PROTESTOS DIFUSOS

Confesso que relutei, e muito, em escrever sobre esse movimento de protesto que vem ocorrendo pelas capitais e que ontem culminou em atos gigantescos por diversas delas, já que possuo muitas dúvidas e nenhuma certeza. O que é bom, acho. Tenho me manifestado apenas via Twitter.

Fica a sensação de que se trata de um movimento espontâneo, onde não há lideranças claras e falta organicidade. A pauta me parece difusa, pois começou com a bandeira contra o reajuste do transporte público e agora já se protesta contra gastos públicos na Copa de 2014, políticos em geral, corrupção, melhorias na saúde e educação. Onde isso vai dar? Confesso que não tenho respostas e sim dúvidas.

Mas arrisco dizer que pode atingir grandes proporções ou esfriar e dar em nada. Se atingir grandes proporções, acho que lideranças emergirão daí e veremos que direção a coisa tomará. Se isso acontecer fica a pergunta: como reagirão os partidos tradicionais que até agora estão mantidos à margem dos protestos?

Como também não acho que esse movimento signifique revolução alguma (vide o que ocorreu no Egito), essa insatisfação pode acabar “morrendo” sem que seja canalizada para que realmente alce outros patamares na relação sociedade/poder instituído, pois essas bandeiras difusas, que podem ser resumidas no slogan “por um mundo melhor”, não trazem grande clareza do ponto de vista prático.

Para finalizar, recorro a dois parágrafos de um artigo do jornalista Fernando Rodrigues da Folha de S. Paulo e colunista do UOL: “nunca é demais lembrar que, em 1988, ninguém sabia quem seria eleito presidente no ano seguinte. Mas havia uma insatisfação difusa no Brasil. As pessoas pareciam insatisfeitas com tudo, ainda mais com a hiperinflação.”

“Emergiu um político alagoano desconhecido, jovem, cuja proposta principal era combater a corrupção e os marajás. Fernando Collor de Mello ganhou o Palácio do Planalto em 1989 com amplo apoio das ruas. Caiu em 1992 da mesma forma.”