IMENSALÃO
Sérgio Martins Pandolfo* “Há quem chegue às maiores alturas só para cometerem as maiores baixezas”.
Essa frase, que ouvimos saída da boca do ministro Ayres Britto, do Supremo Tribunal Federal (STF), diz bem e à inteireza, da imensidão das malfeituras cometidas pelos quase 40 réus - que foram de alvos colarinhos a encardidas cuecas -, deste que já é o maior julgamento de “eminências” em nosso pernil varonil.
Nunca na história “desse” País viu-se algo de tamanha hediondez política e malversação de bens públicos como as que se assiste agora, no julgamento do “mensalão”, cometidas, em sua grande maioria, exatamente pelo partido que bazofiava com o lema “ética na política”, o Partido dos Trabalhadores, e alguns outros integrantes da chamada base aliada. Aliada pela vontade insopitável de auferir lucros milionários em benefício próprio. E isso, avivente-se, logo à instauração da subida dos “trabalhadores” ao pódio da administração federal. Já vai, portanto, para quase uma década, o início das ações dessa desastrada e desastrosa comandita, capitaneada por uma figura que virou lenda, sinônimo de desfaçatez, autoritarismo e improbidade, o à época todo-poderoso José Dirceu, que vivia a apregoar que a administração “dos trabalhadores” não “roba” nem deixa “robá”. Imagina se deixasse! Pois foi aí que nasceu e floresceu uma quadrilha de dimensões e perniciosidade equivalentes às descritas no conto de Ali Babá e os 40 ladrões, do ”Livro das mil e uma noites”.
Mas nem tudo parece estar perdido, eis que o Supremo nos tem dado mostras de que o crime de fato não compensa e que todos são mesmo iguais perante a Lei, inda que com uma certa e já desencantante tardança. Sob a serena, mas resoluta e por isso confiável presidência do ministro Ayres Britto, o STF pôde ver “pacificada” a inicial desavença gerada com o inquietante bate-boca entre o ministro relator Joaquim Barbosa e o revisor Ricardo Lewandowski e a posição altamente incômoda do ministro Dias Toffoli, por sua histórica ligação com o Partido dos Trabalhadores e Zé Dirceu, capo di tutti capi.
Ayres Brito impressiona pela cordialidade, quase pacatez e discrição à toda prova no contacto com o público e com a imprensa, passando a sensação de absoluto controle das ações. Através dos votos dos demais juízes, o tribunal maior começa a nos dar indícios de que enfim vai ser feita a justiça e punidos os que se desviaram da correção administrativa e do bom gerenciamento dos dinheiros públicos. Fica uma certa preocupação quanto ao fato de que um dos mais conceituados, experientes e probos membros, Cezar Peluso, aposentado pela compulsória no dia 3 pp. desequilibra os pratos da balança apuratória, possibilitando empate entre votos condenatórios e absolvitórios e também porque dois outros igualmente respeitados e competentes membros do tribunal máximo serão igualmente atingidos pela compulsória: o próprio ministro presidente Ayres Britto e o decano do Supremo, Celso de Melo, causando uma certa expectativa e apreensão quanto a quem os substituirá. Se serve como consolo, Joaquim Barbosa, para felicidade geral da Nação, será o próximo presidente da Corte Suprema.
Neste julgamento, aliás, um dos magistrados de maior relevância e eficácia tem sido o meritíssimo Joaquim Barbosa, homem de origem humilde que atingiu o pináculo da carreira judicante pelo devotamento e aplicação aos estudos, à progressão permanente, pelo denodo, pelo saber e, acima de tudo, pela honradez e comportamento ilibado. E sem o usufruto de quotas.
Até aqui, somente um dos réus, Luís Gushiken, foi absolvido, por falta de provas. Após seis sessões o STF condenou por maioria de votos cinco réus, incluindo o deputado João Paulo Cunha. Gestão fraudulenta da cúpula do Banco Rural fê-la embarcar no mesmo “gaiola”.
Confirma-se, assim, a máxima contida nos significativos versos do parauara Billy Blanco: “O que dá pra rir dá pra chorar, questão só de peso e de medida”.
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*Médico e escritor – ABRAMES/SOBRAMES
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