O Nordeste, por 200 anos, foi a região mais próspera do país. A hegemonia hoje é do Sudeste. Vejamos por que...

Foi no Nordeste onde houve o primeiro contato do “descobridor” português com o território que se chamaria depois de Brasil. Foi aqui onde ocorreu "A Primeira Missa no Brasil" (vejam a mais festejada pintura de Victor Meirelles!). Foi nessa região onde se deram as primeiras transações comerciais entre a metrópole e a colônia: Os europeus traziam bugigangas para o indígena e levavam o pau-brasil. A primeira capital do Brasil foi nordestina: Salvador (1549-1763). Foi nessa cobiçada região onde dois concorrentes dos portugueses fundaram colônias: A França Equinocial, com sede em São Luiz (os franceses foram expulsos em 1615); e a Nova Holanda (1630-1654), com sede em Recife, a cidade mais próspera e urbanizada de todo o continente americano na época, onde foram construídas canais, diques, pontes, e até um observatório, e onde reinava a liberdade religiosa. Calvinistas, católicos e judeus conviviam harmoniosamente, graças à tolerância do governante Maurício de Nassau . A primeira sinagoga judaica da América do Sul, a Kahal Zur Israel, foi construída (1642) e Recife abrigou a maior comunidade judaica do Novo Continente. No Nordeste ocorreu a primeira união de brasileiros de cores diferentes (branco, índio e negro) para expulsar os holandeses, quando estes se tornaram tiranos: A Insurreição Pernambucana, cujas batalhas decisivas ocorreram em Guararapes, núcleo inicial Exército Brasileiro.

No século XVI, o Nordeste era o centro econômico do país, graças à “plantation” da cana-de-açúcar. A região se fortalece ainda mais no século XVII por ter a mais robusta pecuária da colônia. Até então, quando se pensava na colônia de Portugal na América, era o Nordeste, e só o Nordeste, que vinha à mente de todos.

Quando os holandeses foram expulsos do Brasil, estes passaram a cultivar cana-de-açúcar nas Antilhas; como eles já dominavam a comercialização do produto na Europa, tal atividade vai à decadência no litoral nordestino. Capitanias como a de Paraíba e a de Pernambuco começam a amargar uma crise profunda.

No século XVIII, começa a atividade mineradora em Minas Gerais. Então, o eixo econômico da região se desloca do litoral para o sertão, sobretudo da Bahia, e para Minas Gerais. O Nordeste perde, então, a hegemonia econômica. Algo sintomático foi a transferência da capital do Brasil, de Salvador para o Rio de Janeiro, com o intuito de se administrar e fiscalizar mais de perto a mineração. Isso, lógico, representou uma perda para o Nordeste, sobretudo quando da fuga da corte portuguesa para o Brasil (1808), que escolheu a capital da colônia, o Rio de Janeiro, como sede de todo o mundo lusitano. Não é difícil de entender que os massivos investimentos no Sudeste do país, particularmente no Rio de Janeiro, até para melhor acomodar a Corte e modernizar a capital, necessariamente deixava o Nordeste em desvantagem.

Imaginemos se Dom João VI tivesse escolhido Salvador ou Recife, por exemplo, como capital de seu império, quanto de vantagens o Nordeste não teria levado. No século XIX, com o início da cafeicultura no Vale do Paraíba e sua posterior extensão para o Oeste de são Paulo, o Sudeste se consolida definitivamente como região mais dinâmica do país.

No século XX, só duas lavouras têm ainda certo destaque na região: A do algodão e a do cacau. A grande defasagem em relação ao Sudeste impulsiona a emigração de nordestinos. Os engenhos de bague eram um fogo morto. Nos dias de hoje, a economia da região é impulsionada com a soja no Piauí e a mineração e uma já bem fortalecida industrialização. A fruticultura irrigada promete muito.

Contra o Nordeste ainda pesa o problema das secas cíclicas. Mas, é muito importante que se atente para este fato: Não é esse fenômeno natural e, por conseguinte, inevitável, que é o principal responsável pela pobreza do Nordeste. Se água significasse riqueza, na Amazônia não existiria pobres. O problema é que querem praticar a pecuária na região como se estivéssemos nos pampas gaúchos ou argentinos. Também: Querem cultivar aqui como em regiões onde não há tão graves crises climáticas.

Políticas de combate às secas, portanto, é uma estupidez. Temos, sim, de ter políticas de convivência com elas. As estiagens podem, aliás, ser uma grande aliada do produtor, porque o suprimento de água permite que seja controlável.

Vejamos o que diz Leandro Narloch:

“Não é porque coronéis exploram os miseráveis, mas o contrário: os ricos nordestinos exploram pouco a mão-de-obra barata que têm ao redor.

