O Fim pelo Meio

Apesar de exceções existirem, praticamente nenhum político no Brasil tem a menor credibilidade diante da opinião pública. Mas todos têm as maiores facilidades previstas na legislação específica em vigor no país. Com relação aos juízes, acontece mais ou menos o mesmo.

O que dizer de um Presidente do Senado que esteve, antes de eleito, envolvido em diversos tipos de falcatruas que lhe valeram denúncia criminal ao Supremo Tribunal Federal pelo Procurador-Geral da República?

O que dizer de um bigodudo, pretensamente “imortal” por pertencer à Academia Brasileira de Letras, que se mantém no poder desde o início da ditadura, tendo sido eleito presidente do país, ao cabo do período de exceção, por não representar ameaça aos militares?

O que dizer do expressivo salário do técnico de uma equipe de futebol, com o maior número de torcedores no país, em relação aos salários de professores, médicos, trabalhadores em geral, incluindo-se os policiais civis e militares de baixo escalão?

O que dizer das negociações, envolvendo até a criação de cargos a nível ministerial, entre membros do governo e adversários em busca de uma aliança que favoreça os dois lados?

O que acha disso um pintor de paredes? Ou o trabalhador informal, que conta com os megaeventos, o Carnaval, festas juninas, etc. para vender o seu churrasquinho, eventualmente de carne de gato?

E o mensalão? De que tanto se falou, de discussões intermináveis entre ministros togados (ou fantasiados?) que de nada adiantaram? Pois nos cofres públicos continuam faltando as elevadas somas desviadas e que, presume-se, nunca lhes serão restituídas?

As repostas a essas perguntas encontramos nos dias que estamos vivendo. Em que as pessoas se vingam no capacete do policial, no próprio policial (que também é povo), nos veículos particulares ou do serviço público, adquiridos com o dinheiro do contribuinte, nas vidraças das lojas, nos caixas eletrônicos dos bancos, etc. Embora conscientes de que essa catarse coletiva tem a sua duração. Ao fim da qual o saldo apurado, infelizmente, poderá não ser o pretendido.

As Torres Gêmeas que o digam. Foram explodidas, com a perda injusta e lamentável de vidas inocentes. E o status quo? Continua presente. Sim, valeram enquanto protesto. Mas o que de fato conseguiram?

De qualquer forma, os protestos serão sempre bem-vindos e necessários. A população não pode permanecer ordeira diante da sucessão de desajustes impostos pelos governantes. Sobretudo quando se encontram tranquilamente nadando num mar de corrupção que é muito grande para não ser percebido pelo povo.

No entanto, será preciso que encontremos meios de fazer com que nossos protestos tenham uma dimensão maior. Evoluindo da exteriorização psíquica, que se manifesta através de atos agressivos e alucinadas depredações, para a real modificação da conduta e ação dos governantes. E provocando uma aproximação maior entre os que dominam e os que são dominados. De modo que os primeiros percebam que não poderão chegar muito longe sem a nossa participação, no que estiverem fazendo em benefício da comunidade. Como no estabelecimento de medidas que, até pela consideração demográfica dos que a elas estarão sujeitos, deveriam atender preliminarmente aos que nunca são atendidos.

Rio, 18/06/2013