QUESTÕES RACIAIS

Biologicamente existe apenas uma raça humana. Portanto, num sentido científico, os cidadãos brasileiros, como seres humanos, são monoraciais. Claro, isto não desfaz a percepção popular, e pseudocientífica, da multiracialidade brasileira. Aqui não quero discutir a conveniência ou inconveniência da compreensão racial brasileira. Quando se trata de questões raciais, todos entendem de que se trata.

Talvez, por causa da política nazista da superioridade racial ariana, durante algumas décadas era tabu falar de questões raciais. Até se propôs substituir “raça” por “etnia”. Num sentido linguístico, no entanto, o conceito “etnia” é menos desafiador e polêmico do que o conceito “raça”.

No Brasil atual, com as leis antiracistas e as cotas raciais no ensino superior, levantou-se o tapete que ocultava o “problema racial” em nosso país. A grande pergunta é: estamos frente a uma “questão racial” ou uma “questão social”? Promover uma política racial ou étnica pode ser perigoso. A Comunidade Europeia está em constante alerta frente aos movimentos étnicos e raciais. Sabe que os preconceitos étnicos representam um perigo para a União dos povos europeus. Dali a advertência de que incentivos raciais e étnicos podem ter consequências contrárias ao que se pretende. Visa-se a paz racial e étnica, mas, em vez disto, pode-se estar estimulando o ódio racial e étnico.

Não há dúvida de que a maioria dos excluídos no Brasil se encontra entre os afrodescendentes. Mas há também, principalmente em cidades no Sul do Brasil, moradores de barracos com pele clara e olhos azuis. Estes não mereceriam igualmente a atenção do Governo com políticas afirmativas? Políticas raciais e étnicas são um retrocesso civilizatório. Pois, está amplamente demonstrado que não existem raças superiores. Tudo é uma questão de oportunidades.

Por isto, em vez de cotas para afrodescendentes, indígenas e economicamente despossuídos, que haja “cotas” para as escolas que estes cidadãos frequentam. Que haja políticas sociais afirmativas. Que estas populações possam morar em ambientes urbanizados, em casas decentes, com alimentação saudável, com saneamento, condições de trabalho sem exploração, com acesso a escolas de qualidade. Que as crianças e jovens recebam os apoios para se poderem manter nas escolas. Se isto acontecesse não precisaríamos cotas com cor. Negros, pardos, índios e pobres não são menos inteligentes do que qualquer “patricinho” deste imenso Brasil.

Inácio Strieder é professor de filosofia - Recife-PE