nas ruas do Rio de Janeiro, na Avenida Rio Branco, e 65 mil nas ruas da cidade de São Paulo. É absolutamente natural que haja um certo refluxo nessas regiões (embora seja quase piada chamar os atos de milhares que se deram nesses estados no dia 11 de julho de pequenos). É importante não incorporar a crítica feita pela grande mídia. Obviamente, este movimento da classe trabalhadora e dirigido pelas centrais sindicais não pode ser apropriado pela mídia burguesa e só resta a ela combatê-lo, diminuindo sua importância, sua extensão e seu significado. Assim, se por um lado a juventude foi o principal protagonista das manifestações de junho nas cidades de Rio e São Paulo, a classe trabalhadora organizada foi o principal protagonista da greve geral de 11 de julho de 2013 nos estados do Rio Grande do Sul e Espírito Santo. É assim que as coisas são. As expectativas projetadas pela burocracia sindical, que imagina que as bases pensam e agem como os dirigentes das centrais, que se reúnem e decidem que todos os trabalhadores em todos lugares vão se manifestar e paralisar com a mesma intensidade, é o que determina que se tenha optado por uma designação centrista para o dia 11 de julho. A expectativa irrealista de uma paralisação nacional maior do que a que houve neste dia baseia-se numa perspectiva idealista de "uma verdadeira greve geral" igualmente massiva em todo o âmbito nacional. É muito improvável que o chamado Dia Nacional de Paralisação convocado pelas centrais sindicais para o dia 30 de agosto seja maior do que o dia 11 de julho. Isso porque esta greve geral foi colada com as maiores manifestações da história do país ocorridas em junho. A tendência é que as coisas refluam no médio prazo, com o atendimento de algumas reivindicações, mesmo que de forma parcial, da juventude, dos trabalhadores e da classe média e que esse caráter diretamente político de mobilizações contra os governos e de ações de massas generalizadas se dissipe e que as categorias voltem-se para as suas questões específicas no segundo semestre de 2013. Isto não é algo necessariamente negativo. Na verdade, se por um lado a juventude foi a ponta-de-lança desse processo histórico que estamos vivendo, o ascenso de massas atual não começou com a juventude ou com a classe média, mas com a própria classe trabalhadora a partir do ano passado (2012), quando o número de greves no país saltou de 554 em 2011 para 873 em 2012, sendo que o número de greves durante o governo Lula foi relativamente baixo, entre 300 e 400 greves por ano, e que a maioria das greves ocorridas durante o governo FHC foram greves defensivas e, no último período, tem havido um aumento do número de greves propositivas, ofensivas. Ou seja, a classe trabalhadora está na ofensiva e mobilizada em várias categorias.

Outra questão importante é a proximidade das eleições. As centrais sindicais governistas foram à luta nessa conjuntura, mas não vão arriscar desgastar mais o governo Dilma. A tendência da CUT, da CTB e da Força Sindical é de "pisar o pé no freio" e se preparar para 2014. Não haverá uma greve geral chamada de greve geral nesse movimento unificado, porque isso significaria um enorme desgaste para o governo do PT. Por isso, é importante dizer as coisas como elas são: no dia 11 de julho de 2013, o PT enfrentou a primeira greve geral de seu governo e Dilma entrará para a história dessa maneira. Outro fato importantíssimo foi que a unidade da classe trabalhadora e a greve geral conseguiram barrar o avanço da extrema-direita e a possibilidade de um golpe fascista no Brasil, que não precisa ser necessariamente um golpe militar, podendo ser tanto um golpe parlamentar, como o que se deu no Paraguai, como um golpe dado pelo Judiciário reacionário através do STF ou por políticos de dentro do governo. O modelo de golpe fascista que nós temos na América Latina, de golpes militares, não é o único que existe. Os nazistas tiveram um crescimento eleitoral importante e aumentaram o seu número de cadeiras no Parlamento alemão e Hitler foi nomeado chanceler, por dentro do regime democrático liberal, antes de implementar o golpe nazista e a ditadura nazista. Vargas deu um golpe fascista, perseguindo a oposição e mudando a Constituição, quando estava no governo em 1937. É muita ingenuidade achar que os golpistas da direita vão avisar quando derem o golpe. De qualquer modo, pelo menos por enquanto, a possibilidade de um golpe no Brasil, que foi real a partir do dia 20 de junho, foi afastada, ao menos no futuro próximo. A tarefa agora, mais do que grandes atividades superestruturais e midiáticas, deve ser organizar as greves em todas as categorias de trabalhadores do país no segundo semestre e uma greve nacional estudantil a partir das universidades públicas e das escolas públicas secundaristas, radicalizando a luta da juventude estudantil. Uma nova greve geral é mais provável que aconteça depois das eleições de 2014, especialmente diante de uma possível derrota eleitoral do PT. Depois de agosto, o governo federal fará de tudo para fazer o país voltar à normalidade e a importante unidade entre as centrais sindicais, embora deva permanecer no campo da defesa das liberdades democráticas, converter-se-á em novos enfrentamentos políticos no interior do movimento nas batalhas que deverão ser dadas pela realização de cada greve em cada categoria. Do dia 13 de junho ao dia 11 de julho, vivemos dias de fúria no Brasil. Agora é hora de organização, de politização e de enraizamento nas bases dos setores organizados da classe trabalhadora e da juventude desse país desse sentimento de revolta no sentido de transformá-lo em ação política concreta e massiva. O dia 30 de agosto será importante e deve ser amplamente convocado, mas a tendência é que haja uma pressão para ações cada vez mais burocráticas e "para mostrar serviço" de parte das centrais governistas. Disputar o balanço e o significado do dia 11 de julho é fundamental até mesmo para tentar converter na prática (porque a prática é que importa e não como nós batizamos os "eventos" convocados por nós) o Dia Nacional de Paralisação numa nova Greve Geral, a segunda no governo Dilma.

Rafael Rossi