Choveu demais, rios encheram, cidades foram embora com a correnteza e todos voltaram a falar da miséria do Nordeste. Na TV, o Arnaldo Jabor contou sobre uma viagem recente a Alagoas – “parecia um deserto vermelho de barro, pontilhado de miseráveis vilarejos” onde perambulavam “vassalos do feudalismo nordestino”, “laranjas das oligarquias”. Há um sentimento geral de que a pobreza nordestina é fruto da exploração de coronéis e latifundiários que não dividem suas terras, pagam salários miseráveis e mandam na política metendo o cacete nos fracos e oprimidos. Eu gostaria de defender o contrário. O Nordeste é pobre não porque ricos exploram a miséria, e sim porque exploram pouco a mão-de-obra barata que têm ao seu redor. Vejam o caso da explosão da fruticultura. Até os anos 90, só havia no sertão nordestino plantações centenárias de cana-de-açúcar e algodão, além de roças de subsistência daqueles que não tinham migrado para o Sudeste. De repente, multinacionais e agricultores resolveram aproveitar o preço barato das terras e da mão-de-obra, a alta insolação (que provoca mais safras por ano) e a baixa umidade (menos pragas). No fim dos anos 80, enquanto sertanejos abandonavam seus casebres e se mudavam para São Paulo, 150 famílias do interior de São Paulo e do norte do Paraná, descendentes de japoneses, foram montar roças irrigadas perto do Rio São Francisco. Um desses migrantes, Mamuro Yamamoto, virou de cara o maior produtor de uvas e amora do Nordeste. Vinícolas gaúchas logo estabeleceram filiais por lá. Hoje o sertão não tem só bons vinhos como produz, segundo o Embrapa, 95% das uvas de exportação do país. De todas as frutas frescas que o Brasil exporta, 80% vem de lá. Na Paraíba, em Sergipe e na Bahia, agroindústrias fizeram a região peitar São Paulo na produção de suco de laranja. A fruticultura é uma das áreas que mais geram empregos formais – só em 2005, 245 mil pessoas conseguiram emprego nas agroindústrias nordestinas.

O mesmo fenômeno começa a acontecer nas indústrias. O investimento de grandes empresas faz alguns estados terem um crescimento chinês. Os empregos industriais no Ceará aumentaram 8,9% em um ano. A renda de Pernambuco cresceu quase 10% de 2009 para cá. Com números assim, a participação do Nordeste no PIB do Brasil vai aos poucos aumentando – e a região caminha para deixar de ser um estorvo para o país.

Quando os “ricos e poderosos” do Nordeste viram políticos da indústria da seca, eleitos à base de caminhões pipa e do bolsa-família, deixam de ganhar dinheiro. E ainda mantém uma miséria que deveria migrar rumo aos empregos (como acontece nos EUA, país não vê problemas em ter cidades-fantasmas). Para a miséria do Nordeste se resolver, os coronéis, os latifundiários, os nordestinos de classe média precisam ser mais capitalistas, mais gananciosos. Só assim vão parar de ver seus pobres migrar para o Sudeste em busca de ricos que os explorem de verdade.

(http://guiapoliticamenteincorreto.wordpress.com/2010/07/05/nordeste/)

A secas só constituem um problema para os que vivem no Polígono das Secas porque ainda não sabemos conviver com elas.

Em 1989, houve uma mudança na forma de se governar o país. Um punhado de militares resolveram derrubar a Monarquia, considerada pelos positivistas, por muitos militares e alguns civis como sendo o grande empecilho ao desenvolvimento do Brasil , e instalaram a República, tida como o regime político da modernidade, do pregresso, da ordem e do desenvolvimento.

Depois do período militar da República (República da Espada:1989-1994), vem a República Velha. Na República do “Café com Leite”, o grande produto de exportação brasileira foi o café, plantado em terras do Rio de Janeiro e São Paulo. Os barões do café foram os grandes beneficiados pelos presidentes desse período. Só tinham lucros, mesmo que houvesse crises internacionais na venda desse produto. Tais presidentes compravam o café e o armazenavam, para ser vendido em épocas mais favoráveis. Para isso, fazia empréstimos ao bancos internacionais. Se o café alcançasse uma boa cotação, tudo bem, bom para o governo e para os cafeicultores. Do contrário, para os barões do café nenhum prejuízo havia. Se o café não fosse todo vendido pelo preço que esperavam, o restante era queimado. O que não podia era haver excesso de café no mercado. E os prejuízos quem pagava? Estava na cara: Os nordestinos. Os lucros do café ficavam com os barões, mas, em havendo perdas, estas eram devidamente "democratizadas" com o restante da nação. O Sul estava apenas iniciando seu povoamento. O Centro-Oeste e o Norte eram grandes vazios demográficos. A região Nordeste era onde vivia a maior parte da população brasileira, portanto, era quem pagava a conta das barbaridades perpetradas pelos presidentes da República Velha.

Quando, em 1929, houve a crise mundial do capitalismo, e o café saiu de cena, os capitais antes investidos nele foram transferidos para a indústria. O Sudeste assume a “pole position” na nascente industrialização e o Nordeste fica no "Grid de largada", consumindo o que o Sudeste produzia e fornecendo-lhe matérias-primas e mão-de-obra baratas. No Sudeste havia um fator de atração, o trabalho nas indústrias; no Nordeste, um de expulsão, as constantes secas. Criou-se uma espécie de imperialismo interno: O Sudeste era a metrópole; o Nordeste, a colônia. Ainda há dúvidas de quais foram as causas da grande defasagem do Nordeste em relação ao Sudeste?

Pedro Cordeiro
Enviado por Pedro Cordeiro em 15/03/2013
Reeditado em 15/03/2013
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