A CORRUPÇÃO ENDÊMICA

Continuo entendendo que a melhor ditadura ainda traz mais malefícios históricos do que a pior democracia... Para vir a se recompor o estado de coisas anterior à ditadura de 64 (a mais recente no Brasil) necessitaremos mais de 50 anos de reaprendizagem do exercício dos direitos individuais. Os sociólogos políticos afirmam quase unanimemente que o lapso é maior que o dobro da duração do período da exceção... 1964/1988 = 24 anos. Portanto, o dobro são 48 anos... Estamos no decorrer do prazo – aos 24 anos de reconstrução democrática – e percebo que adquirimos significativos avanços, especialmente quanto a idosos, crianças e adolescentes, direitos do consumidor, proteção à mulher e negritude, direitos de gênero e de opção sexual, direito de reunião e de opinião e a afirmação progressiva de direitos civis e políticos, na medida em que voltamos a exercitá-los e recebem a confirmação dos acórdãos judiciários, etc. Resta vencer a venalidade endêmica em todos os níveis públicos e privados: corruptos e corruptores. É oportuno atentar, no atual momento histórico – no qual se discute a morte de 239 jovens mortos e outros tantos feridos, em consequência do incêndio na boate Kiss, em Santa Maria, no Rio Grande do Sul – a denúncia televisiva (durante o Jornal Nacional) sobre o valor da propina para a expedição dos alvarás de licença para o funcionamento de estabelecimentos de diversão pública, a serem fornecidos pela prefeitura de São Paulo... Aos olhos e ouvidos estarrecidos do país, sem aparecer o rosto, visto o temor da represália, alguns proprietários de casas noturnas declaram que o suborno varia de vinte a trinta mil reais. Ainda há tempo para que caminhemos para a maioridade democrática sob todos os ângulos. Lutemos para vencer o mal pela raiz...

– Do livro A FABRICAÇÃO DO REAL, 2013.

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