Questões fundamentais: as palavras-de-ordem e ações para a situação atual
terça-feira, 25 de junho de 2013
Questões fundamentais: as palavras-de-ordem e ações para a situação atual
Não acredito que exista em curso uma tentativa de golpe militar no Brasil, mas sim de golpe fascista, o que é relativamente diferente. O PT tem que parar de agitar avaliações equivocadas. Eu vou tentar me explicar melhor. Com o rechaço às ditaduras militares na América Latina, que foram derrotadas por amplos movimentos de massas e por serem ainda muito recentes, a direita reacionária tem optado por dar golpes de direita por dentro do regime democrático burguês, para a partir daí estabelecer ditaduras bonapartistas (não digo fascistas ainda). Este é o caso de Honduras e do Paraguai, onde se recorreu a golpes parlamentares. Mas não acho que seja isso em curso no Brasil. Aqui parece ser um pouco pior. E por que digo isso? Porque no Brasil as próprias instituições democráticas estão em crise e não só o governo. As manifestações, inclusive as de direita, foram contra o Congresso também. Isso é sempre negativo? Evidente que não. No Equador, em 2000, uma das maiores revoluções dos últimos tempos, destituiu o governo e o Parlamento burgueses, mas o processo foi dirigido pelos movimentos sociais e com a mobilização das massas indígenas e camponesas, ou seja, dos trabalhadores e dos oprimidos. Por poucas horas o poder político esteve nas mãos do Parlamento dos Povos. A marcha indígena que iniciou a insurreição foi dirigida pela Conaie. Mas não é esse o caso. Uma mobilização de massas de conteúdo fascista é o que temos no Brasil hoje depois da mobilização popular dirigida pelos movimentos sociais, o principal deles o MPL (ao contrário do que se tenta impor como verdade de que foi um processo espontâneo), que teve o seu auge no dia 17 de junho de 2013, com centenas de milhares nas ruas de todo o país, com um claro conteúdo de esquerda. A proposta de impeachment da Dilma tem relação com esse novo movimento, que surge do anterior, mas que foi apropriado pelo maior partido político do Brasil - a Rede Globo - e pelo maior movimento fascista do Brasil - a grande mídia. Isso quer dizer que qualquer proposta de impeachment a um governo do PT é um golpe, como os defensores do governo parecem sugerir sempre? Não, não quer dizer. Assim como as massas derrubaram Collor com um impeachment, poderiam fazer o mesmo com um governo do PT, desde que fosse um processo liderado pelos movimentos sociais e por uma oposição de esquerda forte e com base e influência de massas e que se orientasse ou no sentido de um processo verdadeiramente revolucionário rumo ao socialismo ou, pelo menos, em direção a um processo que culminasse numa Assembleia Nacional Constituinte democrática e em eleições gerais com a livre participação de todas as organizações políticas. Não é esse o caso. Por que eu fiz a diferença entre golpe militar e golpe fascista? Um golpe fascista pode ser dado desde de dentro do governo, como fizeram Getúlio Vargas (primeiro era chefe de um governo constitucional e depois se tornou um ditador abertamente fascista no Estado Novo) e Hitler (que concentrou poderes em suas mãos, tendo primeiro os nazistas crescido no Parlamento e Hitler assumido o cargo de chanceler para só depois se tornar o Fuhrer). Nesse sentido, acho que os petistas deviam se preocupar muito mais com o Michel Temer, vice da Dilma, muito mais habilitado a dar um golpe bem-sucedido do que o político fraco que se mostrou o Aécio. O fascismo está representado hoje pela grande mídia, especialmente a Globo, pelos militares golpistas e torturadores da ditadura que temem ser punidos por seus crimes, pelos grupos neonazistas e neofascistas organizados nos atos e na internet, pelos governadores Sérgio Cabral do Rio e Geraldo Alckmin de São Paulo e pelos latifundiários que estão na base do governo Dilma, mas que o MST e outras organizações camponesas e de trabalhadores rurais e sem-terra sabem muito bem o quão fascistas eles são. A vantagem é que os Estados Unidos não apóiam as manifestações atuais (nem as de direita). Para os EUA, a estabilidade política no Brasil é importante, porque a estabilidade na América Latina depende disso. Também é errado ficar agitando, e isso a militância do PT também tem feito, a unidade da esquerda contra o fascismo. Não existe unidade programática entre toda a esquerda, infelizmente. Nesse sentido, é mais correto o que tem feito o PCB e o PCO que é agitar a frente única antifascista, o que é diferente. Significa reconhecer que temos diferenças, que continuaremos a ter diferenças, que uns continuarão contra o governo e devem continuar e outros continuarão a apoiá-lo, mas, apesar disso tudo, existe a necessidade de uma unidade, que não é eleitoral, até porque não será a derrota eleitoral do PSDB e do DEM que derrotará o fascismo, pelo contrário, o fascismo poderá continuar crescendo no Estado e na sociedade civil ainda mais com a reeleição de Dilma, mas nas ruas. A frente única antifascista é uma frente de combate. É a maneira que as organizações de esquerda e operárias tem de resistir politicamente e fisicamente aos ataques políticos e físicos dos fascistas e dos nazistas. O PSTU também acerta ao chamar o Dia Nacional de Luta no dia 27 de junho, aproveitando o momento de mobilização e de crise para colocar em movimento também a classe trabalhadora organizada. A pior coisa a fazer nesse momento que o gigante da contrarrevolução se levantou seria ficar a esquerda desarmada. Precisamos mobilizar nossas bases, pois, repito, se houver um golpe, não será contra a Dilma, será contra nós e devemos estar preparados para defender as nossas liberdades democráticas e mesmo esse governo, resistindo militarmente se for o caso, como foi em 1961 contra o primeiro golpe militar, esse derrotado. Outro erro é comparar o momento atual com o da década de 1960. Se existe algum paralelo, ele é com o da década de 1930, inclusive no Brasil. Na época, os fascistas também passaram a atacar os movimentos de esquerda, não apenas com o aparato repressivo de Estado, mas com grupos de civis, os integralistas. Naquela época, os comunistas e os trotskistas também organizaram a frente única antifascista e combateram nas ruas, com política e com violência revolucionária a violência fascista. O MPL fez certo em se retirar das manifestações depois do dia 20 de junho, quando grupos de neonazistas agrediram fisicamente e de forma brutal os militantes de partidos de esquerda. Mas também voltaram para as mobilizações, só que agora na periferia. Não há outro caminho. Não podemos nos misturar com a massa de manobra da direita. Temos que mobilizar a classe trabalhadora organizada, a juventude estudantil, o povo pobre organizado nos movimentos populares e os setores médios politizados, a classe média politizada e intelectualizada que fornece quadros para a esquerda e que sempre foi sua base de apoio contra o lumpenzinato, a massa da classe média despolitizada, individualista e reacionária, a alta burguesia e a juventude de classe média alta fascista. Essa é a batalha que se dá na sociedade civil. Os nossos atos tem que ser junto das nossas bases, com os nossos métodos de luta, com as greves, com as paralisações, com as ocupações de terras, ocupações de prédios públicos, ocupações de fábricas, ocupações de reitorias, tudo aquilo que sempre assustou a burguesia. Essa é a única maneira de fazê-los recuar, ainda mais no atual cenário de crise econômica, e de acumularmos forças para o próximo período, rumo à construção de uma greve geral pela redução da jornada de trabalho, aumento geral dos salários e em defesa dos serviços públicos de qualidade. As palavras-de-ordem tem que ser colocadas de maneira correta e as ações tem que estar de acordo com a nossa estratégia e com a natureza dos nossos movimentos.
Rafael Rossi