A Bossa Velha do Presidente
Em 1958 o Presidente Juscelino já sentenciava: “O maior inimigo da América Latina não é o comunismo, mas o subdesenvolvimento”.
Podemos atribuir ao “Presidente Bossa Nova” as mazelas que hoje sofremos com o trânsito tumultuado em nossas metrópoles, decorrente da opção, ainda inteiramente atual, pelo modelo rodoviário de transporte. De que derivam os preços exorbitantes dos pedágios nas estradas; as multas aferidas pelos dispositivos eletrônicos espalhados por nossas ruas, avenidas e estradas, cujo objetivo maior é o da arrecadação financeira para os cofres municipais, estaduais e da União; o aumento da dependência brasileira do petróleo; o estresse a que se submete a população, passando grande parte da sua existência dentro de um automóvel; e outras inconveniências que deterioram a qualidade de vida do cidadão.
Se por um lado não se pode negar que tudo isso tenha começado com Juscelino, ou tenha sido por ele favorecido, não podemos deixar também de apontar a veracidade do que disse há 55 anos, sobre a ameaça do comunismo à América Latina e o subdesenvolvimento da região. Não há dúvida de que esse subdesenvolvimento persiste, a despeito de todos os “atos democráticos” ou “atrocidades” cometidas para a erradicação do comunismo no mundo latino-americano.
Se por um lado cabe o reconhecimento dos serviços prestados à nação pelo julgamento do chamado Mensalão, embora nada mais pudéssemos esperar que a probidade e imparcialidade dos homens investidos na função de juízes, por outro podemos estranhar que essa conduta, a princípio elogiável, possa eventualmente incorrer em depoimentos sectários e eivados no conservadorismo tradicionalmente refratário aos esquerdistas. Como lemos no livro “Mensalão – O Dia a Dia do Julgamento Mais Importante da História Política do Brasil”, de Merval Pereira, para quem os nossos vizinhos “bolivarianos” estariam “na busca de uma democracia apenas formal”. Um julgamento que nos parece tendencioso, inteiramente dispensável num livro cuja excelência perde um pouco do seu brilho a partir desse momento.
Alguma razão as pessoas acham que têm para esse tipo de crítica. Como razão também achamos que temos para opinarmos de forma contrária.
O mais importante, na verdade, são os fatos. Quantas vezes o regime de Chávez foi pior para a Venezuela ou quantas vezes as ações do governo americano contribuíram para a implantação de regimes anti-democráticos pelo mundo afora?
E mais importante ainda é a representatividade que essa discussão possa ter no que se referir ao momento brasileiro. Em que autoridades constituídas, algumas até tendo pertencido aos escalões do governo, são exemplarmente julgadas pelos crimes que cometeram.
O que devemos ter em conta, em relação aos ex-integrantes do governo, ou políticos do mesmo partido, partido por sinal ainda hoje no governo, não é a simpatia que possam ter por regimes bolivarianos. Mas as ações criminosas que tenham perpetrado e que por elas sejam obrigados a responder. Só isso é de fato do interesse do povo brasileiro. Por mais que sejamos simpáticos a regimes como o de Cuba, Venezuela e outros, ou antipáticos aos procedimentos americanos e/ou israelenses para a anexação de territórios. Porque ações criminosas como desvio de dinheiro público para a compra de apoio político, têm muito mais a ver com subdesenvolvimento, ainda que sob o ponto de vista estritamente político. Sendo menor, senão nula, a sua relação com a adoção de um regime socialista ou totalitário.
O que nos leva à pertinência ainda hoje do que disse Juscelino em 1958.
Maricá, 04/05/2013