A NECESSIDADE DA FRENTE ÚNICA ANTIFASCISTA

A NECESSIDADE DA FRENTE ÚNICA ANTIFASCISTA

A contrarrevolução ergueu a cabeça. A direita que nunca conseguiu mobilizar as massas e que perdia terreno no Estado e na sociedade civil se aproveitou das manifestações organizadas pelo MPL contra o aumento das passagens de ônibus em todo o país e que se generalizou depois da brutal repressão policial promovida pelos governos fascistas de Sérgio Cabral Filho, no Rio de Janeiro, e de Geraldo Alckmin, em São Paulo, e com o descontentamento e a revolta crescentes diante dos enormes gastos públicos e da corrupção em torno dos megaeventos esportivos da Copa das Confederações, da Copa do Mundo e das Olimpíadas. Com a vitória monumental do dia 17 de junho de 2013, com 220 mil a 250 mil manifestantes nas ruas de todo o Brasil, sendo 100 mil no Rio e 65 mil em São Paulo, num amplo movimento suprapartidário, que contava com a presença de militantes do MPL, FIST, PSTU, PCO, PCB, PT, UJS, ANEL, CUT, CSP-CONLUTAS, PSOL, ADUFRJ, SEPE-RJ e PCdoB, entre outros, a grande mídia se localizou e, encabeçada pela Rede Globo, resolveu cooptar o movimento e dar-lhe um caráter fascista. A repressão policial promovida pelo BOPE e pela Tropa de Choque aumentou e grupos neofascistas e neonazistas se infiltraram na manifestação para colocar os militantes de esquerda que sempre estiveram nas ruas para fora dos atos, agredindo fisicamente os militantes. Isso não pode ficar assim e devemos organizar a nossa autodefesa.

O movimento social organizado deve recuperar o seu protagonismo político. Devemos nos retirar dos atos, que mudaram de tom a partir do dia 20 de junho, assumindo feições golpistas e fascistas, manipuladas pela mídia burguesa. Mas os movimentos sociais não podem, ao mesmo tempo, ficar calados. Temos que boicotar a Copa das Confederações, não assistindo aos jogos e repudiando a FIFA, a CBF e a própria Seleção Brasileira, diante do esquema de desvio de recursos públicos que deveriam ir para os serviços públicos para os grande empresários que querem lucrar com esse megaevento. Devemos ainda organizar um ato público na ABI contra a agressão fascista, contra o neofascismo e o neonazismo, a repressão policial, o autoritarismo dos governos, em defesa das liberdades democráticas e dos direitos humanos, e aprovar moções de repúdio às agressões fascistas e às agressões policiais em todos os sindicatos e entidades estudantis do país. E é preciso que se exija do Ministério da Justiça e do Ministério Público a investigação rigorosa desses casos e que sejam punidos os militantes de extrema-direita e os policiais que agrediram militantes de esquerda por se manifestarem de acordo com a Constituição. Essa exigência deve ser pública e não apenas formal e a cobrança deve ser permanente. Devemos fazer uma campanha pela libertação de todos os presos políticos e contra a criminalização dos movimentos sociais de forma ampla e na base e já.

Depois da Copa das Confederações, as categorias de trabalhadores devem aprovar greves em suas assembleias de base, assim como os estudantes nas escolas secundaristas e universidades devem aprovar greves estudantis rumo à construção de um greve geral contra o golpe fascista, por democracia participativa, pela punição dos torturadores da época da ditadura militar, pela democratização dos meios de comunicação, por 10% do PIB para a educação pública, pelo Passe Livre para estudantes, idosos, deficientes e desempregados e por aumento real de salários para todos os trabalhadores. Esse movimento deve ser amplo, plural e democrático. Por isso, a liberdade de crítica deve ser um princípio da frente. Foi o stalinismo que inaugurou na esquerda a política contrária à liberdade de crítica e que considerava qualquer um que expressasse essa liberdade um "inimigo de classe". O stalinismo manchou a imagem da esquerda. O stalinismo é a única corrente política totalitária de esquerda da história. Os comunistas e socialistas sempre foram a favor de mais democracia e a crítica anarquista ao comunismo, dava-se unicamente pela concepção socialista da necessidade de construção de um Estado operário como uma etapa para a sociedade sem classes, enquanto os anarquistas consideravam que a sociedade sem classes deveria ser implantada de uma vez. Assim, só duas coisas não podem ser toleradas nessa frente: uma concepção stalinista de frente única e o voluntarismo ultra-esquerdista que rompe a necessária unidade de ação nos atos. Com democracia e com disciplina para se obter a vitória. Como campanha política, devemos defender o fechamento da Rede Globo, o Fora Rede Globo! Temos que fazer atos permanentes na porta da Rede Globo. Nenhum militante deve dar entrevistas a jornalistas da Globo. Devemos boicotar o canal aberto da Globo (eventualmente, precisaremos assistir à Globo News para que possamos saber como a Rede Globo está manipulando as massas). O fascismo no Estado brasileiro, que aplica uma política terrorista, um verdadeiro terrorismo de Estado, deve ser combatido sem trégua e essa frente antifascista deve defender o Fora Cabral no Rio e o Fora Alckmin em São Paulo. Não se deve ser transigente com o fascismo. Não se faz aliança com o fascismo.

A autodefesa deve ser organizada. Devemos estar preparados para futuros ataques dos bandos fascistas e nazistas. Devemos ser capazes de resistir à violência fascista com a violência operária se necessário. É preciso que tenhamos um esquema de segurança permanente. E o Estado brasileiro está avisado de que qualquer radicalização nesses enfrentamentos será culpa exclusiva desse Estado, que não pune os neofascistas que agridem homossexuais, negros, mulheres, prostitutas, militantes de esquerda, etc. Não podemos ser saco de pancada dos nazistas. O governo Dilma deve saber que vamos reagir a esses grupos na rua e o governo federal deve ser cobrado pela segurança dos próprios militantes de esquerda governistas e dos militantes da oposição de esquerda que compõem o movimento social organizado. Nesse sentido, a punição dos agressores - policiais e neonazistas - deve ser exemplar, a começar pelos episódios do dia 20 de junho de 2013. Os militantes de esquerda já foram bastante punidos pelo governo Cabral, pelo governo Alckmin e com Dilma, ex-militante contra a ditadura, no poder do governo federal, no ato contra o Obama no Rio, na greve dos bombeiros no Rio, na ocupação da USP, na desocupação violenta do Pinheirinho, no ato em defesa do Museu do Índio no Rio e muitos outros casos que podemos lembrar. Fomos espancados, torturados psicologicamente e fisicamente, presos em presídios, processados criminalmente e isso nessa democracia. O autoritarismo já vem crescendo no interior da própria democracia que conquistamos na luta contra a ditadura e não só não podemos permitir que um novo golpe faça retroceder o pouco que temos de liberdade, como queremos que a democracia avance, que haja controle democrático e popular sobre os mandatos dos representantes nossos no Executivo e no Legislativo e que o recurso ao referendo e ao plebiscito sejam corriqueiros, que o povo seja sempre consultado sobre aquilo que o afeta. Com esse programa, poderemos ter unidade, mas não uma unidade que mantém o que está aí, que já está claro que não serve, mas que faça avançar e que nos leve à vitória.

Rafael Rossi