ÀS VEZES LEÃO, ÀS VEZES CORDEIRO: A AMBIGUIDADE DO POVO BRASILEIRO
O brasileiro tem a fama de ser um povo que passou e passa por muitas dificuldades, mas que não foge à luta. Um povo que trabalha muito para pagar as contas no fim do mês. Um povo que em sua maioria não tem uma casa decente para morar, nem uma escola decente para estudar, nem um transporte decente para se locomover, nem um salário compatível com suas despesas, mas que aceita sediar uma copa do mundo de futebol e satisfazer as exigências da FIFA quanto a construir novos e confortáveis estádios, mesmo em cidades que não tem tradição no futebol, nem grandes clubes e muito menos grandes torcidas para desfrutarem depois do evento que durará apenas um mês. Bilhões serão gastos e milhões serão certamente desviados pela corrupção que assola nosso país, mesmo assim o brasileiro é um povo alegre, pacífico, ordeiro.
O brasileiro não gosta de guerras. Rivalidade com outros países só no futebol, que aliás parece ser um dos únicos interesses reais deste povo além da luta diária pela sobrevivência. O brasileiro não tem inimigos externos, o maior inimigo do brasileiro é o próprio brasileiro. O brasileiro é um lutador por natureza, mas um lutador solitário, que luta individualmente pela sua sobrevivência, que não se alia, que não sabe se unir em prol de causas coletivas que lhe trariam também benefícios individuais, que não se organiza e por isso não tem força para vencer seu inimigo interno mais feroz, o corrupto.
O brasileiro, a exemplo do cordeiro, morre em silêncio. E vive em silêncio também. Cala-se diante de todos os desmandos de seus representantes oficiais, os políticos. Assiste a tudo sem contestar, sem protestar, sem reivindicar. O Brasil deixou de ser colônia para ser uma república. Passou pela ditadura de Getúlio, depois por um breve período de democracia, depois a ditadura militar e novamente voltou a democracia, tudo isso em pouco menos de um século. Muitas mudanças radicais no poder em pouco tempo, porém o povo brasileiro passou por tudo isso sem grandes mudanças comportamentais. Saiu um regime, entrou outro e o brasileiro continuou vivendo sua vida pacata, trabalhando como um leão e aceitando tudo como um cordeiro e parece que isso nunca irá mudar. Apenas umas poucas vozes quase solitárias ecoam, mas não se conseguem fazer ouvir pela grande massa. Estamos vivendo um momento muito conturbado no que diz respeito a segurança pública. A crescente onda de violência no país, principalmente com a participação de adolescentes menores de 18 anos, e portanto, protegidos por uma legislação paternalista e frouxa, tem incomodado quase todos os brasileiros, tanto que uma pesquisa recente indicou que 93% da população é a favor da diminuição da maioridade penal de 18 para 16 anos. Apesar de estar cansado de ver um menor com 16 anos que comete crimes hediondos e vai para a detenção rindo da cara da polícia e da sociedade por saber que a lei lhe dá o direito de se tornar bandido sem que seja punido como deveria, e que em pouquíssimo tempo estará nas ruas novamente cometendo os mesmos crimes ou ainda piores, o brasileiro mesmo assim aceita calado e espera por uma atitude de seus governantes, que não tomam nenhuma. Entra ano, sai ano, vem uma eleição após outra e os corruptos continuam no poder legislando em causa própria e engordando suas contas bancárias em paraísos fiscais e seu patrimônio em nome de laranjas. A maioria dos brasileiros nem se lembra em quem votou na esfera do legislativo estadual e federal, quanto mais saber se seus representantes estão ou não fazendo o que deveriam ou se estão envolvidos em maracutaias e corrupção. E assim a vida segue, geração após geração com o brasileiro trabalhando como um leão e aceitando tudo como um cordeiro.