Viva os jovens que lutam por todos nós
Viva os jovens que lutam por todos nós
Os corajosos manifestantes pela redução das passagens de ônibus são merecedores de todas as nossas homenagens e de todo o nosso apoio, sem nenhuma ressalva, nenhuma retificação. Confusões em atos acontecem em várias manifestações e partem sempre de grupos isolados. Nos casos ocorridos nestas manifestações contra a o aumento das passagens no Rio de Janeiro e São Paulo, com a confissão por parte do Estado e a publicização pela grande mídia de que existem policiais infiltrados entre os ativistas, quem garante que não foram eles a provocar boa parte da quebradeira e do arremesso de supostos coquetéis molotov? Os jornalistas da Globo que acompanharam as passeatas de perto, declararam, contrariamente à linha editorial de sua empresa, que os jovens tinham uma disposição pacífica para a realização dos protestos e que a violência partiu da polícia, da Tropa de Choque.
O mais grave de toda essa situação foi a postura dos governantes. O prefeito de São Paulo, Haddad, disse que não negocia a diminuição do valor das passagens. É lamentável que um educador, ex-ministro da Educação e prefeito eleito pelo PT se recuse a dialogar com os jovens. O ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, condenou o "vandalismo". É no mínimo hipócrita que uma pessoa que defende a apuração dos crimes da ditadura militar, entusiasta da Comissão da Verdade, e que age corretamente nesse sentido, se posicione desse modo. Foi contra a violência dos comunistas, dos subversivos, dos terroristas que os ditadores do passado justificaram a tortura, as prisões e os assassinatos criminosos. Não, ministro, não vivemos no Estado Democrático de Direito, talvez para vocês, mas "aqui embaixo as leis são diferentes", já dizia a canção. O governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, é um homem de quem não se espera nada além disso. A invasão policial do Pinheirinho teve estupros e assassinatos, segundo denúncias. Ele implementa uma política claramente fascista; é o homem mais conservador e reacionário do PSDB e é de espantar que o PT, inimigo tão radical do PSDB nas eleições, coloque-se ao lado da direita da direita do partido da direita brasileira e contra os movimentos sociais! No Rio de Janeiro, Eduardo Paes e Sérgio Cabral, do PMDB, só confirmaram a velha política fascista que já vem implementando desde o início de seus governos. A repressão policial se tornou rotina no Rio. As manifestações estão proibidas no Rio de Janeiro na prática. Sejam militantes de esquerda, bombeiros militares, profissionais de educação e mesmo policiais grevistas, índios ou jovens estudantes, todos estão na mira desses senhores, que não hesitam em atirar, literalmente, com bombas e balas. Não puxam o gatilho. São covardes demais pra isso. Eles dão as ordens de longe; apertam o botão que detona a bomba de um ambiente tranquilo; outros fazem o seu trabalho sujo (e muitos fazem com gosto).
