O 11 de julho e seu significado

quinta-feira, 11 de julho de 2013

O 11 de julho e seu significado

O Dia Nacional de Luta convocado para este 11 de julho de 2013 foi uma verdadeira greve geral. Os trabalhadores passaram a ser protagonistas nesse processo de lutas. As grandes manifestações de junho, iniciadas pela juventude e que se massificou com a adesão da classe média, marcaram uma mudança fundamental na conjuntura política do país. As manifestações de rua de milhares de pessoas dos dia 17 e 20 de junho colocaram os governos contra a parede. A tentativa da grande mídia e da direita reacionária e da extrema-direita de dirigir esse processo fracassou. Na medida em que as organizações da classe trabalhadora se unificaram e mesmo as centrais sindicais governistas vieram para as ruas contra as medidas do governo federal e dos seus governos aliados, os trabalhadores assumiram a direção das lutas.

O atual ascenso de massas teve início, na verdade, com a classe trabalhadora. Já no ano de 2012, o número de greves no país saltou de 554 em 2011 para 873 em 2012. A média do número de greves do segundo mandato de FHC foi entre 500 e 400 greves por ano. No primeiro mandato do governo Lula, a média foi de mais ou menos 300 greves por ano. E no segundo mandato do governo Lula a média foi de cerca de 400 greves por ano. O jornal Le Monde Diplomatique Brasil de julho de 2013 fornece os dados referentes ao número de greves por ano do período de 1998 a 2012. Os movimentos grevistas de caráter propositivo também tem aumentado progressivamente em relação às greves defensivas, que marcaram o governo FHC, que foi o auge do neoliberalismo no Brasil. Lula foi eleito em 2002 como uma expressão da crise do neoliberalismo e o Brasil seguiu a mesma tendência do restante da América Latina com a eleição de governos de centro-esquerda ou depois de revoluções e insurreições ou depois de grandes mobilizações nacionais. Para se ter uma ideia do significado do ascenso grevista que teve o seu auge até o momento em 2012, o Brasil nunca viveu um ascenso sindical e de massas igual ao que houve na década de 1980. Apesar disso, o ano de 1985 teve cerca de 843 greves, ou seja, um número total de greves menor do que o de 2012. A partir de 1986 o número de greves ultrapassou o número de mais de mil greves, tendo o importante número de 2259 greves em 1987, segundo estudo de Ricardo Antunes sobre o sindicalismo no Brasil.

Em junho de 2013, a repressão policial às manifestações pela redução das passagens de ônibus impulsionadas pelo MPL (Movimento Passe Livre) e que contou com a participação dos partidos da oposição de esquerda (PSTU, PSOL, PCB, PCO) desde o início levou o povo às ruas em solidariedade aos jovens e contra a corrupção e os elevados gastos públicos com os megaeventos esportivos (Copa das Confederações, Copa do Mundo e Olimpíadas). O dia 17 de junho teve cerca de 220 a 250 mil pessoas nas ruas de todo o país. A mobilização foi dirigida pela esquerda, mas o fato de contar com lideranças pequenas e ainda frágeis, permitiu que a grande mídia, que no princípio tentou criminalizar o movimento, como nos atos do dia 13 de junho protagonizados pela juventude, se relocalizasse e começasse a tentar dirigir o movimento de massas que surgiu. A Rede Globo cumpriu um papel muito importante enquanto principal partido da direita na condução da mobilização para um viés reacionário com contornos de golpe fascista, disseminando um discurso contra os partidos, contra os sindicatos e contra as instituições democráticas. Grupos neofascistas e neonazistas se infiltraram no movimento no dia 20 de junho e agrediram fisicamente de forma brutal e sádica os militantes do PSTU, PT, PSB e outros. Os partidos de esquerda, extrema-esquerda e centro-esquerda (PSTU, PT, PCB, PCO, PSOL, PSB e PCdoB) foram combatidos pelo discurso reacionário desta emissora que é herdeira da ditadura militar, que lucrou com a ditadura e que a apoiou e que segue cumprindo uma função de defensora do Estado terrorista contra a classe trabalhadora e suas lutas. Milhões foram às ruas, mas dirigidos majoritariamente pela direita. A oposição de direita (PSDB, DEM, PPS) se travestiu de patriota e nacionalista e tentou capitalizar um movimento que também era contra ela (o governo Alckmin, do PSDB, em São Paulo foi dos mais criticados e combatidos pela sua política de privatizações e pela truculência policial contra manifestantes e jornalistas comandada pelo governador). Um protesto de 1 milhão de pessoas no Rio de Janeiro na Avenida Presidente Vargas foi dispersada por um aparato repressivo chefiado pelo governador Sérgio Cabral Filho, do PMDB, aliado do governo Dilma. Ele transformou a Polícia Militar numa máquina de guerra contra os pobres e os trabalhadores. O auge dessa política repressiva foi o dia 20 de junho, com a violência policial descontrolada até mesmo contra pessoas que não estavam no ato, como os cidadãos cariocas que foram atingidos por bombas da polícia na Lapa, e na chacina cometida pelo BOPE na Maré. Desde o início dos protestos, Cabral colocou policiais infiltrados nas manifestações, informação que foi divulgada pelo governo, pelas polícias Civil e Militar e por emissoras de TV e jornais como se fosse um fato normal. Ou seja, desde os primeiros atos que provocadores são orientados a monitorar militantes e tem iniciado confusões e atos de vandalismo para justificar a repressão policial, além de se aproveitaram de ações isoladas de grupos de ultra-direita e grupos de ultra-esquerda para atacarem todos os manifestantes. Depois do dia 20, os atos se dividiram entre os atos da direita e os atos da esquerda e o que se viu é que os atos da direita foram diminuindo cada vez mais e os atos da esquerda foram crescendo. O Dia Nacional de Luta convocado pela CSP-CONLUTAS em 27 de junho marcou uma nova etapa do processo com o protagonismo dos trabalhadores, tudo o que o governo Dilma tentou evitar, inclusive na reunião que teve com todas as centrais sindicais. O Dia Nacional de lutas, greves e paralisações convocado pela CSP-CONLUTAS, pela CUT, pela CTB, pela Força Sindical e outras centrais sindicais do país se transformou numa verdadeira greve geral e conseguiu suplantar a confusão que vinha sendo criada a partir do Facebook, rede social que foi importante para a massificação do movimento, mas que também serviu de instrumento para que elementos de extrema-direita e policiais disfarçados convocassem atos e até uma greve geral, como foi o caso da suposta greve geral de 1 de julho, para direcionar o movimento para um caminho golpista e uma concepção fascista de sociedade e de Estado.

