Carta aberta à presidente Dilma Roussef
Excelentíssima presidente Dilma Rousseff...
Não é a primeira vez que escrevo para um presidente de nossa combalida república – já o fiz anteriormente, à época do famigerado Collor, tão execrado por seu partido e hoje seu amigo figadal e lacaio, denunciando-lhe as tramoias que eram efetuadas na Casa da Moeda com a emissão paralela de nosso dinheiro e que resultou na demissão de sua diretoria, comprovadas minhas acusações, dentre outras tantas. Assim, não sou um neófito e reporto-me a seu pronunciamento de ontem, em cadeia nacional de televisão e rádio.
Por ser brasileiro, com mais idade que você e, mais ainda, como você, por ter um passado e um currículo de lutas contra o regime militar, mesmo que jamais tendo pego em armas, assaltado, roubado valores ou bens, sequestrado, explodido bombas, ferido ou matado qualquer de meus oponentes, mesmo após ter sido por eles baleado e perseguido em minha vida profissional, permito-me dirigir-me à mais alta autoridade de meu Pais sem a deferência que o cargo me recomendaria, tratando-a simplesmente como mais uma brasileira, não como presidente ou presidenta, se assim o prefere.
Para um pleno entendimento do que tenho a lhe transmitir, seguirei seu pronunciamento, previamente preparado por seus assessores, mestres na arte de dissimular, pronunciamento objetivo porém sem apresentar qualquer propósito, metafórico e esquivo. Vamos lá:
1 – O que o Brasil ainda não conseguiu realizar , não o foi por causa de limitações políticas e econômicas como alardeado e sim, por pura incompetência, por carência de propósitos, de brasileirismo de nossos governantes, em todos os níveis, passados e atuais. O Brasil é um pais riquíssimo de recursos, tanto que conseguiu sobreviver à saga de tantos desonestos durante tantas décadas.
2 – Realmente, como presidente ou presidenta, você tem a obrigação tanto de ouvir a voz das ruas, como dialogar com todos os segmentos, mas tudo dentro dos primados da lei e da ordem, indispensáveis para a democracia. E não é democrático intervir, autorizar ou permitir que intervenham nos trâmites judiciais quando atingem os “companheiros” envolvidos em comprovadas falcatruas, como no caso do mensalão, conceder benesses a países “amigos” por serem de sua mesma coloração como Irã, Cuba, Venezuela, Argentina, Peru e Bolívia, subtraindo de brasileiros que trabalham cinco meses ao ano somente para pagarem impostos.
3 - Essa violência que envergonha o Brasil, promovida por uma pequena minoria, conforme apregoado por você, Dilma, se dilui e desaparece frente às demais que muito mais nos envergonham – o baixíssimo nível de nossas escolas e ensino, os baixos salários pagos a nossos professores e médicos, o estado precário de nossa saúde, a inexistência de serviços sanitários, o valor aviltante das aposentadorias, esta corrupção que nos assola, a impunidade, os conchavos, a violência urbana, a volta da inflação, a quantidade e valor dos impostos que pagamos sem ter nada em troca, o exorbitante salário e benefícios dos políticos, a falta de uma oposição ao governo, a falta de vergonha na cara de todos os governantes, as nossas estradas e a ineficiência do transporte público, os exorbitantes valores pagos a título de pedágios, o valor dos combustíveis, a costumeira prática da troca de votos por cargos públicos, a troca de votos da população menos esclarecida por pequenas melhorias públicas ou por inclusão em qualquer de suas “bolsas”, pelos políticos condenados pela justiça ainda na ativa, dos “mensaleiros” que mesmo após terem sido julgados e condenados ainda estão livres, dos partidos políticos que mais parecem quadrilhas e cooptados para sua sustentação, do preço dos estádios para a copa do mundo, por seus superfaturamentos e da má qualidade das obras públicas, da mídia tendenciosa e vendida, da percepção de que não somos representados por nossos governantes... Como se vê, uma lista interminável e que pode ainda ser multiplicada ad-aeternum.
4 - Quando você diz que “as manifestações dessa semana trouxeram importantes lições: as tarifas baixaram e as pautas dos manifestantes ganharam prioridade nacional...”, procura espertamente minimizar todos estes fatos incontestáveis e olvida-se que os 20 centavos foram simplesmente o catalisador de todas nossas angústias, não sua essência. Em seu passado de guerrilheira, você bem sabe que não será esta sua “concessão” que nos deterá – você não mais tem o poder de calar o grito das ruas.
5 – Realmente, sua geração -a que com muito orgulho pertenço- lutou muito para que a voz das ruas fosse ouvida. Muitos foram perseguidos, torturados e morreram por isso. Mas você se esqueceu que, principalmente, ela foi perseguida, torturada e morreu por ideais bem mais nobres que o de meros enriquecimentos pessoais, pela simples obtenção e detenção de poder, a qualquer custo.
6 -. Realmente, a mensagem que lhe foi dita mui claramente, não exige serviços públicos de mais qualidade, posto que inexistente – exige serviços públicos com qualidade; ela quer escolas de qualidade; ela quer atendimento de saúde de qualidade; ela quer um transporte público melhor e a preço justo; ela quer mais segurança. Sim, ela quer mais, muito mais. Ela quer que você se transforme e se apresente como uma estadista, como uma brasileira, administrando um país de 200 milhões de habitantes e não de e para alguns milhares de “cumpanheiros” , encastelados em cargos públicos.
7 – Sim, você está certa ao assentir placidamente que as instituições e os governos devem mudar, que irá conversar, nos próximos dias, com os chefes dos outros poderes para somar esforços, para convidar os governadores e os prefeitos das principais cidades do País para um grande pacto em torno da melhoria dos serviços públicos. Faça isto enquanto é tempo, mas lembre-se que as mais impactantes das medidas acima arroladas dependem única e exclusivamente de você, não deles, enquanto ainda presidente ou presidenta desta nação.
Atenciosamente,
Luiz Henrique Mignone
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