A repressão a essas mobilizações também coloca em xeque a nossa democracia. Por que temos batalhões de Choque? Por que temos um aparato especial para reprimir manifestações? A liberdade de manifestação não é garantida pela Constituição Federal? Talvez para "eles", mas para nós isso só é válido até o momento em que não interfere nos interesses dos governos. Atrapalhar os interesses do Estado não pode. Aí, pode "quebrar o pau"! Está legalizado! Está de acordo com o Estado de Direito. É a repressão "democrática". Vivemos tempos perigosos. O governo dos Estados Unidos, a maior potência política e econômica e a maior máquina de guerra da história da humanidade, instituiu um sistema de vigilância em massa, monitorando todas as pessoas a partir dos meios de comunicação (internet, telefone e celular). É o totalitarismo. Mas não é só o totalitarismo de 1984, com toda a vigilância e repressão física. É também o totalitarismo de Admirável Mundo Novo, um sistema de opressão que amamos, no qual amamos nossa escravidão e para isso existe a indústria cultural, a indústria do entretenimento, a indústria do divertimento, para que possamos "matar o tempo" e que não venhamos a nos matar nesse mundo de alienação, em que cada vez se trabalha mais para poder comprar mais coisas que amanhã já não terão nenhum significado, tudo que preencha o vazio de nossa alma. A ABI noticiou que o Brasil é o terceiro país que mais pede dados ao Google. Ou seja, o nosso governo é um dos que menos respeita a nossa privacidade e que mais quer saber sobre o que pensamos, o que fazemos e o que pretendemos fazer. O primeiro lugar ficou com os Estados Unidos. A gloriosa democracia americana. Isso é algo que se esperaria de uma ditadura como a China, mas nunca de ditas democracias. Mas a espionagem faz parte desse regime que aparece para uma população imbecilizada com divertimentos fáceis e estúpidos com uma máscara democrática, com eleições que não mudam nada, porque todos os partidos tem que se comprometer com o Banco Mundial, com o FMI e com os grandes capitalistas mundiais. O terrorismo é o grande argumento para justificar essa política, que ganhou corpo com a Doutrina Bush, depois dos atentados do 11 de setembro, com a política de "Guerra ao Terror", "guerra preventiva". Preventiva. Devíamos ter adivinhado. "Eles" estão se prevenindo, se precavendo, mas contra quem? Contra nós! Na Europa e nos EUA, o neofascismo busca justificar essa política totalitária com a islamofobia. No Brasil, o perigo são os movimentos sociais e as proibições de atos durante a realização dos megaeventos esportivos são a prova disso, além das propostas de lei sobre terrorismo e leis anti-greve. A internet é o espaço dos governos e das grandes empresas e ou somos vigiados pelos governantes e seus serviços secretos e polícias com a colaboração do Google ou somos mercadoria a ser negociada por redes sociais como o Facebook, que vende nossos dados para as empresas, o que pode ser constatado pelos anúncios sob medida que de repente aparecem em nossa página. E nesse mundo, recuso-me a fazer qualquer concessão à classe dominante, reprovando de qualquer maneira qualquer manifestante nessa justa luta.
Não é de hoje que se sabe que as empresas de ônibus e as empreiteiras são algumas das grandes financiadoras das campanhas eleitorais. E quando o camarada é eleito vem a fatura. E somos nós que pagamos. Mas não mais. É isso que está dizendo a juventude nas ruas (o grande ator político desse processo). E como eu "acredito é na rapaziada", fico desse lado da barricada. Integralmente. Que pare de vez a violência policial, violência brutal, promovida por indivíduos fortemente armados, uma máquina de guerra contra a democracia e a liberdade. Ou que se revogue de vez o artigo 5 da Constituição. Não se deve ser conivente com a farsa. As ruas e as praças são do povo. Que os burocratas fiquem quietos em seus gabinetes e façam aquilo para o que foram eleitos; que governem para a maioria, que é a essência da verdadeira democracia, e não para uma minoria rica e privilegiada, que, no sistema atual, é a verdadeira dona de seus mandatos, o que um grego antigo facilmente classificaria de um regime oligárquico. Os jovens rebeldes do Brasil não estão sozinhos e espero que os adultos, os pais saiam de sua posição cômoda e covarde e lutem pelos seus filhos, defendam os seus filhos e não reclamem no bar, no carro, no trabalho, em casa para depois se esconderem embaixo das cobertas, tremendo de medo, enquanto os seus valentes filhos lutam pelos seus direitos e pelos seus bolsos. A sociedade brasileira precisa abandonar de vez toda a sua apatia, a sua hipocrisia, a sua covardia, lutar contra a doença da sua ignorância, o combustível do seu conformismo e de uma alegria tola, que ostenta um sorriso bobo e desdentado no semblante, enquanto torce pela seleção, como torceu em 1970, em plena ditadura militar, enquanto outros morriam por essa democracia que hoje todos dizem defender, inclusive os novos ditadores de plantão; enquanto o governo fala que os brasileiros saíram da extrema miséria (devemos nos orgulhar de sermos só miseráveis agora?). O meu aplauso para aqueles que lutam por justiça e liberdade.
Rafael Rossi