A GLOBO CONTINUA SENDO O MAIOR PARTIDO POLÍTICO DO BRASIL
A GLOBO CONTINUA SENDO O MAIOR PARTIDO POLÍTICO DO BRASIL
As magníficas manifestações da juventude brasileira começaram por iniciativa do MPL (o Movimento Passe Livre) contra o aumento das passagens de ônibus no país todo. A repressão policial brutal promovida pelo governador Geraldo Alckmin, de São Paulo, radicalizou o movimento e gerou uma onda de solidariedade, massificando ainda mais as passeatas dos jovens estudantes de classe média, inicialmente.
Desde o início era possível ver bandeiras de partidos de oposição de esquerda como o PSTU e o PSOL nos atos, como mostraram as imagens da Rede Globo das manifestações do dia 13 e do dia 17 de junho no Rio de Janeiro. Movimentos como o movimento sem-teto FIST e mesmo bandeiras do PT e da UJS apareceram em várias imagens das primeiras manifestações. Os militantes do MPL, do FIST, do PSTU, do PSOL, PCB e mesmo os militantes do PT e do PCdoB, apesar da intransigência de Haddad, prefeito de São Paulo e militante do PT, que disse inicialmente que não iria negociar, do ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, também do PT, que tentou criminalizar os manifestantes com termos bastante usados nos últimos dias pela mídia burguesa como vândalos, do governador de São Paulo, Alckmin, do PSDB, do governador do Rio, Sérgio Cabral Filho, do PMDB, que mandaram a polícia militar de seus estados reprimir violentamente os protestos, e o prefeito do Rio, Eduardo Paes, do PMDB, estavam nos protestos. A grande mídia se colocou contra os protestos até a grande demonstração de força dada pelos movimentos no dia 17 de junho de 2013, com 220 mil a 250 mil manifestantes ocupando as ruas de várias cidades em todo o país, sendo 100 mil no Rio de Janeiro e 65 mil em São Paulo, as passeatas mais massivas. Sindicatos como a ADUFRJ estiveram participando desde o princípio, apoiando os atos e nas ruas. O SEPE-RJ incorporou-se formalmente ao ato do dia 20 de junho e declarou o seu apoio às manifestações dias antes. O movimento que começou com a juventude de classe média se generalizou e elementos da geração adulta foram se somando, primeiro os mais progressistas, de esquerda e radicais e depois aqueles que simplesmente estavam descontentes e resolveram expressar o seu sentimento de revolta. O site da ABI divulgou notícias que denunciavam a agressão a jornalistas e a manifestantes pelas polícias a mando dos governos. No dia 17 de junho, a Globo e a Polícia Militar divulgavam números rebaixados sobre a manifestação do Rio, quando a UFRJ divulgou o número de 100 mil. A manifestação massiva se impôs e suplantou as mentiras contadas pelas grandes emissoras de televisão comerciais e pelos governos e a estimativa feita pela Academia e pelos movimentos teve que ser aceita pelos maiores veículos de comunicação e foi por eles reproduzida. A vitória obtida com a revogação do aumento das passagens em várias cidades do país, inclusive Rio e São Paulo, mostrou a força do movimento social brasileiro.
A classe dominante não pode derrotar pela repressão o movimento, que se massificou a partir das redes sociais, especialmente o Facebook, e resolveu se apropriar dele. Aproveitando-se do fato de terem havido casos isolados de jovens reacionários e fascistas que mandaram baixar bandeiras partidárias, a Globo, imediatamente, impôs como programa político para os atos (diante do seu caráter difuso, com várias pautas, sem um eixo que unificasse todos, e um caráter heterogêneo) que eles fossem "sem partido". A partir desse momento, passaram a ser toleradas somente as bandeiras do Brasil (as mesmas que representam igualmente os jovens e trabalhadores em revolta e os Cabral, Eike Batista, Dilma e Alckmin que tanto criticam). Esse partido político que é a Rede Globo convenceu as pessoas a irem de branco, a repelirem as bandeiras de partidos de esquerda e a não tolerarem máscaras, porque seriam coisas de vândalos ou de criminosos. As mesmas máscaras do V de Vingança que se tornaram símbolo das manifestações desde o Occupy Wall Street e da ação dos hackers do Anonymous. As mesmas camisas cobrindo o rosto do Manifestante que estampou a capa da revista Time como a personalidade do ano. Os rostos cobertos dos ativistas que se protegem da identificação da polícia, que tenta processar criminalmente todos aqueles que lutam. Os protestos já tiveram dezenas de presos políticos. Ao contrário do que a grande mídia afirma, a repressão policial segue sendo extremamente violenta. A polícia e a mídia burguesa assumiram a infiltração policial nos atos. E os agentes policiais infiltrados, nós bem sabemos, não estão lá só para identificar as pessoas (o que já seria escandaloso), mas também para começar as confusões e as tão condenadas "quebradeiras" para justificar a repressão e desmoralizar o movimento perante a opinião pública. A mobilização massiva em 100 cidades em todo o Brasil e o ato de 1 milhão de pessoas no Rio de Janeiro no dia 20 de junho de 2013 são expressão do crescimento do movimento, que teve início com um ascenso estudantil e juvenil e que agora já é um ascenso de massas, só comparável às manifestações do Fora Collor e das Diretas Já. O sentimento das pessoas nas ruas expressa a crise da democracia representativa liberal sob o domínio da tecnocracia e submissa aos organismos financeiros internacionais e aos grandes capitalistas nacionais e internacionais. Também é um movimento anticapitalista inconsciente, como o Occupy Wall Street, nos Estados Unidos, em 2011. A burguesia, cinicamente, afirma não entender as reivindicações, ao mesmo tempo em que a inflação