Os Revoltosos de 1926
Uma organização com mais de 1.500 militares fortemente armados, percorreu 12 estados brasileiros contra o governo de Artur Bernardes.
Naquele governo, o estado de sítio era constante, e havia restrições nos direitos individuais, limitação do habeas-corpuse censura à imprensa. Os crimes políticos eram imprescritíveis.
Os militares tramaram contra, e um grande articulador, o general Isidoro Dias Lopes, comandou uma revolução que aconteceu em 5 de julho de 1924, em São Paulo, que não teve sucesso por absoluta impossibilidade de se mantê-la. Posteriormente, este General deslocou-se dali com o seu Grupo para Mato Grosso, Paraná e outros Estados. No dia 29 de outubro do mesmo ano, a dita revolução estoura no Rio Grande do Sul, época em que o capitão Luís Carlos Prestes, que já estava pronto para abandonar o Exército com a intenção de aderir aquele Grupo revolucionário, formou o seu Grupo e deslocou-se em direção ao encontro do outro Grupo. Encontraram-se de fato em Santa Helena, um porto do Rio Paraná. Nesse encontro entre Carlos Prestes, Miguel Costa, Juarez Távora, Djalma Dutra, Paulo Kruger, major Ari Salgado Freire, Cordeiro de Farias, João Alberto, Capitão Siqueira Campos, tenente Leopoldo Ribeiro Júnior, tenente Brasil e major Lira, dentre outros, decidiram prosseguir com a Coluna formada pelo capitão Luís Carlos Prestes, natural de Porto Alegre (RS), nascido no dia 3 de janeiro de 1898.
Tendo percorrido 12 estados brasileiros, chegarama nossa comunidade, no alto sertão da Bahia.
Na celebração da Missa do mês de Maria em Ituaçu, no dia 4 de maio de 1926, às 11 horas da manhã, entraram de surpresa mais de 1.000 militares, com muitos animais de carga e montados a cavalo, com voz de toques de corneta, impondo aviso e ordens, causando admiração e medo a quem visse aqueles militares pondo sentinela nos pontos estratégicos da cidade. Um grupo ocupou o Quartel da Policia Militar, onde o próprio Prestes soltava presos, queimava livros, rasgava várias intimações e rasgava processos de torturas e de dívidas públicas, destruindo até palmatórias escolares.
Outro grupo que dominava a Praça da Matriz, em reverência àquele dia religioso do mês de Maria, deixaram os fuzis em armação militar diante da Igreja e assistiram ao final da missa, ao tempo em que outro grupo, comandado pelo tenente Leopoldo Ribeiro Júnior, ocupou a Agência dos Correios e Telégrafos, onde o responsável daquela Repartição, o Sr. Magalhães, morava com sua família. Danificaram a mesa do Morse a golpes de coices de fuzil, cortaram os fios telefônicos e apreenderam os carretéis das fitas para que ficassemtotalmente desprovidos de comunicação.
Prestes fazia pregações dos seus ideais dizendoque veio com a intenção de conquistar aliados, e não de dar combate armado.
Aconselhava as famílias a não deixarem suas filhas saírem à rua, para evitar ofensas.
Mas, na verdade, o sertanejo sofreu, obrigando-se a viver às escondidas pelo matagal, com suas famílias com trouxas pela cabeça,e só alguns dias depois voltavam espiando e, desconfiados, perguntando:
- Cadê, os revoltosos, já foram embora?
Um antigo morador de Ituaçu, o capitão Firmo da Silva Pires, muito rico e sovina, combinou com o capitão Macário Alves Aguiar, que morava ao lado, em um casarão de piso de chão batido, para ali enterrar seus pertencespara, assim, evitar que fossem levados pelos Revoltosos. Assim ele fez. Enterrou muito dinheiro e outros pertences, e ficou sempre passando por ali, certamente vigiando sua fortuna enterrada. Ao ver, certo dia, os Revoltosos tomando cafezinho naquele casarão, sentiu-se mal e foi acometido de uma terrível diarreia. Mas, dessa vez, livrou-se porque os Revoltosos não descobriram que ali estava enterrada a fortuna do capitão Firmo da Silva Pires.
