AOS ROJÕES , SEM DEMORA!

Não tenho o hábito de contar o tempo . E isto por que ele , o tempo, é um senhor teimoso , passa e passa . E eu , sendo humana , preciso dar a mão à palmatória , não querendo brincar de medir forças com ele. Então , apenas trato de buscar maneiras de minimizar os resultados desta sua teimosia . Primeiro , apurando a memória em cada oportunidade que me aparece pela frente . Depois , usando toda a carga de alegria que domina o meu ser , administro o envelhecimento geral do corpo . Ora ... Mitologia ou não , Chronos é um Deus !

Mas o país onde eu nasci tem vivido um momento grandioso e já a uns quinze dias . As passeatas . Venho observando tudo , pela televisão. E também , venho pensando com os meus botões , “nossa ... eu queria que isto pudesse ter acontecido lá atrás , enquanto eu beirava aos meus vinte anos de idade “ . Gente , não se trata de nostalgia a la Fábio Júnior . Eu nasci , cresci , estudei e comecei a trabalhar durante o período da Ditadura . Não gostei nada , nada . Se tentei fazer alguma coisa , participando de um ou outro movimento , ainda que suave ? Claro ! Só que não saía do lugar , do mesmo jeito que nenhum dos meus colegas . Porque era a Dita , duríssima , escorregadia , maquiavélica , debochada , assassina , que perdia a memória em sutilezas mas que gravava - e tão bem - a cada palavra , a cada ato que nós cometíamos , inocentes . E os meus vinte anos chegaram e passaram , indo adiante , somando .

Tive os meus filhos , alimentei , cuidei , eduquei , acompanhei e também aos colegas deles , sendo-lhes um disfarce de mãe e de tia , esta última classificação sob referência ao fato de ser professora . E vi que floresceram cidadãos . Mérito ? Não , obrigação divina , rigorosamente , nada mais natural . E agora , estou obrigada a falar do tempo , sim . De lembrar os anos que passaram . A legitimidade das passeatas vai além da Carta Constitucional , é uma questão de honra nacional atrasadíssima . E não estou dando a mínima para a rima que forcei , os gramáticos que se explodam ! O que me incomoda , de verdade, é esta “cegueira” para com estes aprendizes de coisa nenhuma , filhos à toa na vida , endinheirados , desculpados , que entenderam de darem as mãos à orquestrações várias , sempre movidos para o descrédito de nossos pensamentos e atitudes . Eles são o câncer social que precisamos operar , extirpando-os . A façanha mais nobre conquistada foi a de igualarem-se ao sujeito , o imbecil , que ousou propôr uma PEC , a infeliz de número 37 ... Não peço a Deus que o ilumine , o presenteie com uma lobotomia relâmpago , posto que ter nascido com um cérebro alojado dentro do crânio é um fato impossível de ser comentado . Pergunto , já não basta ver que o senado tornou-se particular , sendo passado adiante , feito hereditariedade ? Então , o Deus do tempo tem que me perdoar porque estou contando , sim, as horas , os dias , os meses e os anos . Para acordar num país libertado dos horrores da feira pagã dos partidos políticos , das imagens televisivas de última hora arrumadinhas e dos mantras escorregadios . Estou lançando uma praga tecnológica , a do Big Brother Urbano , que vai nos revelar se é moda o colírio de pimenta e outros apetrechos . E quero fazer um pedido, o da imitação , para o caso das idéias virem a faltar por conta da urgência do momento : façam como os vizinhos argentinos !

Há um relógio , fazendo tic-tac . E ainda estão muito vivas as pessoas que cantaram as letras de Chico Buarque enquanto eu dormia , sonhando com os meus vinte anos de idade .

Josí Viana
Enviado por Josí Viana em 22/06/2013
Reeditado em 27/08/2014
Código do texto: T4352806
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