Racismo e Opressão
Racismo e Opressão
Estamos completando 312 anos da destruição de Palmares, o Território de Resistência Quilombola que acolheu negros, índios e brancos no sonho de conquista da liberdade, da dignidade, em busca das terras perdidas. Afinal, de onde vem o estimulo ao racismo? Para não ir longe, desde o circuito familiar, das rodas mais abrangentes que frequentam nossa iniciação no Mundo. Depois vem a escola, os meios de comunicação, as elites, as Universidades, a Justiça, o Estado. As raízes do pensamento preconceituoso, machista, homofóbico, racista, vem alicerçadas em nosso país, especialmente vinculadas ao colonialismo. O sistema educacional de saúde, desde as creches, do ventre das mães, são espaços potentes de argumentação intersubjetiva e ampliação das vertentes racistas. Sistematicamente, aqueles que cometem atos de racismo, negam a sua ocorrência. Tentam esconde-lo motivado pela pobreza ou pelas desigualdades sociais. Não, é de pele, é de cor, é étnico. O discurso, a fala e expressões representam e reproduzem a pretensa superioridade eurocêntrica. Os detentores e controladores da opinião pública (professores, profissionais de imprensa, propaganda, mídia, pesquisadores, escritores) são transmissores do discurso da elite social. O chamado eurocentrismo, vem de muitos séculos da colonização européia, onde os não europeus, tidos como inferiores e segregado. Dai espalhou-se a ideologia que legitimou a exploração e a marginalização. O capitalismo, o endeusamento do mercado, o lucro, tem no racismo uma base de sustentação. É o que assistimos hoje aqui em Mato Grosso, as populações indígenas, legitimas detentoras das terras, são ostensivamente violentadas, oprimidas e exploradas. Está na praça o retorno de idéias pseudo-cientificas, colocando o primitivismo, a inferioridade e a necessidade de combater a rebeldia e falta de integração! Está na pauta aqui em Mato Grosso, o caso dos Xavantes, na sua luta de retorno aos territórios sagrados e de ancestrais Marãwaitsédé, em Mato Grosso do Sul os Guaranis- Kaiowás. É fio de meada o levante contra as agressões impostas, e o racismo, que também é institucional, envolve ostensivamente o Governo do Estado, a maioria dos políticos, a Justiça como um instrumento de perpetuação, ou libertação. Aqui em Cuiabá, porões nauseabundos, exalam historicamente os odores inapagáveis do sangue Bororo e outras nações indígenas, de negros cativos, assassinados, pós-escravidão transatlântica. A história Afro-ameríndia tem um fio condutor: a discriminação e o racismo, sustentados pelo falso discurso da democracia racial. O racismo está assentado no binômio opressor/oprimido. Impor baixa estima crônica, pior ainda com as mulheres, onde se vincula o machismo e a violência.O racismo de Estado, institucional,impõe exclusão nas políticas publicas e no direito a ter direito. Ele é estrutural e institucional, permeia e atravessa todas as instituições da sociedade civil e do Estado. Como aqui em MT, chega ao genocídio. Tudo naturalizado e cotidianizado, disperso em todos os espaços, até o imaginário coletivo. Quando não é visto, é tangível, mesmo invisível, faz vitimas aos montões diariamente. Vemos aqui em MT, o Estado exclui, combate, ou não promove políticas conseqüentes para povos indígenas e quilombolas. Temos índices de assassinatos maiores que situações de guerra, maioria são jovens negros. No espaço de minha carreira docente, o sentimento de hostilidade as cotas raciais é expressivo, apesar de tantos apoiadores qualificados. Queiram ou não, as experiências estão em curso, legitimadas social e politicamente. O recente projeto de Cotas do Governo Federal, apesar de bem-vindo, contém armadilhas. É uma aritmética exclusionista, na verdade impõem uma redução no número de vagas. A luta pela autonomia da s Universidades pode recompor isto? O Estatuto da Igualdade Racial, é na verdade uma carta de princípios, não exerce nenhuma determinação especifica enquanto poder político. Parece que o ponto mais relevante, é que com o Estatuto, o Estado Brasileiro reconhece que há racismo. Bem vinda a proposta de Marta Suplicy no MINC, cotas para produtores negros. O Povo Remanescente de Quilombo continua sem suas terras, em MT tudo parado. A SEPPIR, Governo Federal, é um mero órgão articulador com outras políticas, de ação limitadíssima. O INCRA poderia resolver imediatamente a questão destas terras se o Governo quiser sair do jogo de cena, como no caso das terras indígenas em relação a FUNAI, se a Justiça não impedir que a verdadeira justiça vença. Cuiabá e Várzea Grande tornaram-se um grande Quilombo Urbano. Mato Grosso, terra de índios expulsos dos seus territórios, invadidos, destruídos, estão excluídos dos bens da sociedade. A violência abate a população negra e indígena. Palmares vive. Saudações a coragem e decência de Joaquim Barbosa, que toma posse como Presidente do STF e do Conselho Nacional de Justiça. Orgulho de todo país, confrontando a trajetória de miséria ética, jurídica e política.
Waldir Bertulio - Professor da UFMT