OS CISMADORES ESTÃO CHEGANDO
                                      Sérgio Martins Pandolfo*
    
      I
nicial esclarecimento: o substantivo cisma (lat.schisma='cisão') quando masculino significa dissidência, separação; se feminino, devaneio, divagação. Trataremos sobre os do primeiro grupo.
      O grande Jorge Ben Jor, em uma de suas emblemáticas canções, “Os alquimistas estão chegando”, em primorosos versos legou-nos alguns ensinamentos basilares, tais: Eles são discretos e silenciosos (...). São pacientes, assíduos e perseverantes”. Pois aí é que mora o perigo! Ameaça que muitos não veem, inda menos anteveem.
      Estamos de novo a ser acossados por mais uma investida de cismáticos, alguns já bem manjados, inocentes úteis outros, que tentam nos arrebanhar um pedaço de nosso torrão parauara, mantido até aqui a duríssimas penas. O filão pretendido desta vez é nada menos que o nosso transido arquipélago do Marajó, de riquezas mil e belezas tantas, para não falar dos liames históricos que nos ajuntam. Alegam estar o complexo insular abandonado à própria sorte, empobrecido e vitimado por alto nível de violência, inclusive contra a mulher, induzindo-as à prostituição. Por isso que estão a pleitear a federalização do arquipélago.
      Há aí uma série de meias verdades, e meias verdades são, por óbvias razões, também meias mentiras. O Marajó está empobrecido como o está, de resto, toda a Região Norte deste “patropi”, eis que temos sido tratados como mera despensa do restante da Nação que de nós só se lembra quando falta pão e “não vêm cá buscar nosso bem. Vêm cá buscar nossos bens", como já recadejava ao rei o Pe. Antônio Vieira ainda no já alonjado século XVII. Já aqui aludimos ao fato de só agora, quando a Copa do Rio está à porta, é que parte da energia da UHE de Tucuruí está sendo levada para Manaus, a fim de prevenir apagões. A solução apontada é de uma insubsistência tal que chega a ser ingênua. Os mais vividos, que já viraram a sexta década, lembram-se perfeitamente da nenhuma melhoria trazida pela criação dos Territórios Federais, que cursaram em marcha lenta todo o período de sua inoperosa vigência e só após virarem estados é que passaram a ter algum crescimento. Por estar mais perto de nós e ter sido retalhado desta nortenha parauaralândia, aponte-se o que sucedeu ao Amapá: somente após a implantação da Zona Franca é que passou a apresentar certo cariz desenvolvimentista.
      Violência é hoje uma universalidade nacional: basta ver, “todo santo dia”, o noticiário televisivo que recrudesce e embrutece máxime nos estados de S. Paulo e Rio e no Distrito Federal, os mais aquinhoados, ressalte-se, com verbas federais, com as cracolândias efervescendo e se diversificando e a prostituição campeando, a culminar com o tráfico sexual de mulheres – e de homens! – para o estrangeiro. Veja-se a luta que se está a travar, sem convincentes avanços, para “pacificar” os morros cariocas, a fim de não espantar os esperados turistas copistas. O entorno de Brasília foi considerado, recentemente, o território mais violento do País. Como então querer que nosso tão decantado arquipélago de repente passasse a ser uma ilha de bonomia e fortuna? Seria mesmo de celebrar, não fora de lastimar!
      Transformar o Marajó em Território Federal seria repetir erro já parido e consabido. O que permite o maior ou menor nível de desenvolvimento de uma unidade federativa ou de um município estaduano é a escolha correta, criteriosa de seus representantes, que possam reivindicar de forma continuada e eficaz recursos para as áreas que representam e, principalmente, a gestão honesta e judiciosa dos recursos obtidos que são, pelo geral, insubsistentes.   Não é isso que temos visto em relação às administrações municipais marajoaras que estão, com inquietante assiduidade, nas páginas dos jornais por desvios e malversação dos parcos recursos auferidos. Isso é que deve ser mudado, sem detença e sem tardança.

Nota: Na foto acima uma das maiores riquezas marajoaras, o búfalo. O Marajó tem o maior rebanho de bubalinos do Brasil. Na ilha os búfalos são usados para quase tudo, até mesmo como transporte.
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Médico e escritor. ABRAMES/SOBRAMES
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Sérgio Pandolfo
Enviado por Sérgio Pandolfo em 02/11/2012
Reeditado em 02/11/2012
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