SOBRE PESQUISAS PRÉ-ELEITORAIS
Sérgio Martins Pandolfo*Alusivamente à realização de pesquisas pré-eleitorais temos posição firmada há tempo: somos categoricamente contra a feitura de tais escrutínios com sequente divulgação pela mídia, pela observação do comportamento do eleitorado em função dos sucessivos resultados publicados. A dança no posicionamento dos candidatos se faz alterar, sem ponta de dúvida, a partir de cada publicação, sem que um embasamento forte se faça visível ou plausível, i.é, os números anunciados influem, induvidosamente, na colocação dos concorrentes. Enquete realizada pelo Tudo Global (09/2010) sobre o tema “O que você acha das Pesquisas Eleitorais?”, 41% das pessoas participantes asseveraram que tais pesquisas “são “manipuladas”; para 13% “não merecem confiança”; 9% disseram: “estão desmoralizadas” e 28% afiançaram nunca ter sido entrevistadas. Apenas 9% consideram as pesquisas “confiáveis”. Em nossa opinião as pesquisa, para além de manipuladas, manipulam a opinião dos futuros votantes. E o manejo ou “arranjo” dos resultados se faz nas consultas mais precoces, o que pode influenciar irremissivelmente os números finais do pleito.
Defendemos a realização das pesquisas, contratadas pelos partidos políticos, mas sem a divulgação midiática dos resultados, i. é, apenas para efeito de aferição interna do desempenho de seus candidatos. Temos visto consultas realizadas por “institutos” diferentes para um mesmo concurso eleitoral, na mesma oportunidade, com resultados muito diferentes, discrepantes até. Ora, pesquisas de opinião pública são, ou deveriam ser, realizadas seguindo princípios estatísticos rigorosamente assentados e fórmulas próprias de cálculo da ciência atuarial. Assim, a margem de erro, para mais ou para menos, há que ser pequena (1/2 pts.); não pode ser, como temos visto, muito elástica (4/5 pts.), pois isso pode ensejar raciocínios estapafúrdios, tal: um candidato que esteja em segundo lugar com 12% das intenções de voto e um outro, na quinta posição, com 7% de preferência dos votantes estarão, a rigor, empatados tecnicamente, se a margem de erro for de três pts., eis que o que tem 12% poder-se-á considerar como passível de receber apenas 9% das intenções se aplicarmos a margem como defletor e o que mostrou pela apuração 7% das intenções com possibilidade de chegar aos 10%, aplicando para cima a margem de erro.
Divulgadas as cifras percentuais apuradas pelas consultas, os eleitores dificilmente permanecerão dispostos a sufragar o nome do candidato de sua preferência e escolha volitiva se esse estiver com baixa percentagem, passando a fixar-se num outro com mais elevada posição no ranque, quase sempre contraposto àquele que ele não deseja ver eleito, conquanto não seja o de sua predileção. Atitude assaz adotada pelos eleitores “patropianos” é a de trocar seu candidato preferencial por outro que as pesquisas apontam como possível ganhador do pleito, com a surrada inquinação de que votará no mais bem posicionado para “não estragar seu voto”, o que configura total falta de conscientização política e exercício de cidadania; para tal eleitor qualquer um serve, pois no fundo “nenhum candidato presta”, como alegado quase sempre, a modo de justificativa, i. é, ele vê o pleito como se fora um jogo no qual não quer perder. Não é de estranhar, assim, que passado algum tempo esse eleitor não saiba, ou não lembre, em quem votou.
Outro problema a basto observável e intimamente ligado à divulgação das pesquisas é a radical mudança nos programas de campanha do horário eleitoral gratuito radiotelevisiva após a divulgação das pesquisas. Via de regra, em vez de utilizarem o precioso tempo para exposição de seus projetos, passam a chumbar o candidato mais bem posicionado, muitas vezes de forma não tão ética ou honesta, o que acaba por subtrair-lhe parte do horário para abrigar “direito de defesa” do concorrente atingido por aleivosias a ele imputadas.
-------------------------------------------------------------------
*Médico e escritor. ABRAMES/SOBRAMES
www.sergiopandolfo.com