Agora os Candidatos Pedem Votos Pelo Telefone

Por mais incrível que possa parecer, os candidatos agora ligam para a casa das pessoas para pedir votos. Considerando-se que eles já têm os programas gratuitos de rádio e da televisão, compram espaços em jornais, deveriam se contentar com esses meios de comunicação de massa. Sem falar dos santinhos que entopem os bueiros das ruas por onde passamos.

Se aqui em casa houvesse tantos eleitores quanto os folhetos que são despejados na entrada do portão, ainda se justificava tantas propagandas de candidatos. Parodiando a propaganda do ar condicionado que mostra o gato reclamando do calor, dá para falar também: Helooouôôô! Alguém aí pode me ouvir? Ou melhor, alguém tem que fazer alguma coisa nesta casa.

Bem, nesta casa nós fazemos. Alguém precisa fazer alguma coisa nesta cidade. Na sua cidade. No nosso país. Pois dá para imaginar que o país inteiro esteja num consumo exagerado de papéis para imprimir folhetos, santinhos, cartazes e outros impressos. Sabemos que os donos de gráficas estão rindo à toa. Os empregados nem sempre não, porque trabalham em troca do mesmo salário de sempre. Sem direito a horas extras.

O curioso disso tudo é que dias atrás um homem me disse que os políticos do Brasil ganham pouco. Tão pouco, segundo ele, que quase ninguém quer ocupar esses cargos. De início, pensei que ele estivesse de brincadeira – como diz o Neto, comentarista de futebol, da Band.

Mas logo descobri que ele falava a verdade. Isto é, pensava que falava a verdade. Mas, para mim?

Afinal, se políticos ganhassem pouco de onde viria tanto interesse em ocupar um cargo público. E mais: de onde vem tanto dinheiro que gastam com panfletos, propagandas no rádio, na TV e noutros veículos de comunicação. Ah, por falar em veículos, tem as propagandas nos carros também. Para você ter uma ideia, interrompi este artigo porque o rapaz do correio gritou lá fora e eu fui atender. Adivinha o que encontrei na rampa?

Escrevo rampa porque aqui em casa não tem escada, mas sim uma rampa íngreme que vem do portão. A casa em que moro é a prova de bêbado. Pois se o coitado entrasse aqui à caráter viria parar aqui em baixo, rolando pelo chão, claro. Mas, adivinha o que encontrei na rampa: dezenas de santinhos de candidatos que nunca vi. Coleta desta manhã, porque a de ontem à tarde rendeu dois jornais e mais umas dezenas de impressos.

Os jornais são vendidos em bancas, mas acredito que esta semana estão vindo de graça, porque são bancados pelos políticos. Ou seja, estão recheados de propagandas e ainda enriquecidos com encartes. Mas, durante esta semana também, que o circo fecha porque está na hora de recolher a lona e ir embora, pipocam ligações telefônicas.

Sim. O telefone toca e nós atendemos. Brota uma mensagem rápida de alguém que grava sabendo que o ouvinte não tem tempo de ouvir muitas palavras. Aliás, acho que de tão acostumados a falar no minuto que tem nos programas da TV, os políticos aprendem a ser breves no telefone. Ou talvez seja porque esse tipo de propaganda seja mais caro do que os outros.

Claro que o lucro todo vai para as operadoras de telefones. Aos consumidores resta o ato de atender, detectar a origem da ligação – aqui em casa não existe bina nem outro detector de chamada –, e em seguida desligar o telefone. Mas, você pode se irritar: Está reclamando por quê? Porque alguém tem de fazer alguma coisa. Alguém tem de tomar alguma providencia. Afinal, deixamos de atender ligações telefônicas. Porém, cobramos o direito que temos de atendê-las. Isto porque somos nós quem pagamos a conta.

A vizinha da direita chegou agora em casa e reclamou:

- Jogaram mais papéis aqui na escada. – A casa dela tem escadas.

- Povo bobo – risos – continuou ela. – Esse povo não tem o que fazer e fica jogando papéis na casa dos outros.

Lembrando-lhe que ontem à noite ela lavou a escada inteira, reclamando dos papéis que grudam no chão.

Essa mania doentia tem de acabar. Não sabemos quando, mas tem!

P.S.: Escrevo este desabafo como um náufrago que coloca uma mensagem dentro de uma garrafa, esperando que um dia lhe chegue a resposta.