Há algo de novo no ar - e não é a hipocrisia dos governantes, nem o discurso infantil ouvido nos protestos

Há algo de novo no ar - e não é a hipocrisia dos governantes, nem o discurso infantil ouvido nos protestos

Há algo no ar que muita gente parece não entender com o que ocorre no país, no momento. Mas, para mim, a resposta é esta: é o prenúncio da mudança. Tudo parece indicar que o povo está cansado de governos insossos, hipócritas, mentirosos e ladravazes. E pelo jeito, vai haver um limpa, de norte a sul.

O que está faltando é tão somente isto: que os vetores de mudança se apresentem, saibam traduzir o que vai lá ao fundo dos corações e mentes, e que despertem na população a confiança e entusiasmo necessário.

E os radicais? Os radicais, autênticos ou teleguiados (ah, os filhotes de classe média, sempre por aí, fingindo sentir a dor de outrem...) e, de um lado e outro, são minoria, que assusta e leva a maioria da população a rejeitá-los.

O brasileiro não é conservador - na média, é bem ajuizado e cordato, muito ao contrário do que faz crer a minoria que manipula o mundo midiático e, muito embora ele não esteja satisfeitos com seus representantes políticos e o que resulta, ao final, daquilo que começa no voto e se junta à aplicação dos tributos arrecadados, traduzidos pela qualidade dos serviços públicos oferecidos, diferenciam isto muito bem do ataque à formula do sistema democrático instituído no país. A maioria do povo reconhece que a democracia representativa é sempre o caminho, o meio pelo qual pode fazer mudanças de rumos, quando certas fórmulas se esgotam.

Há algo de novo no ar. E não é mero descontentamento. É aquela expectativa de mudança, ante as coisas que mudaram ao redor ou, daquelas que precisavam ser mudadas, mas permaneceram inertes ou foram detidas no processo.

E existe muito de velho ao redor. Supostas novidades que só levam á irrisão, promessas que levaram ao escândalo e, supostos revolucionários que não passavam de mentirosos ou ladrões (quando não eram as duas coisas e muito mais), as relações perigosas que provam o abismo entre o discurso e a prática, vida pública nivelada por baixo, a justificativa do próprio erro pelo erro do outro, a desvalorização do esforço e a nomeação da dependência como o estado natural do homem, a maquiagem da realidade pelo discurso, tentando manter a população num estado permanente de prestidigitação... fracasso!

Todo este circo, que começa no município e chega à União está fracassando.

Malgrado a tentativa de condução da totalidade da realidade, um ciclo vai se fechando. E as pessoas, olhando para si e para o mundo ao redor, sente que é hora de mudar, porque sabem que o mundo também é mudança e rejeitam aquilo que quer endurecer e endurecer tudo ao redor.

Porque mudar? A resposta parece ser de que as pessoas, pela experiência individual e social de vida, intuem que é hora de mudar. Querem o novo porque, de algum modo, pressentem que as coisas mudaram em suas casas, nas ruas e no mundo, de modo que procuram governos afinados com este momento e sentido. Difícil de traduzir, mas o indicativo é que o momento é de definição, de buscar um novo caminho, embora não saiba direito de sua direção.

Verificando o ambiente político e administrativo atual, o que um pai cinquentão te a dizer de muito positivo ao filho de 16 anos, que vai votar pela primeira vez? E a expectativa de um garoto desta idade com seu primeiro voto, tendo na Internet acesso às informações sobre os teimosos e deletérios hábitos de nossos políticos, desde a época do império?

Alguns sinais de fadiga de um jogo falido em relação às expectativas da população em relação ao jogo político e governança já são palpáveis. Se não, vejamos: vota-se uma lei denominada “ficha limpa”, mas não cessam as denúncias do jogo bruto da rapina de recursos públicos. Decretos referem ao controle dos gastos com folhas de pagamentos, mas os governantes enchem as folhas de pagamentos com comissionados. Os governantes pregam a necessidade do correto investimento dos recursos financeiros arrecadados, mas se esmeram na aplicação do dinheiro dos tributos em obras e projetos dispensáveis e lesivos, em desfavor na urgente aplicação de recursos na infraestrutura do país...

Há algo de novo no ar. E está muito além dos quintais e do quebra-quebra, pois é o desejo ainda selvagem e ainda não decifrado da maioria. Mas, é algo que se expande, empanzina, vai ocupando lugar e atenção no espaço entre pensamentos e palavras.

O ruído de fundo de boa parte das manifestações democráticas, desde a elaboração de listas de assinaturas em relação a determinados assuntos de interesse nacional (e me ocorre aqui a lista de 1.500.000 assinaturas contra a assunção de Renan Calheiros ao Congresso Nacional) até as manifestações de rua - inclusive parte de algumas guiadas por partidos políticos, na medida do volume de adesões e do entusiasmo da participação me parece ser este: o eleitor, valoriza mais sua cidadania e raciocinar como contribuinte, pois está querendo mais do que governo e administração pública funcionando: ele quer o suado dinheiro dos impostos aplicados com inteligência e honestidade e, mais ainda: quer qualidade nos serviços prestados à população.

E isto já sabe os políticos, é uma ameaça bem perigosa que, ao longo do tempo, pode atingir a eles, os governantes e chegar até mesmo ao simulacro de nosso sistema político partidário, de pouca coloração ideológica e muito de compadrismo político.

Desde a instauração da República, nunca faltaram projetos, iniciativas e quem lutasse pela instituição de governos autoritários, por diversos motivos e, não falta, hoje, quem desgoste do prestígio da nossa democracia e dos mecanismos de participação popular e, tente guiar o sentimento do povo, mediante tentativas de manipulação e endereçamento de seu sentimento e percepção da realidade do país. Neste sentido, é que vemos, um ano sim, ou outro também, a tramitação de no Congresso Nacional de projetos de lei que, de um modo ou de outro, buscam a instituição de mecanismos que embaraçam o exercício da democracia e o controle da administração pública, como é o de projetos que facilitam a criação descontrolada e oportunista de agremiações partidárias e as perenes tentativas de colocar uma mordaça de grife politicamente correta na imprensa e mídia e, um cabrestro de sujeição no Ministério Público.

O brasileiro gosta da democracia. E, malgrado a obrigação, finge que não gosta de votar - mas gosta! O ele não tolera mais é um estado de coisas que parece não mudar. E isto é sinal de amadurecimento. O eleitor hoje é mais cidadão, pois começa a raciocinar como contribuinte. Por isto mesmo é que há algo de novo no ar.

E quem souber decifrar isto com eficiência, tiver currículo e souber despertar o eleitor para a exatidão daquilo que ele busca, tem uma oportunidade promissora pela frente, nas próximas eleições...