As grandes manifestações trouxeram várias vitórias para os estudantes e para os trabalhadores, como o arquivamento do projeto da cura gay e a redução das passagens de ônibus em todo o país. O protagonismo juvenil despertou a sociedade brasileira para a luta e trouxe a classe trabalhadora de forma massiva para a cena política, rompendo as amarras que o governo de Frente Popular do PT impôs ao movimento de massas ao atrelar os mais importantes movimentos sociais do país ao governo e ao Estado. Os jovens estudantes denunciaram também "as invasões bárbaras" da direita às manifestações populares e se uniram às organizações dos trabalhadores. Na greve geral do dia 11 de julho, várias categorias paralisaram suas atividades e fizeram atos. O site do PSTU informa que em São Paulo, na região do ABC e em São José dos Campos, os metalúrgicos fizeram paralisações e manifestações. Em Minas Gerais, os rodoviários e os profissionais de educação das redes estadual e municipal de Belo Horizonte paralisaram. No Pará e no Ceará, os operários da construção civil cruzaram os braços. No Rio de Janeiro, os trabalhadores dos Correios, os bancários e os profissionais de educação das redes estaduais e de várias redes municipais do Rio de Janeiro, inclusive da capital, paralisaram. Funcionários públicos federais e petroleiros em todo o país se somaram às mobilizações e paralisações. Segundo o site do Jornal do Brasil, a greve geral no Brasil teve repercussão na imprensa internacional, sendo noticiada pela rede britânica BBC e pelo site do jornal americano The Washington Post. No Rio Grande do Sul, a mobilização também foi forte. No Rio de Janeiro, um ato de 10 mil pessoas, pelo menos, percorreu o trajeto da Candelária à Cinelândia pela Avenida Rio Branco, sofrendo com as constantes provocações e agressões da polícia com bombas de gás lacrimogênio e spray de pimenta. O ato contou com a participação de todas as centrais sindicais e com a presença de sindicatos importantes como o SEPE-RJ e de movimentos como o MST e entidades nacionais estudantis como a UNE e a ANEL. Apesar do ato pacífico e organizado, previamente informado às autoridades, os ataques às liberdades democráticas e aos direitos humanos e o desrespeito à Constituição se manifestaram de forma dramática na desesperada tentativa do governador Cabral de impedir que o ato terminasse na Cinelândia e fosse um sucesso. Mas o apoio popular ao protesto, com os papéis picados caindo dos prédios da Rio Branco, e às palavras de ordem de "Fora Cabral e Eduardo Paes" e "Abaixo a repressão" não pode ser escondido, mesmo com os acordos que os governos Cabral e Paes tem com a Rede Globo, que, aliás, também foi criticada com palavras de ordem como "A verdade é dura, a Rede Globo apoiou a ditadura". O ato defendeu o fim do fator previdenciário, os 10% do PIB para a educação pública, a redução da jornada de trabalho, mais dinheiro para a saúde e a educação, tarifa zero para os transportes públicos e a reforma agrária, além das pautas específicas de cada categoria mobilizada, e o mesmo se deu em todo o país. A mobilização também foi forte em Brasília e ocorreram paralisações importantes em diversas categorias no Espírito Santo, como foi noticiado pelo próprio canal Globo News, depois de uma análise de conjuntura míope do sempre extremamente tendencioso Merval Pereira. Diante da crise de dominação ideológica da classe dominante nessa conjuntura de crise econômica mundial e desgaste do atual modelo de governo baseado em alianças de vários partidos para estabelecer governos autoritários contra o povo e a serviço das grandes empresas e de grandes empresários como o folclórico e midiático Eike Batista e o outro empresário amigo de Cabral, Cavendish, além da ingerência de organizações internacionais como a FIFA na política nacional e a utilização de verbas públicas para projetos que não atendem aos interesses da população brasileira, o Estado tem se tornado cada vez mais terrorista e fascista. Os governos Cabral e Alckmin são abertamente fascistas e não podemos esquecer jamais os massacres do Pinheirinho e da Maré. O direito à manifestação foi, na prática, revogado nos estados do Rio de Janeiro e São Paulo. A luta atual também é uma luta em defesa das liberdades democráticas e contra a criminalização dos movimentos sociais e da pobreza. O prefeito do Rio, Eduardo Paes, responsável pelas remoções criminosas de famílias pobres e que violam os direitos humanos, segundo denúncias da própria ONU, e pela privatização da educação municipal também foi alvo do protesto e a rede municipal de ensino do Rio está às vésperas de uma greve depois de mais de dez anos sem greve na categoria. A repressão policial brutal às manifestações tem sido criticada pela Anistia Internacional e é uma clara reedição das práticas da ditadura militar. A ABI, por meio de seu jornal e de seu site, também tem feito denúncias constantes dos fatos graves de violação de direitos que tem se repetido ao longo desses dias.

