JARI CELULOSE: PARÁ É A SOLUÇÃO MAIS COERENTE

Os políticos sempre se preocuparam com a Jari;

minha indagação, porém, é: quando é que eles passarão a se preocupar com o Jari?

Sem generalizar, a quem os políticos pensam que enganam com essa farsa exaustivamente ensaiada e repetidamente apresentada, mudando uma ou outra peça do cenário e alguns atores?

Apenas a título de informação, o governo brasileiro deixou de estatizar o império amazônico de Ludwig quando, em 1982, assumiu a dívida de 200 milhões de dólares – valor que o americano devia ao estaleiro Ishikawajima pela construção e transporte da fábrica e da usina de energia do Japão ao Jari. Ao invés disso, arcou com o prejuízo em troca da nacionalização do projeto. Isso foi apenas o começo de um ciclo vicioso que, hoje, mostra sua face mais nefasta: o uso de operários e suas famílias indefesas como, por um lado, moeda de troca para conseguir dinheiro e outras vantagens do poder público e, por outro, cortina para escudar políticos oportunistas e, ao mesmo tempo, a melhor estratégia para arrancar dessas pessoas o que estes consideram o único bem verdadeiramente valioso que elas possuem: o voto.

Talvez exista – eu, porém, desconheço – no Brasil outro caso em que um Estado [Pará] tenha a obrigação de gerar emprego para os habitantes do Estado limítrofe [Amapá]. Mais desconhecido e mais estranho ainda pra mim é o empenho de políticos deste Estado para, a qualquer custo, salvar um empreendimento privado naquele sob a suposta nobre alegação de garantir a sobrevivência de sua desamparada e indefesa população.

Já que os governantes (tanto do Pará quanto do Amapá) estão tão preocupados com a plebe jarilense e imbuídos das mais nobres e humanitárias aspirações, por quê não resolvem de vez a questão da grilagem das terras que a empresa alega serem suas, enquanto esses mesmos governantes contestam tal propriedade? Por que fecham os olhos e os ouvidos para o fato de pequenos agricultores serem expulsos de seus feudos e milhares de plantações serem destruídas numa região onde até o cheiro-verde é importado?

Se os governantes amapaenses estão tão preocupados com Laranjal e Vitória do Jari, por quê não fazem valer as tais compensações pelo confisco das terras do Estado para a criação do big Parque do Tumucumaque? Que culpa tem o Pará (e a Jari, principalmente) se os governantes amapaenses jamais tiveram a coragem e a decência de enfrentar o Governo Federal e às pressões de grupos internacionais ante sua megalomania conservacionista e exigirem formas alternativas de desenvolvimento econômico para o seu povo?

A quem, de fato, tais políticos estão tentando defender: os desfavorecidos que aqui residem e, à custa da mais-valia, mantêm, anos a fio, o império capitalista da celulose e outras formas talvez mais rentáveis de exploração da floresta rica ou a si mesmos e sua mesquinha obsessão de perpetuidade no poder, uma vez que cessado pra sempre o terror do desemprego em massa – com o fechamento definitivo da fábrica, por exemplo – estes terão que maquinar outras formas, quem sabe mais engenhosas, de manter seus currais eleitorais?

Enquanto isso, a solução mais coerente para os problemas da Jari é o Pará; ou seja, embora ela alegue possuir terras em solo amapaense e a sua massa trabalhadora resida neste Estado, o mais óbvio é que seus intermediários principais sejam os governantes paraenses, a menos que entre os interesses tanto da Jari quanto dos políticos amapaenses haja mais mistérios do que pode supor nossa casta crença tupiniquim.