República dos bananas

Antigamente, o termo “república das bananas” era utilizado para definir pequenos países, em geral latino-americanos, sem estabilidade política e com grande dependência do capital externo, nos quais as plantações de banana eram abundantes. Embora não se ouça mais falar nessa expressão com grande freqüência hoje em dia, o Brasil já foi considerado uma república das bananas.

Outro dia, feliz por não ser mais considerado um “bananense”, fui ao supermercado comprar alguns itens de primeira necessidade e, ao esperar na fila do caixa, ouvi o dono do estabelecimento perguntar ao cliente que estava sendo atendido:

- Você quer nota fiscal?

O cliente, benevolente, respondeu:

- Que nada! Não vamos engordar ainda mais o bolo que serve à corrupção!

Não consegui ver o rosto desse cliente, mas, ao sair do supermercado, percebi que ele ia na minha frente, conversando com um conhecido seu, que lhe perguntou:

- Então! Você viu o caso daquela empresa de concursos públicos que foi acusada de fraude no certame de uma prefeitura aqui perto? Os caras estão impedidos de contratar com o Poder Público.

Ele então respondeu:

- Fazer o quê? Isso acontece o tempo todo. Não vai dar em nada mesmo. Daqui a pouco eles estarão por aí novamente, participando de outras fraudes.

O amigo continua:

- E o julgamento do mensalão, que rolo não é mesmo?

E o sujeito do supermercado se manifesta:

- Pois é! Aqui é assim mesmo: tudo acaba em pizza (quem sabe, pizza de banana). Não adianta nem esquentar a cabeça.

Continuei caminhando atrás do sujeito e nos aproximamos do semáforo, o qual estava com aquele bonequinho, que define o momento em que podemos atravessar a rua, na cor vermelha. O homem olhou para esquerda, para a direita e, vendo que dava tempo de atravessar a rua, apertou o passou e cruzou, quase sendo atropelado por um veículo cujo motorista, indignado, buzinou e xingou o pedestre.

Diante de todos esses acontecimentos, tive vontade de olhar nos olhos daquele sujeito a quem eu observava desde o supermercado, para dizer-lhe que ele não passava de um cúmplice da sonegação fiscal, que ele era conivente e passivo com a corrupção que varre o país e que ele deveria respeitar mais os sinais de trânsito. Queria encará-lo e dizer bem de perto que a falta de vergonha que assola a classe política do Brasil existe, porque bananas como ele não reagem às irregularidades e às vezes até se beneficiam com tudo isso.

Corri, consegui alcançá-lo e pus a mão sobre seu ombro, para fazer com que virasse para mim e que eu pudesse ver seu rosto, para dizer-lhe umas verdades.

Ao sentir meu toque em seus ombros o sujeito parou e calmamente virou-se para mim.

Ao ver seu rosto, suei frio! O susto foi enorme! Faltou-me o ar.

O sujeito a quem eu queria dar lições de moral, aquele corrupto passivo, cúmplice da sonegação fiscal, indiferente às regras de trânsito, aquele infame cidadão banana que eu segui, tinha o meu rosto.

Acordei! Ufa! Era só um sonho.

Então refleti e cheguei a conclusão que o Brasil está chegando muito próximo ao ápice da banalização da corrupção. As fraudes, os crimes sem castigo, os desvios de recursos públicos, o desrespeito às leis estão tão presentes em nosso cotidiano, que já nos parece tudo normal. Anestesiados pelo imediatismo e pelo consumismo que caracteriza a sociedade pós-moderna, seguimos através dessa era da informação. Mas continuamos sem ação. Criticamos, mas não reagimos. Enxergamos, mas não denunciamos. Somos contra, mas não lutamos contra.

Bananas!

É o que somos.

Poucas são as pessoas que se organizam e efetivamente agem contra tudo que condenam.

Logo, temos que mudar aquela expressão que nos rotulava de “república das bananas” e transformá-la em “república dos bananas”: sujeitos sem consciência de seus direitos, deveres e de sua força, constitucionalmente garantida no artigo que diz que “todo poder emana do povo”.

Mas insisto, como bananense inconformado, que o caminho não é bem esse. Ou, pelo menos, não deveria ser...

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