O dia 11 de julho já é um marco na história da classe trabalhadora brasileira. Já pode aparecer ao lado de importantes movimentos dos trabalhadores como a greve geral de 1917 e as greves gerais da década de 1980, dadas as devidas proporções, mas sem hesitar em chamar as coisas pelo seu nome, sem vacilação por medo de serem apontadas as desigualdades e contradições em nível nacional. A maioria dos trabalhadores que parou e foi às ruas o fez em nome da construção de uma greve geral e essa deve ser a primeira de muitas nos próximos anos. O período de refluxo, marcado por marchas à Brasília e Dias Nacionais de Luta que quase sempre eram ações de vanguarda ou minoritárias de massas como forma de resistência trabalhista aos governos e seus ataques, deve ficar para trás. As manifestações de junho de 2013 só encontram paralelo nas manifestações pelas Diretas Já e no Fora Collor. E o Dia Nacional de Luta de 11 de julho de 2013 só é comparável às greves gerais da classe trabalhadora brasileira no passado. A própria mídia burguesa teve que reconhecer esse fato. Pode não ser ainda tão massiva quanto gostaríamos. É verdade que os atos foram menores que os de junho, mas, ainda assim, milhares de pessoas no Brasil inteiro foram às ruas e várias categorias pararam, mesmo que com desigualdades entre um estado e outro, variando as categorias que protagonizaram a paralisação e a mobilização em cada região. No site da CUT há uma divulgação dos números do dia 11 de julho. Segundo a Central Única dos Trabalhadores, São Paulo teve um ato de 15 mil pessoas; 10 mil pessoas participaram das manifestações em Alagoas; e o número de manifestantes divulgado pela central no ato do Rio de Janeiro é de 20 mil pessoas. O site da CSP-CONLUTAS divulgou uma paralisação de 100% dos trabalhadores da Petrobrás em Aracaju, Sergipe. O site da CTB divulgou a mobilização dos comerciários no Rio Grande do Sul. O site do PCdoB divulgou informação do Sindicato dos Metalúrgicos de São Paulo que pelo menos 100 mil trabalhadores da categoria realizaram atos em 37 pontos diferentes. A Força Sindical divulgou informação do Sindicato dos Metalúrgicos de São Caetano do Sul, em São Paulo, de que 100% dos trabalhadores paralisaram suas atividades na unidade da General Motors. A unidade classista contra todos os governos, inclusive o governo federal, é o que permitiu esta enorme vitória. É preciso superar ainda o terrorismo de Estado contra os protestos pacíficos nos principais estados do país e cumpre um papel fundamental a propaganda política em defesa das liberdades democráticas nas universidades, nas escolas, nas fábricas e em toda parte e a constituição de um sério movimento de massas pelo Fora Cabral no Rio e pelo Fora Alckmin em São Paulo. O dia 20 de junho foi um marco na luta de classes em nível nacional com a emergência das contradições sociais na forma de uma polarização política que se expressou na luta física entre socialistas e nazifascistas. Foi uma evidência da divisão existente no interior da sociedade civil brasileira. O dia 11 de julho foi um marco da polarização política e da radicalização das lutas entre as organizações da classe trabalhadora e da juventude e os governos de todos os partidos no poder a serviço do capital. Viva a luta dos trabalhadores e da juventude! Viva a greve geral!

Rafael Rossi