LIBERDADE

Liberdade

De acordo com o pensamento existencialista, a existência tem prioridade sobre a essência, conceito que se materializa na famosa afirmação de Sartre de que “a existência precede a essência”. Essa definição instaura precisamente valores fundamentais como a liberdade e a responsabilidade do ser humano. Ou seja quer dizer que o homem não possui uma essência antes de tudo, preexistente e da qual ele seria refém, e sim que ele existe primeiro, antes de poder ser enquadrado em qualquer conceito, e somente será aquilo que ele próprio decidir ser, quando, no dizer do filósofo André Comte-Sponville, "puder falar de sua essência no passado". Em outras palavras, o ser humano é absolutamente livre, primeiro existe, aparece no mundo, encontra a si mesmo e só depois vai se definir. Dessa maneira, da forma pela qual é entendido pelo pensamento existencialista, o ser humano, se não admite seu enquadramento em qualquer definição, é porque inicialmente ele ainda não é nada. Somente virá a ser num estágio posterior. De acordo com Sartre, em que propôs o existencialismo como um humanismo, "assim, não há natureza humana, pois que não há Deus para concebê-la. (...) O homem não é nada além do que ele se faz". Tem-se, portanto, que o existencialismo é, no sentido metafísico do termo, uma filosofia da liberdade, das mais radicais que já houve.

Os homens imaginam ser livres, escreve Spinoza, por que têm consciência das suas volições e dos seus desejos, e não pensam, nem em sonhos, nas causas pelas quais se dispuseram a desejar e a querer, por não terem o menor conhecimento delas. Você faz o que quer? Claro! Mas por que quer? Sua vontade faz parte do real: ela está submetida, como todo o resto, ao princípio de razão suficiente (nada existe sem razão: tudo se explica), ao princípio de causalidade ( nada nasce de nada: tudo tem uma causa), enfim ao determinismo geral dos seres macroscópicos. E ainda que houvesse, no nível microscópico, um determinismo último nem por isso você deixaria de ser determinado, no nível neurobiológico, pelos átomos que o compõem. Os movimentos deles podem ser aleatórios, mas está fora de cogitação que eles obedeçam à sua vontade: ao contrário, ela é que depende deles. O acaso não é livre. Como uma vontade casual poderia ser? A liberdade não é uma coisa. ? Se não existe liberdade, quem somos nós? Joguetes em pleno universo. É esta a razão de nossas angústias. Para as apaziguar queríamos surpreender a liberdade em flagrante delito, tocá-la como se toca num objeto, pelo menos prová-la como se prova um teorema; assentar definitivamente em que há liberdade no mundo. Mas em vão. A liberdade é afirmação da pessoa, vive-se, não se vê. No mundo objetivo senão coisas dadas e situações que se cumprem. Por isso, porque não podemos instalar nele a liberdade, procuramo-la nas suas formas negativas; uma ausência de causa, uma lacuna no determinismo. Mas, que posso eu fazer com lacunas?

A discussão sobre a liberdade segue caminhos tortuosos, em movimentos nunca estabilizados. Não é questão acabada. Há dificuldade de delimitação entre a liberdade entendida como não impedimento e a liberdade entendida como expressão da vontade comum.

Ambas não prescindem da autonomia e capacidade de autodeterminação. Daí a dificuldade de determinação do âmbito de proteção, de tutela da liberdade. Preocupações existem quanto à preservação da liberdade de ação subjetiva, segundo valores e interesses próprios, um espaço que a ninguém cabe interferir.

joao pereira lima da silva
Enviado por joao pereira lima da silva em 10/07/2013
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