Na madrugada antecedente à entrada armada em Ituaçu, era uma época de muitas enchentes, devido às constantes chuvas. Paraatravessarem o Rio de Contas, elespegaram,de surpresa, um canoeiro de nome Aprígio, para que os atravessassemem sua canoa. No vai-vém da travessia, por um simples descuido deles, o canoeiro jogou alguns fuzis dentro do Rio e se aprofundou em mergulho, livrando-se deles. Dias depois,voltou ao local, pegou os fuzis e os vendeu para o coronel Minervino Dias, em Sussuarana.
Na comunidade de Laços, quem mais sofreu foi uma mulher de nome Odília (de Joca), que, na fuga para o matagal, entre outros companheiros, caiu em um buraco com uma trouxa na cabeça e ninguém se atreveu a parar um pouco para prestar-lhe socorro. O que todos queriam mesmo era se aprofundar o mais rápido possível para o esconderijo no matagal. O que não se sabe é como ela praticava suas necessidades fisiológicas do diaadia,e asensação sofrida pelo medo.
Naquela comunidade, ocorreram desentendimentos entre os Revoltosos e alguns moradores.
Em sua passagem por Caraibuna, então Distrito de Ituaçu, Prestes sofreu enorme decepção ao mandar um portador a Mucugê, convidando Horácio de Matos para aderir ao seu Grupo de Combate ao governo de Artur Bernardes; o convite não foi aceito. Sem que Prestes pensasse no que lhe poderia acontecer, resolveu ir pessoalmente, com o seu Comando, na tentativa de conseguir a adesão que antes lhe fora negada.
O arrependimento certamente lhe bateu a porta, diante do confronto organizado por Horácio de Matos, sediado em Lençóis contra o seu comando, lhe deixando um saldo de 22 dos seus militares assassinados, inclusive uma mulher que entrou em Mucugê, montada a cavalo e fortemente armada, atirando para todos os lados; sendo ela a primeira a receber balas trocadas com os jagunços de Horácio de Matos.
Quanto à decepção sofrida por Prestes, Horácio pagou mais tarde com a mesma moeda, ao ter sido preso traiçoeiramente pelos integrantes do governo, no desarmamento ocorrido em 1930, deixando Horácio de Matos enfraquecido e os diamantinos órfãos da proteção armada.
Dalí, Prestes, deslocou-se rumo a Condeúba, e de lá voltou a Tremedal dos Ferrazes e seguiu para Caculé e Caetité, onde encontrou resistência organizada pelo coronel Alberto Lopes, da Polícia Militar, e pelo Juiz de Direito, Dr. Batista Neves.
Carlos Prestes, foi preso em março de 1936, juntamente com sua mulher, Olga Benário, alemã que pertencia ao Partido Comunista daquele país. Foi ela quem mais sofreu, diante do seu estado adiantado de gravidez; na prisão deu à luz sua filha Anita,no dia 27 de novembro do mesmo ano. A menina foi entregue à sua avó paterna, Leocádia Pereira Prestes, que havia promovido enorme campanha para que Anita Leocádia Prestes fosse entregue aos seus cuidados.
Olga Benário veio a falecer em abril de 1942, em uma câmara de gás pelos nazistas.
Em 1951, Prestes conheceu sua segunda companheirapernambucana de nome Maria, mãe de dois filhos: Pedro e Paulo. Com Prestes, ela teve mais sete (7) filhos: João, Rosa, Ermelinda, Luís Carlos, Zóia, Mariana e Yuri.
Carlos Prestes conviveu com Maria durante 40 anos, separando-se pela sua morte, no dia 07 de março de 1990.