Uma Revolução, Revolta ou Golpe de Estado?

__É uma revolta?

__Não, Majestade, é uma revolução!

Diálogo entre Luís XVI e o Duque de Liancourt, depois do assalto à Bastilha em 14 de Julho de 1789.

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A história da humanidade é escrita ao longo de muito sangue, luta, terror e lágrimas. Ao longo de diversos episódios da civilização, podemos observar inúmeros conflitos: Rebeliões, Golpes de estado e mais recentemente as Revoluções. Enquanto as revoltas e guerras datam a tempos imemoriais, a Revolução segundo Hannah Arendt é algo mais recente e pontual, surgindo a partir da chamada Revolução inglesa no século XVII. Entre as diversas Revoluções ou tentativas podemos citar: Revolução Francesa, Revolução Russa de 1917, Revolução Cubana de 1959 e mais recentemente as Revoluções da Primavera Árabe.

A Revolução (do latim revolutìo, ónis: ato de revolver), segundo o Dicionário Houaiss designa “grande transformação, mudança sensível de qualquer natureza, seja de modo progressivo, contínuo, seja de maneira repentina”. Podemos afirmar então que a Revolução numa perspectiva sócio-politica é uma tentativa de derrubar as autoridades vigentes através do pleno uso da violência com intuito de substituí-las, buscando mudanças profundas naquela sociedade. Essas mudanças ocorrem principalmente na esfera jurídica, política, social e econômica.

No caso da Revolta ela geralmente está limitada a uma área geográfica específica, no qual na maioria das vezes não possui uma motivação ideológica, não propugna a subversão total da ordem constituída, mas o retorno dos princípios que regulavam as relações entre as autoridades políticas e os cidadãos de uma forma mais imediatista. A revolta é o presente caótico e tumultuoso.

A Revolução também se distingue do Golpe de Estado, pois este se configura apenas como uma tentativa de substituição de autoridades políticas dentro de um quadro institucional, ocasionando poucas mudanças nos setores sociais, políticos e econômicos. Enquanto a Revolução e a Revolta tende a ser um movimento popular, o Golpe geralmente é realizado por uma pequena elite articulada e organizada. Contudo a tomada de golpe dos revolucionários pode ter o seu principio através do Golpe de Estado. Mas a revolução completa só ocorre com mudanças drásticas nos mecanismos institucionais.

No caso da Revolução, a mesma tende a ser prolongada e a violência interna elevada. No Golpe de Estado reformista, as mudanças tendem a ser mais moderadas e as transformações limitadas, a participação popular limitada, o tempo de duração menor e o nível de violência interna baixo.

As classes ou elites dirigentes não cedem seu poder e domínio espontaneamente, pois isso significa a perda de status e riqueza. Consequentemente os revolucionários são obrigados à luta através do uso da força. Além disso, as autoridades utilizarão do seu monopólio da violência, ou seja, todas as formas de coerção que tiverem a sua disposição, como a polícia e o exército.

Como cada vez mais os instrumentos coercitivos são numerosos e sofisticados, os revolucionários terão que articular vastos segmentos da população para terem chance de alcançar os seus objetivos. No final toda revolução vitoriosa ou fracassada, tende a terminar em uma guerra civil de duração limitada ou indeterminada.

Referência

Norberto; BOBBIO, Norberto; MATTEUCCI, Nicola. Dicionário de política. v.2. 5.ed

Inã Cândido
Enviado por Inã Cândido em 13/06/2013
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