sobe, os portos e aeroportos são privatizados, a criminalização dos movimentos sociais aumenta e os gastos públicos e a corrupção em torno dos megaeventos esportivos da Copa das Confederações, da Copa do Mundo e das Olimpíadas chegam a números gritantes. Os jovens de classe média anti-movimento social, que estavam dormindo no sono neoliberal, sonhando com um estilo de vida individualista e hedonista que se tornou irrealizável diante da crise econômica mundial, falam aos quatro ventos como se não houvesse nenhuma luta social antes deles, mesmo que a vanguarda de sua geração já colocasse sua juventude, seus corpos, sua segurança, sua liberdade e suas vidas a serviço de um projeto coletivo e da luta política e social, na campanha contra a ALCA que reuniu num plebiscito popular 10 milhões de votos em todo o Brasil, que participou das manifestações contra a Guerra do Iraque que aconteceram no mundo todo, que participaram de ocupações de reitorias em greves estudantis em defesa de mais verbas para a educação pública e dos atos pelo Passe Livre no país inteiro por anos. E a Globo usa essa massa de manobra a seu favor para combater a vanguarda da oposição juvenil ao sistema e o movimento estudantil que busca construir uma sociedade livre, democrática, justa e igualitária, ou seja, socialista e que busca forjar a aliança da juventude com os trabalhadores. Os ventos que sopravam na Islândia, na Turquia, nos Estados Unidos, na França, no Chile, na Inglaterra, no Egito, na Tunísia, na Grécia e na Espanha passaram a soprar também por aqui, mas, diferente das classes dominantes desses países, a nossa resolveu buscar romper as fileiras dos lutadores por meio da propaganda ideológica reacionária, gerando um verdadeiro perigo para a nossa democracia, que, ao invés de se tornar uma democracia real, que amplie os mecanismos de democracia direta e de democracia participativa, se torne uma nova ditadura, utilizando inclusive o aparato repressivo que governos fascistas como os de Cabral e de Alckmin desenvolveram. A Comissão da Verdade, com todos os seus limites, que refletem os limites do governo Dilma, que não se dispõe até o momento a punir os torturadores e assassinos da ditadura militar, ainda assim ameaça os velhos fascistas, que são capazes de tentar um golpe só para livrar a própria pele. E, com isso, vingariam-se dos velhos radicais que continuaram a lutar contra o status quo e contra eles, dos adultos radicais nascidos e formados na democracia e dos jovens rebeldes, verdadeiramente rebeldes, que querem a punição dos ditadores de ontem e de hoje. Sobraria também, evidentemente, para os velhos que se venderam e para os jovens que foram massa de manobra da direita, mas isso seria apenas um efeito colateral. Tudo para manter tudo como está. Paraguai e Honduras são países da América Latina que sofreram golpes parlamentares recentemente e estabeleceram regimes ditatoriais de direita. O golpe militar de 1964 foi dado com o apoio e a participação ativa de parte da sociedade civil brasileira, que estava na Marcha da Família com Deus. Uma mobilização como a que estamos vivendo sem partidos de esquerda, sindicatos, entidades estudantis e movimentos sociais e populares só pode se tornar uma mobilização política fascista. Os novos movimentos sociais como os Indignados da Espanha são anticapitalistas e não meramente contra a corrupção. Assim como os novos movimentos sociais que surgiram da luta contra a globalização financeira e que se organizaram a partir do Fórum Social Mundial no início deste século, num clima e numa concepção de movimento absolutamente pluralista, democrática e libertária, de lideranças que surgem das bases e que se renovam e não de movimentos supostamente sem lideranças, mas que determinam o que pode e o que não pode nos atos, claramente orientados pela máquina de propaganda do sistema, encabeçada pela Rede Globo e seguida de perto pela Record, pelo SBT e pela Bandeirantes. A Rede Globo continua sendo o maior partido político do Brasil. É esse partido que deve seguir sendo expulso dos atos. Apenas lamento que este movimento não só imaturo, mas confuso, não saiba reconhecer e diferenciar inimigos e aliados e chegue a expulsar jornalistas comprometidos com a verdade e com o progresso social, como Caco Barcelos. Não basta a mobilização ser massiva; é preciso que tenha um programa político claro que unifique todos os grupos e pessoas de forma democrática e plural. Não basta o sentimento de revolta; é preciso transformar esse sentimento em consciência política. Sem a politização daqueles que se manifestam, eles se tornarão exatamente aquilo que tanto temem: massa de manobra. Mas não serão massa de manobra da esquerda, mas sim da velha direita, das elites reacionárias, dos conservadores, que resolveram apoiar os protestos que não puderam derrotar nas bombas e nas balas, mas mudando o seu caráter, desviando a luta para o caminho da reação ao invés da revolução. Fica ainda o alerta para os jornais, que se lembrem que ao apoiarem o golpe de 64, abriram o caminho para um governo que depois instauraria a censura sobre a imprensa. Fica o alerta para os jornalistas, que já estão sendo vítimas da repressão policial. E fica o alerta para os movimentos sociais, que devem disputar esse movimento e aprovar greves nas categorias de trabalhadores, ocupar reitorias de universidades e ocupar as praças públicas, colocando o movimento social organizado novamente na vanguarda contra a utilização da massa pelo fascismo, algo que não é um fenômeno novo na história e que levou o nazismo ao poder na Alemanha na década de 30 do século XX.
Rafael Rossi